Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos
O segundo turno é quase uma nova eleição. É o que dizem todos os candidatos que estão na cola do favorito. Estranho é quando o mais votado, que por pouco deixou de vencer no primeiro turno, começa a ver a segunda votação da mesma maneira que o adversário. É aí que mora o perigo.
Dilma Rousseff (PT) errou quando achou que a eleição estava ganha e puxou o freio de mão da campanha (restringiu gastos, agenda, entrevistas e debates), embalada por pesquisas favoráveis e pelo baluartismo do presidente Lula. José Serra (PSDB) comemora o segundo turno, mas sabe que foi cristianizado por aliados. Fez um programa eleitoral muito criticado e foi salvo da derrota no primeiro turno pela arrancada de Marina Silva (PV) na reta final.
Nos dois lados haverá mudanças na propaganda eleitoral, que hoje volta à tevê. Tanto Dilma quanto Serra correm o risco de se perderem ao estabelecer a estratégia de campanha do segundo turno. Essa volta ao horário eleitoral é semelhante ao retorno das naves espaciais à Terra. Se alguém pegar oângulo errado para entrar na atmosfera da eleição, corre o risco de se incinerar. Ou seja, quem errar na volta à tevê estará perdido.
Repeteco
O presidente Lula quer que o tema do pré-sal tenha espaço privilegiado na campanha de Dilma Rousseff no segundo turno. Avalia que a bandeira do "Petróleo é nosso", que levou o ex-ditador Getúlio Vargas de volta ao poder pelo voto popular, é mais atual do que nunca. Como os tucanos foram contra o regime de partilha, acredita que voltarão a defender o regime de concessão para a exploração do petróleo da camada pré-sal. O assunto é o mote para reviver o fantasma da privatização da Petrobras, que, na campanha de sua reeleição, levou o tucano Geraldo Alckmin para o canto do ringue. Só falta combinar com José Serra (PSDB).
Mapa
O ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PSB-CE) e o ex-ministro de Relações Institucionais Aldo Rebelo (PCdoB-SP), reeleito para a Câmara, fizeram um levantamento detalhado da situação dos aliados de Dilma nos estados. Há três categorias: quem está firme, quem vacila e quem já traiu. É a partir daí que pretendem articular a base governista para o segundo turno. O problemaé que o comando da campanha de Dilma continua nas mãos da troyka José Eduardo Dutra, Antônio Palocci e José Eduardo Cardozo. Eles controlam a campanha e se reúnem em separado para tomar decisões.
Cascudo
De nada adiantou a torcida do Palácio do Planalto para que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ, não se reelegesse. Homem forte da bancada do PMDB na Câmara, ao lado do líder Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), foi o quinto mais votado no Rio, com 150 mil votos. É o oráculo dos colegas que não conseguiram se reeleger nos estados onde o PT jogou pesado para aumentar sua bancada federal. E já articula a manutenção da Presidência da Câmara nas mãos do PMDB.
Duros de matar
Candidatos proporcionais, três desafetos do presidente Lula continuarão no comando da oposição. O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), que conseguiu se reeleger apesar da derrota do pai, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia; o presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (foto) que evitou um derrota catastrófica em Pernambuco ao disputar com sucesso uma vaga na Câmara; e o presidente do PPS, Roberto Freire (SP), que de última hora concorreu por São Paulo e se elegeu com 121 mil votos.
Alegria, alegria
O governador eleito no Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), brincou com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do partido. "Dispensei 22 urnas para não ficar atrás de você", disse. Campos, que obteve 82,84% dos votos, respondeu a Casagrande, que "só" conseguiu 82,30% na reeleição. "Se continuar assim, na próxima eleição você terá 102% e será cassado por fraude eleitora", brincou.
Macumba
É complicado misturar religião com política. Vejam o caso da religião iorubá, matriz dos cultos afrodescendentes no Brasil. É radicalmente contra o aborto, mas não tem preconceitos em relação aos homessexuais. No próximo dia 30, o sacerdote precursor da seita, o nigeriano Síkírù Sàlámè, que é doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), vem a Brasília para um seminário sobre a magia do Culto de Ifá.
Apoio / O ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB), terceiro colocado na disputa pelo governo de Alagoas, anunciou ontem seu apoio ao candidato do PDT, Ronaldo Lessa, que disputa o segundo turno com o governador Teotônio Vilela Filho (PSDB), candidato à reeleição.
Xerife / Ex-secretário de Segurança de Pernambuco e do Espírito Santo, o delegado federal Rodney Miranda (DEM) foi o mais votado para a Assembleia Legislativa capixaba, com 65 mil votos (3,4% do total). Cana dura, comandou a repressão ao crime organizado no estado.
Prejuízo / O tucano José Serra começa hoje, pela Bahia, sua maratona de visitas aos estados no segundo turno. Tenta reverter a vantagem de 2,5 milhões de votos que Dilma obteve entre os baianos.
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