Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 21/07/2015
Enquanto a situação da
economia e a crise política se agravam, a Operação Lava-Jato avança
inexoravelmente
O Palácio do Planalto chegou à
conclusão de que não deve partir para um combate frontal com o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Fez as contas do perde-perde e viu
que o peemedebista, em rota de colisão com o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, pode arrastar para a fogueira da “expiação”
outros citados nas delações premiadas da Operação Lava-Jato, entre os
quais ministros da cozinha palaciana e a própria presidente Dilma
Rousseff.
Não dá pra apostar no afastamento de Cunha do cargo sem
o risco de pôr de quarentena o ministro da Comunicação, Edinho Silva;
quiçá, o poderoso ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ambos
citados na Lava-Jato por receberem dinheiro desviado da Petrobras a
título de doação eleitoral. Não foi à toa que Dilma Rousseff resolveu
“baixar o tom” dos ataques petistas ao parlamentar.
O presidente
da Câmara anunciou o seu rompimento com o governo na semana passada, por
entender que a presidente Dilma, Mercadante e o ministro da Justiça,
Eduardo Cardozo, estariam articulando com Janot o pedido de seu
afastamento do comando da Casa. Imediatamente, autorizou a instalação
das CPIs do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
e dos Fundos de Pensão. São dois vespeiros.
A oposição, porém,
resolveu se descolar de Cunha. O deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB),
ex-governador de Pernambuco, pediu o afastamento do presidente da Câmara
do cargo enquanto a situação não se esclarecer. Ontem, a deputada
Eliziane Gama (PPS-MA) protocolou na CPI da Petrobras um requerimento
para que seja realizada uma acareação entre o presidente da Câmara e o
ex-consultor da Toyo Setal Júlio Camargo, que acusa o peemedebista de
ter recebido US$ 5 milhões do esquema de propina da Petrobras.
Cunha
diz que topa a acareação, mas quer que a CPI convoque os ministros
Edinho Silva e Aloizio Mercadante para uma acareação com Ricardo Pessoa.
Chegou a dizer que a presidente Dilma poderia ser convocada para uma
acareação com o doleiro Alberto Youssef. A comissão pode sair do
controle se a aliança do seu presidente, Hugo Mota (PMDB-PB), com o
relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), for rompida.
Ontem, o
prefeito do Rio, Eduardo Paes, foi chamado a Brasília para uma conversa
com a presidente Dilma, a pretexto de tratar das Olimpíadas do Rio. O
principal assunto em pauta foi Cunha. Nos bastidores, o governo trabalha
para isolar o presidente da Câmara no seu próprio partido. O governador
Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o prefeito carioca foram leais
aliados do PMDB na reeleição da petista.
Dilma decidiu visitar os
estados do Nordeste, que sempre foram redutos governistas, numa
tentativa de reverter a tendência de queda nas pesquisas. Não deixa de
ser uma agenda de risco, principalmente se não for bem organizada. Por
onde anda, ultimamente, a presidente da República tem sido vaiada. Hoje,
será divulgada nova pesquisa CNT/Sensus sobre avaliação do governo da
presidente.
Colateral
Enquanto Cunha
esperneia, o vice-presidente Michel Temer se fortalece como fiador da
governabilidade. Ele jogou água fria no contencioso, chamando-o de
“crisezinha política”. O rompimento de Cunha com Dilma esvaziou as
articulações para que Temer deixasse a coordenação política do governo,
como gostariam outros caciques do PMDB, inclusive o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado no escândalo da
Petrobras.
A Operação Lava Jato também está provocando intensa
movimentação nos bastidores do Tribunal de Contas da União, cujo
presidente, Aroldo Cedraz, teve o filho citado na delação premiada do
empresário Ricardo Pessoa, da UTC, apontado como chefe do cartel de
empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras.
Tiago Cedraz,
advogado de Brasília, teria recebido R$ 1 milhão para atuar junto ao
TCU. Seus ministros, entre eles o relator das contas de Dilma Rousseff,
ministro Augusto Nardes, articulam o afastamento de Cedraz. Como se
sabe, por causa das “pedaladas fiscais”, Dilma corre o risco de ter as
contas de 2014 rejeitadas pelo tribunal.
Enquanto a situação da
economia e a crise política se agravam, a Operação Lava-Jato avança
inexoravelmente: os executivos Dalton Avancini, Eduardo Leite e João
Ricardo Auler, afastados da Camargo Corrêa após serem presos, foram
condenados a penas que variam de 9 a 15 anos de reclusão por crimes
cometidos em contratos e aditivos com a Petrobras.
A Polícia
Federal também indiciou o presidente da holding Odebrecht S.A., Marcelo
Odebrecht, e mais sete executivos da empreiteira no inquérito da
empreiteira. Ele está preso na carceragem da PF em Curitiba desde 19 de
junho. Os crimes citados são fraude em licitação, lavagem de dinheiro,
corrupção ativa e passiva, crime contra a ordem econômica e organização
criminosa. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é citado várias
vezes no inquérito como lobista da Odebrecht no exterior.
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