Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos
A petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra terão dificuldades para capturar os votos de Marina Silva de cima para baixo neste segundo turno. Primeiro, a ex-candidata do PV à Presidência terá dificuldades para tomar partido em favor de um dos dois presidenciáveis sem contrariar parcela considerável dos próprios eleitores. Segundo, qualquer que seja a posição da cúpula do PV, dificilmente a legenda marchará unida na base. Raciocínio semelhante serve para o voto de evangélicos e católicos que optaram por Marina na reta final da eleição.
Segundo as pesquisas de opinião - com o devido desconto, pois não retrataram fielmente a realidade eleitoral -, a chamada "onda verde" se dividiria quase meio a meio entre Dilma e Serra. Já o voto religioso, considerado conservador do ponto de vista dos costumes, por motivos mais ideológicos do que econômicos ou políticos, tenderia majoritariamente para o tucano. Essa, porém, é uma generalização que tropeça na situação dos colégios eleitorais.
Por exemplo, em São Paulo, o PV é tradicional aliado dos tucanos e até participa da administração de Gilberto Kassab (DEM) na prefeitura da capital. No Rio de Janeiro, não há como o deputado Fernando Gabeira (PV), que disputou o governo estadual com apoio do PSDB, do DEM e do PPS, recusar suporte a Serra. No Distrito Federal, porém, onde Marina venceu a eleição, a maioria dos seus eleitores rejeita a candidata ao governo local Weslian Roriz (PSC), de cuja coligação o PSDB faz parte. Raciocínio semelhante se aplica ao Acre, estado natal de Marina, onde o petista Tião Viana é grande amigo da senadora e deve liderar a campanha a favor de Dilma. Nos dois estados, Dilma levaria vantagem junto aos eleitores de Marina.
Estados
Foram eleitos no primeiro turno 18 governadores. PSDB, PT e PMDB conquistaram vitórias em quatro estados, cada. No entanto, os tucanos venceram em São Paulo e em Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do país, onde Serra tem a esperança de aumentar a votação de forma significativa. O ex-governador mineiro Aécio Neves, recém-eleito senador, é a estrela tucana na disputa do segundo turno.
Luta interna
O PT elegeu 88 deputados federais, enquanto o PMDB emplacou 79. Com esse resultado, o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), ficou mais perto da Presidência da Casa. Seu problema deixou de ser o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), que almejava o cargo, e passou a ser o vice-presidente da Casa, Marco Maia, seu correligionário do Rio Grande do Sul, que é da Articulação. Vaccarezza, não.
Regra três
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já trabalha com a possibilidade de o senador José Sarney (PMDB-AP), por motivos de saúde, abrir mão da reeleição à Presidência doSenado. Com 19 senadores, o PMDB continua tendo a maior bancada e deve indicar o presidente da Casa. Dois nomes estão cotados na bancada, o senador maranhense Edison Lobão, que acaba de ser reeleito, e Eunício de Oliveira (CE), que é cristão novo no Senado.
A sangria
Diagnóstico da oposição para nova sangria de votos da petista Dilma Rousseff às vésperas da eleição: o segundo turno desestimularia seus apoiadores e eleitores; e o noticiário sobre o escândalo da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra ganharia novo fôlego por causa das investigações da Polícia Federal. Só falta combinar com o outro time...
Conversão
O voto religioso pautou as conversas de Dilma Rousseff com os aliados ontem, durante encontro com governadores e senadores da base em Brasília. Senador reeleito pelo Rio de Janeiro, o pastor Marcelo Crivella (PRB), da Igreja Universal do Reino de Deus, pontificou: segundo ele, o eleitor evangélico entenderia possíveis mudanças na postura religiosa de Dilma. "Tem muito pagodeiro que vem da noite que vira evangélico e está acostumado com mudanças e aceita isso muito bem", disse.
Salto alto
Nos bastidores da campanha de Dilma, alguns políticos se queixavam de não terem sido ouvidos durante os trabalhos no primeiro turno. A avaliação é que, para vencer com certa tranquilidade no segundo turno, será preciso fazer o comando de campanha de Dilma descer do salto alto e ouvir mais as sugestões dos aliados. Parece conversa de tucanos.
Jubarte
O presidente Lula vai quinta-feira ao Espírito Santo, para lançar a plataforma da Petrobras P-57 no Campo de Jubarte. Quando operar a pleno vapor, produzirá até 180 mil barris de petróleo e até 2 milhões de metros cúbicos de gás por dia. O investimento é da ordem de US$ 1,195 bilhão
Sub judice / A deputada federal Janete Capiberibe (PSB) foi a mais votada no Amapá, com 28.147 votos, mas como está enquadrada na Lei da Ficha Limpa, seus votos não aparecem na totalização do TSE. Ex-prefeito, ex-governador reeleito e ex-senador, João Capiberibe (PSB-AP), que concorreu ao Senado, passa pela mesma situação.
Azebudsman / Na quinta-feira passada, errei em três prognósticos de vitória no primeiro turno: Agnelo Queiroz (PT), no Distrito Federal; Simão Jatene (PSDB), no Pará; e José Maranhão (PMDB), na Paraíba. Com risco de perder, eles disputarão o segundo turno, respectivamente, com Weslian Roriz (PSC), a governadora Ana Júlia Carepa (PT) e Ricardo Coutinho (PSB). Também acreditei nas pesquisas.
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