Correio Braziliense - 11/07/2015
Temer não quer a pecha de conspirador, muito menos a de traidor. A cúpula do PMDB, porém, pressiona para que deixe a articulação política do governo
Todo mundo já sabe que o Brasil atravessa uma crise tríplice: econômica, política e ética. O diagnóstico é unânime entre políticos, empresários, cientistas políticos e economistas.
A presidente Dilma Rousseff vem dando sucessivas demonstrações de que não tem competência para resolvê-las, o que também já é um sentimento do cidadão comum. O povo sente na carne as consequências, a maioria acha que a culpa é do PT. A dúvida é outra, principalmente das elites do país: dá para administrar essa situação até a próxima eleição, em 2018, ou o país não aguenta o tranco?
A resposta dessa equação passa por um ajuste fiscal efetivo, que estabilize a economia; pela rearticulação da base de sustentação do governo no Congresso; e pela punição dos responsáveis pelo escândalo da Petrobras, que está sendo investigado pela Operação Lava-Jato, sob comando do juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, e supervisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, relator do processo que envolve ministros e parlamentares. Vamos por partes.
Dilma Rousseff até agora não conseguiu viabilizar o ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que foi mitigado pelo Congresso. O resultado é que a inflação continua subindo, o que provocará nova alta dos juros e mais contração na economia. A consequência imediata é o desemprego. Pressionada pelo PT, que é contra o ajuste, e sem apoio do PMDB, que não quer pagar a conta das medidas impopulares, Dilma age, novamente, de forma errática na economia.
O improvisado programa de proteção ao emprego lançado na semana passada é um exemplo. A medida deveria ser estendida a todos os setores da economia, mas o governo não tem recursos e vai decidir quem tem direito ao dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). É o lado trabalhista da política de favorecimento de empresas e empresários amigos que quase sempre acaba em escândalos.
No fundo, Dilma não abandonou a concepção de capitalismo de Estado que resultou na crise tríplice. A ideia de que a carga tributária amplia o papel do Estado como protagonista da economia está em contradição com o próprio ajuste fiscal. Como viabilizar o superavit se o modelo de governo é expansionista? Ora, reduzindo-o de 1,1%, como estava previsto, para 0,6%, como acaba de propor o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que começa a emergir como o “queridinho” de Dilma na equipe econômica.
Golpismo
Alguém já disse que a política é a economia concentrada. A cúpula do PMDB decidiu não queimar o próprio filme, mais do que já está, aprovando medidas antipopulares, ainda mais porque o PT não se dispõe a defendê-las. O resultado foi o 62 a zero no Senado contra o Palácio do Planalto na votação que estendeu o reajuste do salário mínimo às aposentadorias, com um impacto de R$ 9,2 bilhões na Previdência.
Tanto na Câmara quanto no Senado, a linha adotada pelo PMDB é deixar para Dilma Rousseff o veto às “bondades” aprovadas pelo Congresso. Aí vem a presidente da República, em Milão, na Itália, e diz: “Se a gente for fazer um balanço, nós mais ganhamos do que perdemos. Eu não concordo que haja uma rebelião”. Como diz o ditado: “Sabe de nada, inocente!”
Dilma disparou da Rússia contra o senador Aécio Neves (MG), a quem acusou de golpista. O presidente do PSDB aposta todas as fichas na improvável cassação de mandato da presidente pelo TSE, por crime eleitoral (abuso de poder econômico e doações ilegais de campanha). Nesse caso, haveria novas eleições, pois o vice-presidente Michel Temer não poderia assumir. Foi o mote para Dilma e o PT saírem da defensiva. A palavra-chave é “golpista”.
Mas o alvo de Dilma, na verdade, é o vice-presidente Michel Temer, que assumiria a Presidência em caso de impeachment por crime de responsabilidade, cuja aprovação caberia ao Congresso, como prevê a Constituição. O peemedebista está tão ressabiado que evitou conversar a sós com o comandante do Exército, general Villas Boas, na visita que fez à 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Dourados, para conhecer o comando do Sisfron, um sistema integrado de controle de fronteiras.
Temer não quer a pecha de conspirador, muito menos a de traidor. A cúpula do PMDB, porém, pressiona para que deixe a articulação política do governo. “O PT que embale Dilma”, dizem os demais caciques. Aliados de primeira hora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são os que mais torcem para que as contas de Dilma sejam rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o que a deixaria à mercê de um pedido de impeachment da oposição e refém do PMDB no Congresso.
E a Operação Lava-Jato? Essa variável ninguém controla, pode fazer um strike na política nacional. Parece um trem-fantasma, no qual Dilma leva um susto atrás do outro.
A presidente Dilma Rousseff vem dando sucessivas demonstrações de que não tem competência para resolvê-las, o que também já é um sentimento do cidadão comum. O povo sente na carne as consequências, a maioria acha que a culpa é do PT. A dúvida é outra, principalmente das elites do país: dá para administrar essa situação até a próxima eleição, em 2018, ou o país não aguenta o tranco?
A resposta dessa equação passa por um ajuste fiscal efetivo, que estabilize a economia; pela rearticulação da base de sustentação do governo no Congresso; e pela punição dos responsáveis pelo escândalo da Petrobras, que está sendo investigado pela Operação Lava-Jato, sob comando do juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, e supervisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, relator do processo que envolve ministros e parlamentares. Vamos por partes.
Dilma Rousseff até agora não conseguiu viabilizar o ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que foi mitigado pelo Congresso. O resultado é que a inflação continua subindo, o que provocará nova alta dos juros e mais contração na economia. A consequência imediata é o desemprego. Pressionada pelo PT, que é contra o ajuste, e sem apoio do PMDB, que não quer pagar a conta das medidas impopulares, Dilma age, novamente, de forma errática na economia.
O improvisado programa de proteção ao emprego lançado na semana passada é um exemplo. A medida deveria ser estendida a todos os setores da economia, mas o governo não tem recursos e vai decidir quem tem direito ao dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). É o lado trabalhista da política de favorecimento de empresas e empresários amigos que quase sempre acaba em escândalos.
No fundo, Dilma não abandonou a concepção de capitalismo de Estado que resultou na crise tríplice. A ideia de que a carga tributária amplia o papel do Estado como protagonista da economia está em contradição com o próprio ajuste fiscal. Como viabilizar o superavit se o modelo de governo é expansionista? Ora, reduzindo-o de 1,1%, como estava previsto, para 0,6%, como acaba de propor o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que começa a emergir como o “queridinho” de Dilma na equipe econômica.
Golpismo
Alguém já disse que a política é a economia concentrada. A cúpula do PMDB decidiu não queimar o próprio filme, mais do que já está, aprovando medidas antipopulares, ainda mais porque o PT não se dispõe a defendê-las. O resultado foi o 62 a zero no Senado contra o Palácio do Planalto na votação que estendeu o reajuste do salário mínimo às aposentadorias, com um impacto de R$ 9,2 bilhões na Previdência.
Tanto na Câmara quanto no Senado, a linha adotada pelo PMDB é deixar para Dilma Rousseff o veto às “bondades” aprovadas pelo Congresso. Aí vem a presidente da República, em Milão, na Itália, e diz: “Se a gente for fazer um balanço, nós mais ganhamos do que perdemos. Eu não concordo que haja uma rebelião”. Como diz o ditado: “Sabe de nada, inocente!”
Dilma disparou da Rússia contra o senador Aécio Neves (MG), a quem acusou de golpista. O presidente do PSDB aposta todas as fichas na improvável cassação de mandato da presidente pelo TSE, por crime eleitoral (abuso de poder econômico e doações ilegais de campanha). Nesse caso, haveria novas eleições, pois o vice-presidente Michel Temer não poderia assumir. Foi o mote para Dilma e o PT saírem da defensiva. A palavra-chave é “golpista”.
Mas o alvo de Dilma, na verdade, é o vice-presidente Michel Temer, que assumiria a Presidência em caso de impeachment por crime de responsabilidade, cuja aprovação caberia ao Congresso, como prevê a Constituição. O peemedebista está tão ressabiado que evitou conversar a sós com o comandante do Exército, general Villas Boas, na visita que fez à 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Dourados, para conhecer o comando do Sisfron, um sistema integrado de controle de fronteiras.
Temer não quer a pecha de conspirador, muito menos a de traidor. A cúpula do PMDB, porém, pressiona para que deixe a articulação política do governo. “O PT que embale Dilma”, dizem os demais caciques. Aliados de primeira hora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são os que mais torcem para que as contas de Dilma sejam rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o que a deixaria à mercê de um pedido de impeachment da oposição e refém do PMDB no Congresso.
E a Operação Lava-Jato? Essa variável ninguém controla, pode fazer um strike na política nacional. Parece um trem-fantasma, no qual Dilma leva um susto atrás do outro.
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