Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonarddo Santos
É incrível. Dilma Rousseff (PT) continua a favorita na disputa pela Presidência da República, mas começa o segundo turno com cara de quem perdeu o primeiro, apesar de ter sido a mais votada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ofuscou a candidata oficial nos palanques, ainda não posou ao lado de sua presidenciável, como se o fato de Dilma não ter ganho no primeiro turno fosse um problema só da petista.
O PT trocou o salto alto pelas sandálias da humildade. Está na defensiva, ainda aturdido por um resultado que não estava programado. Faz a retomada da questão ambiental, um debate que havia sido sufocado por uma estratégia de desenvolvimento da Amazônia de autoria do ex-ministro de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, que atropelou a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Com apoio do presidente Lula, diga-se de passagem.
A autocrítica petista em busca dos votos perdidos no primeiro turno está no fio da navalha. Teses como o expurgo do programa da legenda de propostas históricas, como a legalização do aborto e do casamento gay (que não constam do programa de governo de Dilma) são a rendição ao conservadorismo evangélico.
Pegou
Boatos de que a candidata petista não acredita em Deus e é a favor do aborto e do casamento gay se espalharam entre os eleitores das periferias. A tarefa de correr atrás desses votos é o maior desafio do marqueteiro João Santana no segundo turno. Desfazer boatos é mais difícil do que recolher as penas de um travesseiro, dizia o jesuíta espanhol Baltasar Gracián y Morales.
Alerta
O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), semanas antes do pleito, alertou ao governo que os pastores da Igreja Batista estavam descarregando votos nacionalmente na presidenciável do PV. No estado, cerca de 30% da população é evangélica. Como se sabe, Marina Silva foi a candidata mais votada em Vitória, apesar de a capital capixaba ser administrada pelo petista João Coser.
Depois
Nove medidas provisórias e o projeto do Fundo Social (com inclusão do regime de partilha e distribuição de royalties da exploração de petróleo) aguardam votação na Câmara dos Deputados. Líderes partidários decidiram manter a Câmara em recesso durante o segundo turno. As votações somente serão realizadas em novembro. Os deputados ainda estão empenhados nas eleições.
Trailer
A Presidência da Câmara dos Deputados está nas mãos, informalmente, do vice-presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS). É que o presidente, Michel Temer (PMDB-SP), vice de Dilma, dedica-se integralmente à campanha presidencial. Como o regimento não permite o licenciamento do cargo, Temer optou por se afastar informalmente. Maia gostou: trabalha para desbancar o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e se eleger presidente da Câmara.
Reguffe
O candidato petista ao Governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, teve um encontro ontem com o deputado federal recém-eleito José Antônio Reguffe (PDT), que virou ícone da ética na política no DF. Pediu-lhe que assuma a linha de frente de sua campanha. Proporcionalmente, o jovem parlamentar foi o mais votado do país, com 266 mil votos (18%).
Tiririca
Congressistas defendiam ontem a eleição do palhaço Tiririca (PR-SP)para a Câmara dos Deputados. A avaliação é que a vitória do humorista representa uma forma de protesto de parte do eleitorado que está descrente com os políticos brasileiros. Mas a previsão é de que ele será apenas mais um político que cairá no anonimato depois dos primeiros meses.
Bancos
Continua a greve dos bancários, que hoje completa oito dias. Segundo o presidente do sindicato da categoria no Distrito Federal, Rodrigo Britto, em todo o país estão fechadas 6.527 agências
Filosofia / Clima de velório no Salão Verde da Câmara dos Deputados ontem. Amargavam o fracasso nas urnas os deputados José Genoino (PT-SP), Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), Arnaldo Madeira (PSDB-SP) e o líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA). O baiano chegou a declarar que os próximos quatro anos de sua vida serão dedicados à filosofia.
Aproximação / Na primeira sessão do Senado depois das eleições, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) rasgou elogios à ex-companheira de partido, Marina Silva, hoje no PV. O parlamentar lembrou os anos de luta e a sintonia que tinha com Marina, que tem sido cortejada tanto por PT quanto pelo PSDB neste segundo turno das eleições presidenciais.
Quente / A disputa para governador pega fogo nos seguintes estados: Rondônia, Roraima, Pará, Amapá, Piauí, Paraíba, Alagoas, Goiás e Distrito Federal.
Agradecido / O senador eleito pelo Distrito Federal Rodrigo Rollemberg (PSB) amanheceu na Rodoviária do Planto Piloto, ontem. Foi agradecer aos eleitores os 700 mil votos recebidos.
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