Por Luiz Carlos Azedo
luizazedo.df@dabr.com.br
Ao contrário da briga do “algodão”, que o Brasil sustentou anos a fio e ganhou dos Estados Unidos na Organização Mundial de Comércio (OMC), o novo contencioso com os norte-americanos, por causa do acordo com o Irã, tem forte conteúdo ideológico. Virou um dos temas das eleições presidenciais de 2010 e levou para o centro do debate político um assunto que era monopólio de diplomatas, militares e especialistas: a política externa.
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Até agora, fracassaram todas as tentativas de associar a imagem do presidente Lula à do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e sua “revolução bolivariana”. Para o mundo (nós por eles), o presidente Lula é o líder metalúrgico que virou estadista, manteve a economia do país num rumo de prosperidade e combateu com eficiência a fome e a miséria. Seus índices de aprovação nas pesquisas de opinião corroboram a imagem internacional.
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A retórica da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, contra o governo brasileiro e a divulgação da carta do presidente Barack Obama para o presidente Lula — que foi vazada para a imprensa — levaram as divergências entre o Brasil e os Estados Unidos a um novo patamar. A posição brasileira evoluiu da neutralidade no confronto Ocidente versus Oriente (que cimentou as relações de amizade do presidente Lula com o ex-presidente George Bush, este sim o senhor da guerra) para um antiamericanismo exumado da agenda tradicional da esquerda brasileira (eles por nós).
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A posição do Brasil a favor do diálogo com o Irã tem a simpatia mundial, mas internamente é outra história. Desde a proclamação da República, o americanismo, com as ideias liberais, sempre foi hegemônico na sociedade brasileira. O cidadão comum não entende o porquê de o presidente Lula comprar uma briga com Barack Obama por causa do Irã de Mahmoud Ahmadinejad, cujo nome não consegue nem pronunciar.
Protocolo//
Não convidem para a mesma mesa o chanceler Celso Amorim e seu antecessor Luiz Felipe Lampreia, que anda descendo o sarrafo na política externa brasileira. A precaução vale também para o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Barbosa e o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero. Amorim se queixa de que nunca a diplomacia brasileira foi tão torpedeada por gente do próprio Itamaraty.
Na mídia
Monitoramento feito diariamente pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República mostra que o Brasil só não teve apoio ao acordo assinado com o Irã (junto à Turquia) da imprensa inglesa, da alemã e da norte-americana, embora haja um desconto em relação à Costa Oeste, onde é menor a influência do lobby israelita. Na maioria dos países de Comunidade Europeia e da Ásia, a imprensa foi simpática à atuação do presidente Lula. Já no Brasil, o pau comeu.
E agora?
O acordo fechado por 189 países signatários do Tratado de Não Proliferação (TNP), em Nova York, sexta-feira, propondo um plano detalhado rumo ao desarmamento nuclear mundial e uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio, fez cair no vazio as críticas do presidente Lula às potências nucleares. EUA, Rússia, Reino Unido, França e China se comprometem a acelerar a redução de seu arsenal nuclear até 2014. Em contrapartida, o acordo favorece novo avanço das negociações do Conselho de Segurança da ONU com o Irã, que subscreveu o documento.
Baldeação
O prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, do PTB, rompeu com a candidatura ao governo do Amazonas do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR) e decidiu apoiar a reeleição do governador Omar Aziz (PMN), apoiado pelo ex-governador Eduardo Braga (PMDB) e pela deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB), candidatos ao Senado. A chapa enfrenta a de Nascimento.
Ciúmes
A bancada paulista do PPS ainda não digeriu a candidatura do presidente da sigla, Roberto Freire, a deputado federal por São Paulo. A ciumeira aumentou depois que a cúpula da legenda decidiu que Freire será o âncora da propaganda do PPS de rádio e de tevê. Amigo do governador de São Paulo, Alberto Goldman, e do candidato tucano à Presidência, José Serra, Freire pode ser o deputado mais votado da legenda.
Privatização
O antigo Banco do Estado do Rio de Janeiro (Berj) — não confundir com o Banerj da antiga Guanabara, comprado pelo Itaú — será leiloado amanhã, às 10h, no prédio da antiga Bolsa de Valores do Rio. O lance mínimo é de R$ 513 milhões
Procura-se
Jarbas Vasconcelos (PMDB), candidato a governador de Pernambuco, ainda não conseguiu fechar sua chapa de candidatos ao Senado. O único nome garantido é o de Marco Maciel (DEM), que concorre à reeleição. Os deputados federais Raul Jungmann (PPS), Bruno Rodrigues (PSDB) e Bruno Araújo (PSDB) continuam sendo os mais cotados para a tarefa. Os três, no entanto, refugam.
Embolou/ O ex-prefeito de Teresina Sílvio Mendes (PSDB), o governador Wilson Martins (PSB) e o senador João Vicente Claudino (PTB) estão embolados na disputa pelo governo do Piauí. Heráclito Fortes (DEM) e Mão Santa (PSC), candidatos à reeleição, lideram a disputa pelo Senado.
Estrela/ Para acomodá-lo na chapa de deputado federal, depois de perder a vaga de senador, o PT resolveu dar espaço privilegiado ao ex-prefeito do Recife João Paulo nas peças publicitárias do PT que vão ao ar em Pernambuco a partir do próximo mês. Terá direito a cinco inserções, como seu sucessor na prefeitura, João da Costa. Candidato ao Senado, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa terá 10 inserções.
Telhado/ O ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge, que participou de todas as campanhas tucanas desde a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994, está fora do comando da campanha do ex-governador José Serra (PSDB). É dono de um arsenal de dossiês contra o PT.
Um comentário:
Os EUA sabotam a paz
O acordo com o Irã é uma vitória histórica da diplomacia brasileira, quaisquer que sejam seus desdobramentos. A mídia oposicionista sempre repetirá os jargões colonizados de sua antiga revolta contra o destaque internacional de Lula.
O governo de Barack Obama atua nos bastidores para destruir essa conquista. É uma questão de prestígio pessoal para Obama e Hillary Clinton, que foram desafiados pela teimosia de Lula. Mas trata-se também de uma necessidade estratégica: num planeta multipolarizado e estável, com vários focos de influência, Washington perde poder. E a arrogante independência do brasileiro não pode se transformar num exemplo para que outros líderes regionais dispensem a tutela da Casa Branca.
Em outras palavras, a paz não interessa aos EUA. E, convenhamos, ninguém leva a sério os discursos pacifistas do maior agressor militar do planeta. Será fácil para os EUA bloquear a iniciativa brasileira, utilizando a submissão das potências aliadas na ONU ou atiçando os muitos radicais de variadas bandeiras, ávidos por um punhado de dólares. Mas alguma coisa rachou na hegemonia estadunidense, que já não era lá essas coisas.
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