domingo, 10 de outubro de 2010

Medo do Dragão

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos


O Brasil está como aquele rabo que balança o cachorro, para usar a velha expressão do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Por quê? É simples: o governo está comprando dólares a rodo, em troca de títulos do Tesouro que fazem a festa dos investidores estrangeiros, para impedir que a moeda ianque continue se desvalorizando. Mesmo assim, a competitividade da indústria brasileira foi para o beleléu.

Na campanha eleitoral, ninguém fala do assunto. O consumo aquecido é um trunfo eleitoral do governo e intimida a oposição na hora de debater o assunto. Afinal, a valorização do real ajuda a conter a inflação, apesar do aumento dos gastos públicos, e a manter supermercados, lojas de eletrodomésticos e grandes magazines abastecidos de toda sorte de produtos importados, principalmente manufaturas chinesas, de roupas baratas a celulares de última geração.

Nos voos domésticos, há cada vez mais executivos chineses entre os passageiros. Eles chegaram, depois dos seus vendedores ambulantes, para fazer negócios da China no Brasil. Expulsaram os produtos brasileiros da América Latina e da África e agora estão ocupando o terreno por aqui. Literalmente, porque também investem em áreas de cultivo de soja e de mineração. O governo brasileiro, porém, não questiona a cotação artificial do iuan, graças ao trabalho compulsório e aos salários baixíssimos pagos nas fábricas chinesas. O nome disso é dumping. O Brasil considera a China uma economia de mercado e tem medo de comprar uma briga comercial com o Dragão.

Fora de pauta

A oposição também não quer discutir o futuro da economia. Salário mínimo reajustado acima da inflação. Recuperação das pensões e aposentadorias. Bolsa Família. Geração empregos . Poder de compra. Crédito fácil. Mais consumo. Viagens ao exterior. Tudo graças ao câmbio flutuante. É fria pôr na pauta eleitoral o problema cambial.

Xis do problema

A crise cambial é uma corrida contra o relógio. Na última semana, o dólar ficou abaixo de R$ 1,70, principalmente em razão da taxa Selic de 10,75% que remunera os títulos públicos. A enxurrada de dólares provocada pela capitalização da Petrobras reforçou essa tendência. O governo elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para 4% para segurar a onda, mas o problema continua. Alguma medida mais forte precisa ser tomada, mas essa é uma surpresa guardada a sete chaves para depois da eleição, tanto por Dilma Rousseff (PT) quanto por José Serra (PSDB).

Cara ou coroa

O governo paga o preço da desvalorização do dólar nos centros mais dinâmicos daeconomia industrial - São Paulo, Minas, Paraná e Santa Catarina -, onde a oposição venceu as eleições graças ao forte apoio dos setores produtivos. Em contrapartida, fatura votos nas demais regiões graças à exportação de commodities e ao consumo popular, que se beneficiam do comércio com a China.

Risco

Sob comando do governador eleito Geraldo Alckmin (PSDB), os tucanos paulistas preparam a visita de José Serra ao santuário de Nossa Senhora da Aparecida, em 12 de outubro, dia da Padroeira, um dos maiores eventos religiosos do país. Apesar do convite do arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, que organiza o evento, essa agenda é um programa de alto risco. É muito fácil organizar uma vaia entre os milhares de fiéis. A petista Dilma Rousseff também foi convidada, mas está em dúvida se vai comparecer.

Guerra cambial

Os Estados Unidos e a Comunidade Europeia pressionam o governo da China para que acabe com a desvalorização artificial do iuan, mas o governo brasileiro prefere discutir uma suposta guerra cambial global. Considera a China um parceiro; já os Estados Unidos, não se sabe ao certo.

Copa de 2014

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não vai liberar os recursos para a construção da Arena Amazônia enquanto houver indícios de irregularidade na obra. Valor do empréstimo para o complexo esportivo: R$ 400 milhões

Bismarck

Como se sabe, o encouraçado da oposição no Senado foi a pique. Naufragaram os almirantes Heráclito Fortes (PI), Marco Maciel (PE), Efraim Morais (PB), do DEM; Arthur Virgílio (AM), Tasso Jereissati (CE) e Papaléo Paes (AP), do PSDB; e Mão Santa (PI), do PSC.

Titanic

Também foi de grandes proporções o naufrágio da oposição nas eleições para a Câmara. Ficarão sem mandato, entre outros, João Almeida (BA), Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES), Rita Camata (ES), Raquel Teixeira (GO), Bonifácio de Andrade (MG), Affonso Camargo (PR), Gustavo Fruet (PR), Marcelo Itajiba (RJ), Sílvio Lopes (SP), Albano Franco (SE), Antonio Carlos Pannunzio (SP), Arnaldo Madeira (SP), Silvio Torres (SP), Walter Feldman (SP), do PSDB; José Carlos Aleluia, da Bahia, Alberto Fraga (DF), Alceni Guerra (PR), Cassio Taniguchi (PR) e Márcio Junqueira (RR), do DEM; Augusto Carvalho (DF), Humberto Souto (MG), Raul Jungmann (PE), Fernando Coruja (SC) e Nelson Proença (RS), do PPS. Eram comandantes da oposição.

Socorro / O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltará ao Pará na quinta-feira para um grande comício com Dilma Rousseff (PT)e a petista Ana Júlia Carepa, candidata à reeleição. Considera fundamental para o PT vencer as eleições no estado, onde a disputa é com o ex-governador Simão Jatene (PSDB).

Encontro / Lula recebe, nesta semana, Armando Monteiro Filho, pai do senador eleito pelo PTB em Pernambuco, Armando Monteiro Neto, que faz parte da ala dilmista do partido.

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