domingo, 5 de dezembro de 2010

Bandidos

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos


Deve-se ao historiador britânico Eric Hobsbawn o polêmico conceito de ´bandido social`, claramente inspirado no mito de Robin Hood. Para analisar o fenômeno do banditismo, pesquisou a trajetória de marginais famosos, dentre eles Salvatore Giuliano (Itália), Pancho Vila (México), Jesse James (Estados Unidos) e o nosso Virgulino Ferreira, o Lampião. O estudo foi publicado em livro na década de 1950, com o título acima, e já está na quarta edição aqui no Brasil (Editora Paz e Terra).

Talvez venha daí a glamourização da malandragem e da vida nas favelas cariocas pela esquerda. E de marginais como Lúcio Flávio, que não se misturava com policiais corruptos: ´Bandido é bandido; polícia é polícia`. É nessa categoria romanesca que poderia ser enquadrado Marcinho VP, que inspirou o jornalista Caco Barcellos a escrever o livro Abusado, a história do tráfico de drogas no Morro Dona Marta, da qual o traficante é personagem principal.

A polícia do Rio de Janeiro atribui a Marcinho VP, juntamente com Elias Maluco e My Thor,a responsabilidade por ataques de traficantes a postos policiais e incêndios de veículos no Rio de Janeiro, nas últimas semanas. A ocupação de morros da Zona Sul e da Tijuca pela Polícia Militar enfraqueceu os traficantes do Comando Vermelho e fortaleceu as milícias de ex-policiais, rompendo um equilíbrio de forças do qual fazem parte o controle do carnaval por banqueiros do jogo do bicho, o patrocínio de bailes funks por traficantes, a liberação do Posto 9 para o livre consumo de maconha e a oferta de cocaína nas festas privadas de celebridades -- cujo o elo de ligação é a corrupção policial. Os traficantes reagiram.

Sambando

Por causa do regime militar, a esquerda apartou segurança pública dos direitos humanos, como se fossem coisas antagônicas. No Rio de Janeiro, na década de 1980, a consequência foi tirar a polícia dos morros e entregá-los aos traficantes. Além disso, a glamourização do consumo de drogas, da contravenção e da lei do mais forte faz parte da cultura popular, devidamente registrada em dezenas de sambas. Recentemente, Marcelo D2 regravou sucessos do excepcional sambista Bezerra da Silva, já falecido, ícone dos presidiários e marginais cariocas com seu ´sambandido`. Clássicos do gênero, como Overdose de cocada, A macaca vai cantar, Ele cagueta com o dedão do pé e Malandragem dá um tempo fazem sucesso em qualquer roda de samba de grã-fino.

O confronto

O enfrentamento patrocinado pelo governador Sérgio Cabral ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro não pode ser caracterizado como algo episódico. É uma bem-sucedida estratégia de recuperação do controle do Estado sobre áreas de encosta urbanizadas adjacentes aos bairros de classe média da cidade, do Leblon ao Grajaú. A retomada do Complexo do Alemão, reduto de traficantes, em resposta aos atentados do Comando Vermelho, foi um desvio de rota. Mas serviu como demonstração de força da União e do governo do estado. Muito mais importante para derrotar os traficantes seria a retomada do controle da Rocinha e do Parque Nacional da Floresta da Tijuca, o verdadeiro santuário dos traficantes, pois liga a Zona Norte à Zona Sul.

A guerrilha

Os traficantes cariocas têm o que faltou à guerrilha urbana na época da ditadura: uma base social, acesso a armamentos pesados, abundante fonte de financiamento e topografia favorável. A tomada do Morro do Alemão foi uma vitória política, mas um certo fracasso militar, apesar da grande apreensão de armas, munição e drogas. Uma guerrilha se caracteriza por evitar confrontos em situação de desvantagem e sempre tem rotas de fuga para locais mais seguros. Houve no Alemão duas fugas espetaculares, uma à luz do dia, em área descampada; outra na calada da noite, pelas galerias de esgotos. Uma sob asmiras do Bope, outra por baixo dos blindados da Marinha e do Exército.

O varejo

O deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), que inspirou um dos personagens do filme Tropa de Elite 2, pôs o dedo na ferida: ´Esse modelo de enfrentamento não parece eficaz. Prova disso é que, em 2007, no próprio Complexo do Alemão, a polícia entrou e matou 19. E eis que, agora, a polícia vê a necessidade de entrar na mesma favela de novo`. Segundo ele, combater o varejo das drogas não resolverá o problema. ´Falta vontade política para valorizar e preparar os policiais para enfrentar o crime onde o crime se organiza - onde há poder e dinheiro.` Seu discurso vai ao encontro de Hobsbawn.

Encontro

O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, terá um encontro neste domingo com o ex-governador mineiro Aécio Neves. Os dois tucanos vão discutir o futuro do PSDB. Na quinta-feira, o político paulista lançou a candidatura de José Serra a presidente do PSDB. Aécio pleiteia a vaga de candidato a presidente da República em 2014.

Um comentário:

Deletando as Derrotas disse...

Bom Posts companheiro. A Nota da direção tb está nesta mesma linha com formato mais geral.
Valeria um périplo para maiores reflexões.
Abraço