Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 15/07/2015
Pouco
depois do início da operação da Polícia Federal, desembarcou em
Brasília o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de
uma reunião e de almoço com a presidente Dilma Rousseff
Às vésperas do recesso
legislativo, a Polícia Federal realizou 53 operações de busca e
apreensão em sete estados e no Distrito Federal, decorrentes da Operação
Lava-Jato. Batizada de Politeia, a nova etapa de investigação é
referente a seis processos instaurados no Supremo Tribunal Federal
(STF), dos mais de 30 pedidos de investigação já encaminhados pelo
Ministério Público Federal contra 52 políticos com mandato ou
autoridades com foro privilegiado.
Casas, escritórios e empresas dos
senadores Fernando Collor (PTB-AL), Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando
Bezerra (PSB-PE), do deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) e do
ex-ministro Mário Negromonte, entre outros, foram alvos dos agentes
federais.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
aproveitou a operação para mandar um recado aos acusados de envolvimento
no escândalo da Petrobras. “Adsumus”, disse na nota que divulgou. A
tradução do latim significa “aqui estamos”.
Janot vem sendo muito
criticado pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que também estão sob investigação do
Ministério Público, em razão das delações premiadas da Operação
Lava-Jato.
Candidato à reeleição, Janot sabe que
dificilmente terá o nome aprovado pelos governistas do Senado, que têm a
prerrogativa de homologar ou não sua recondução ao cargo por indicação
da presidente Dilma Rousseff.
Além disso, ele precisa vencer uma eleição
na sua própria corporação para encabeçar a lista tríplice a ser enviada
à Presidência pelo Ministério Público Federal. Também concorrem ao
cargo os subprocuradores Mario Bonsaglia, Carlos Frederico Santos e
Raquel Dodge.
Não se pode, por isso, concluir que Janot
intensifica as ações na Operação Lava-Jato para permanecer no cargo; é
mais provável que o “tour de force” esteja sendo feito exatamente porque
pode deixar o posto em setembro.
No Congresso, o ex-presidente Fernando
Collor de Mello protestou da tribuna contra o procurador-geral e a
Polícia Federal, embora os mandados de busca e apreensão tenham sido
expedidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori
Zavascki, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski, atual presidente da
Corte. Ou seja, os pedidos de Janot foram bem fundamentados.
Os
agentes foram ao apartamento funcional de Collor, na quadra dos
senadores, na Asa Sul do Plano Piloto, e também apreenderam três carros
de luxo — uma Ferrari, uma Lamborghini e um Porsche — na Casa da Dinda,
residência usada por Collor na época em que era presidente da República.
Nas redes sociais, a apreensão dos veículos foi associada ao famoso
Fiat Elba que o levou à renúncia, após a campanha do impeachment. A
Polícia do Senado Federal, porém, questionou a ação no apartamento
funcional, e o advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, considerou o
episódio uma violação das prerrogativas do Senado.
Barbas de molho
Pouco
depois do início da operação da Polícia Federal, desembarcou em
Brasília o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de
uma reunião e de almoço com a presidente Dilma Rousseff.
Foram quatro
horas de conversa, da qual participaram os ministros Jaques Wagner
(Defesa), Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação
Social) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral). O vice-presidente Michel
Temer e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ficaram de fora.
O
encontro estava marcado com antecedência. A Operação Lava-Jato e a
crise de governabilidade faziam parte do cardápio, mas o início das
ações policiais contra os políticos suspeitos surpreendeu. Ao investir
contra um ex-presidente da República em pleno mandato de senador eleito,
foi sinalizado que agora chegou a vez de os “donos do poder” pagarem
seus pecados no escândalo da Petrobras.
Por isso mesmo, o clima ontem no
Congresso era de grande tensão em relação aos desdobramentos que virão.
Já não se tratam mais de ações determinadas por um juiz federal de
primeira instância, como é o caso de Sérgio Moro, que trancafiou os
maiores empreiteiros do país. Agora é o Supremo Tribunal Federal que
está endossando as investigações e sinaliza que ninguém está acima do
bem ou do mal.
O fato de as ações ocorrerem em pleno recesso do
Judiciário indica que podem prosseguir no recesso do Legislativo. O
resultado é que ninguém sabe dizer o que poderá ocorrer até agosto. Os
políticos envolvidos no escândalo, porém, estarão muito mais desgastados
perante a opinião pública e preocupados com a própria pele.
Será um bom
cenário para a presidente Dilma Rousseff resistir a qualquer tentativa
de impeachment da oposição. Não se pode dizer a mesma coisa, porém, em
relação à corrosão da imagem do ex-presidente Lula pelo escândalo da
Petrobras.
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