Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 22/07/2015
Até
agora, essa foi a maior cartada de um advogado de defesa para tirar as
investigações do escândalo da Petrobras das mãos do juiz federal de
Curitiba, que é atacado por todos os flancos
O presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, solicitou ao juiz federal
Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato na primeira
instância, esclarecimentos sobre a citação ao nome do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na ação penal da Operação Lava-Jato. O
parlamentar questionou a atuação de Sérgio Moro no processo em que foi
citado e reivindica que a ação seja remetida ao Supremo.
Até
agora, essa foi a maior cartada de um advogado de defesa para tirar as
investigações do escândalo da Petrobras das mãos do juiz federal de
Curitiba, que é atacado por todos os flancos possíveis e imagináveis
pelos investigados. Cunha alega que o juiz federal feriu a competência
do Supremo ao investigá-lo, uma vez que deputado federal só pode ser
alvo de apuração com aval dos ministros da mais alta Corte do país.
A
defesa de Cunha, porém, foi mais longe. Solicitou uma liminar para
suspender imediatamente o andamento do processo, além de pedir o envio
imediato dos autos ao STF. Como se sabe, na semana passada, o
ex-consultor da Toyo Setal Júlio Camargo afirmou perante Moro, ao depor
em juízo, que Cunha pediu US$ 5 milhões para viabilizar a contratação de
navios-sonda por parte da Petrobras.
O deputado já é investigado
pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeita de ter recebido
propina de fornecedores da Petrobras, e atribuiu o depoimento a uma
manobra articulada pelo Palácio do Planalto, com objetivo de provocar
seu afastamento do comando da Câmara. Cunha alega ter direito a foro
privilegiado e solicita a anulação de todos os atos praticados por Moro
que possam se referir a ele.
Seu advogado é ninguém menos do que o
ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, aquele que
ofereceu a denúncia do mensalão no governo Lula, que argumenta:
“Mostra-se fartamente demonstrado que o Juízo reclamado, ao realizar
atos manifestamente investigatórios em face de agente público com
prerrogativa de foro, usurpou de forma flagrante a competência desta
Suprema Corte. Isso porque é prerrogativa do próprio STF, em havendo
suspeita de envolvimento de pessoas detentoras de foro perante o
tribunal, analisar a sua competência”.
Antônio Fernando pede o
arquivamento do inquérito por “ausência de indícios mínimos de autoria e
materialidade” e sustenta que, antes do depoimento da semana passada,
Júlio Camargo havia negado o envolvimento do peemedebista no episódio do
navio-sonda.
Cunha quer paralisar a ação penal a qual respondem
como réus o ex-consultor Júlio Camargo e o doleiro Alberto Youssef,
outro delator da Lava-Jato. Além deles, são réus nesse processo o lobista
Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, acusado de ser o
operador do PMDB no esquema de corrupção, e o ex-diretor da área
internacional da estatal Nestor Cerveró, que está em vias de recorrer à
“delação premiada”. Esse seria o “braço” do PMDB no escândalo.
Fernando
Baiano e Cerveró até agora não entregaram os pontos e negam as
acusações contra eles, apesar de o Ministério Público já ter provas do
envolvimento de ambos. Teriam recebido cerca de R$ 40 milhões de Júlio
Camargo para viabilizar a contratação, por parte da Petrobras, de um
navio-sonda para perfuração de águas profundas na África e no Golfo do
México. Youssef, segundo o MP, teria facilitado o recebimento do
dinheiro por meio de operações de câmbio com empresas offshores.
Caberá
a Ricardo Lewandowski decidir sobre a liminar solicitada por Cunha. Os
advogados dos réus já fizeram várias investidas contra Moro, mas essa
parece ser a mais robusta até agora, tanto que o presidente do Supremo
solicitou informações sobre o fato. Se for bem-sucedido, Cunha criará um
precedente para todos os demais envolvidos com direito a foro
privilegiado citados em depoimentos dos demais investigados em nível de
primeira instância e tornados públicos.
Volume morto
A
pesquisa CNT/MDA divulgada ontem mostrou que a presidente Dilma
Rousseff está se afogando no “volume morto” da popularidade: a
desaprovação ao governo supera os 70%, enquanto apenas 7,7% o avaliam
positivamente, confirmando a tendência antecipada pelo Ibope de
popularidade inferior a um dígito. Há muito pessimismo em relação ao
emprego, à renda e aos serviços públicos. Ou seja, o ajuste fiscal caiu
no descrédito popular.
Os dados mais preocupantes para o Palácio
do Planalto, porém, são os seguintes: 62% dos entrevistados são a favor
do impeachment de Dilma Rousseff e 60% a consideram tão culpada pela
corrupção na Petrobras quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Acreditava-se, com base em pesquisas qualitativas, que Dilma não havia
sido tão atingida pela crise ética.
Somente 1,5% dos
entrevistados classifica o governo como “ótimo” enquanto 52,4% fazem uma
avaliação “péssima” da gestão Dilma. O desempenho pessoal da presidente
é desaprovado por 79,9% e aprovado por apenas 15,3%. Os esforços do
Palácio do Planalto para recompor sua base parlamentar no Congresso,
aproveitando o isolamento político do presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, ajudam a manter certa estabilidade política, mas não resolvem
esse problema central.
Mais: Caso a eleição fosse hoje, qualquer
candidato do PSDB derrotaria o ex-presidente Lula na disputa pela
Presidência. Pela ordem, Aécio Neves, o mais competitivo, Geraldo
Alckmin e José Serra.
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