Por Luiz Carlos Azedo
A razão do segundo turno na eleição para presidente da República tem nome e sobrenome: Marina Silva (PV). Alguns analistas, com certa razão, atribuirão a causa ao alto índice de abstenção (quase 18%) e aos votos nulos (3%) e brancos (5%), que teriam jogado para baixo a votação de Dilma Rousseff (PT) nas periferias e grotões.
Esse elevado índice de abstenção, porém, já era esperado em razão de pleitos anteriores. O que surpreendeu foi a arrancada de Marina na reta final, principalmente no Distrito Federal, no Rio de Janeiro e em algumas regiões metropolitanas, como Belo Horizonte. Nesses colégios eleitorais houve uma onda verde, provocada por eleitores mais preocupados com a questão ambiental e o desenvolvimento sustentável.
Mas não houve apenas isso. Pela primeira vez na sucessão presidencial, o voto religioso — tanto evangélico como católico — teve um peso ideológico específico. O alto clero católico apoiou Marina; a cúpula das igrejas evangélicas, não, mas sem conseguir barrar a identificação de muitos de seus fiéis com a candidata do PV.
E no segundo turno, para onde irão esses votos? Em ambos os casos, seja o voto verde, seja o voto religioso, tanto Dilma quanto Serra terão que correr atrás de corações e mentes. Ambos terão que tomar posição em relação à transversalidade da questão ambiental e temas polêmicos sobre comportamento, como a questão do aborto e as relações de gênero.
Do ponto de vista prático, Dilma mantém o favoritismo. Bastaria evitar uma transferência maciça de votos de Marina para Serra. O problema é que esticou a corda com a candidata verde na última semana de campanha; não será fácil receber seu apoio. Além disso, Serra está sendo beneficiado pelo resultado das eleições estaduais em São Paulo, Minas Gerais e Paraná, das quais o PSDB emerge como um robusto partido de oposição em condições de alavancar o candidato no segundo turno.
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