Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos
A campanha eleitoral recomeçou ontem na tevê: 10 minutos de programa para cada candidato. Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) retomaram a campanha de olho nos votos de Marina Silva (PV), principalmente os de motivação religiosa. A questão do aborto, sem ser citada explicitamente, foi o tema de fundo dos dois programas. Há uma certa hipocrisia recíproca na abordagem do tema.
Marina é contra a legalização do aborto por razões de fundo religioso. Evangélica, é uma estrela mundial do criacionismo. Esse movimento reúne cientistas e intelectuais que acreditam na explicação bíblica da origem do Universo e da vida (o mito da criação do Gênesis) e se opõem à Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin, segundo a qual o homem é descendente do macaco. São contra o aborto e as pesquisas com células tronco de fetos natimortos. Mesmo assim, Marina defendeu a realização de um plebiscito para a sociedade decidir se é a favor ou contra a legalização do aborto. O voto de inspiração religiosa em Marina era um fenômeno previsível, embora tenha sido subestimado pelo oba oba governista.
Dilma sempre foi a favor da legalização do aborto e sua regulamentação por razões de saúde pública. Serra também, porém foi mais cauteloso ao tratar do assunto. Ex-ministro da Saúde, o tucano sabia por experiência própria da resistência organizada à proposta. Agora, ambos estão sepultando a velha bandeira de feministas e sanitaristas. O aborto clandestino é uma das principais causas de morte de adolescentes e jovens no Brasil.
Cabralina
Dilma abriu seu programa eleitoral defendendo uma tese do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, reeleito no primeiro turno. O cacique do PMDB acredita que 67% dos eleitores querem uma mulher na Presidência da República porque votaram em Dilma ou em Marina. É pura apelação eleitoral, mas foi reproduzida com convicção por Dilma no seu programa de tevê.
Patinho
O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), vice de Dilma, continuou fora do programa de televisão da candidata petista. Apareceram todos os governadores eleitos e até alguns senadores, mas o cacique peemedebista, considerado um sem voto pela cúpula da campanha, continuou na geladeira. Para efeito do programa de tevê, ainda é patinho feio na campanha
Velho
A gravação do presidente Lula que apareceu no primeiro programa de Dilma foi a mesma das inserções apresentadas às vésperas da eleição, na qual Lula repudia os boatos contra a petista. A candidata repercute a fala do presidente da República mais ou menos no mesmo tom. As comparações do governo Lula com o de Fernando Henrique Cardoso foram as de sempre. Segundo a petista, sem Lula não haveria Bolsa Família; Minha Casa, Minha Vida; e Luz para Todos, programas sociais do governo bem avaliados nas pesquisas. Lula não aparece ao lado de Dilma desde a véspera da votação.
Grávido
O programa de Serra exibiu trechos do discurso do tucano logo após a apuração do primeiro turno e repetiu as propostas de maior impacto junto aos eleitores de baixa renda: aumento do salário mínimo para R$ 600, aumento de 10% para os aposentados e de 13% do Bolsa Família. Exagerou ainda mais na dose ao apresentar o Programa Mãe Brasileira, com imagens de meia dúzia de mulheres grávidas, a maioria com a barriga de fora. A conferir nas pesquisas qualitativas.
Ex-presidentes
Serra exibiu os ex-presidentes Fernando Collor de Mello (foto), Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, além do presidente Lula, no horário eleitoral. Sarney, por ter sido eleito pelo voto indireto, foi ignorado. O mote para a galeria de fotos foi os riscos da eleição de um candidato desconhecido, no caso Collor, que teria dado o maior trabalho aos sucessores para pôr o país nos trilhos. Virão mais comparações por aí: Sarney e Collor apoiam Dilma; Itamar e FHC, Serra.
Aborto
Dilma Rousseff voltou a falar do tema aborto ontem, durante visita ao Lar da Criança, uma instituição de atendimento a menores em situação de risco de Brasília da ONG Casa de Ismael. Na ocasião, a candidata lamentou que jovens adolescentes tenham que recorrer a essas práticas usando agulhas de crochê.
Fisco
O governo quer que, a partir de 2011, as empresas substituam os tradicionais livros fiscais pelo modelo eletrônico para recolher o PIS/Cofins. A regra vale para as companhias sujeitas à tributação do Imposto de Renda com base no lucro real. São 150 mil
Anistia / A Caravana da Anistia do Ministério da Justiça julga hoje, em Betim (MG), os pedidos de anistia de Maria de Fátima Nolasco, Hervê de Melo, Renato Santos Pereira, Mary de Souza Muniz, Herculano Pinto Filho, Maria da Silva Gonçalves e José Deolindo de Oliveira, estes dois últimos em caráter post mortem - todos mineiros. Será durante o Primeiro Encontro Brasileiro de Universitários Cristãos (Ebruc).
Ficha Limpa / Dos cinco recursos que chegaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Lei da Ficha Limpa e que ainda podem colocar em xeque a validade da norma para este ano, pelo menos um caso terá que ser julgados pelos ministros. É o de Jader Barbalho, eleito senador pelo PMDB no Pará.
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