Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 16/07/2015
O ministro Cardozo riu por último,
ontem, na CPI da Petrobras, para a qual foi convocado por petistas e
integrantes da oposição, num acordo para evitar os depoimentos dos
ministros Aloizio Mercadante e
Edinho Araújo
Antonio Franco de Oliveira, mais
conhecido como Neném Prancha, foi roupeiro, massagista, olheiro e
técnico de futebol do Botafogo. Era considerado um filósofo do futebol
por outros dois botafoguenses fanáticos, Armando Nogueira e João
Saldanha.
Estivesse vivo e assistindo à “pelada” em que se transformou a
política nacional, diria aos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), uma de suas frases
mais famosas: “Arrecua os arfes para evitar a catastre”.
Recuar
os alfes, como eram chamados os jogadores do meio do campo, numa
corruptela do inglês half, para evitar uma catástrofe em campo fazia parte
de uma visão de jogo objetiva de Prancha: “Quem tem a bola ataca; quem
não tem, defende”.
É mais ou menos esse o recado dado pelo
vice-presidente Michel Temer aos correligionários, depois que a Polícia
Federal, na Operação Politeia, cumpriu mandados de busca e apreensão nas
residências dos senadores Fernando Collor (PTB-AL), Fernando Bezerra
Coelho (PSB-PE) e Ciro Nogueira (PP-PI).
Renan Calheiros é um dos
que ainda pretendem partir para a ofensiva. Disse que estuda entrar com
ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a atuação da
Polícia Federal. O advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, acusou a
corporação de ter invadido o apartamento.
De acordo com Cascais, a PF
descumpriu a Resolução 40 do Senado e, além disso, não apresentou o
mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça. Renan pretende
conversar com o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, sobre o
ocorrido.
O presidente da Corte foi um dos ministros que
autorizou as operações, com Celso de Mello e Teori Zavascki. Seis
inquéritos do Supremo investigam políticos suspeitos de envolvimento nos
desvios de dinheiro da Petrobras por meio de contratos superfaturados,
mas existem outros em curso. Há 52 políticos sob investigação, entre os
quais, Renan e Eduardo Cunha.
Há o temor de que as operações de busca e
apreensão se ampliem durante o recesso parlamentar. “A porta da minha
casa está aberta, vão a hora que quiserem. Pode ir a hora que quiserem.
Eu acordo às 6h, que não cheguem antes das 6h para não me acordar. Eu
não sei o que eles querem buscar lá, mas se quiserem, estou às ordens”,
disse Cunha ontem, irritado.
Na semana passada, Michel Temer já
havia advertido aos aliados para que não participassem das articulações a
favor do impeachment de Dilma Rousseff, que estavam em pleno curso
entre os caciques do PMDB. No Senado, aliados de primeira hora do
ex-presidente Luiz Inácio lula da Silva já consideravam a saída de Dilma
como uma solução para a crise.
Na defensiva
Assim
como os caciques do PMDB conspiravam, eles também veem conspiração em
tudo. A deflagração da fase política da Operação Lava-Jato seria mais
uma delas, envolvendo Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo e o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Os encontros e as reuniões
de Cardozo com Janot, e o fato de o chefe do Ministério Público
depender da indicação de Dilma para ser reconduzido ao cargo em setembro
alimentam parte da especulação. Mas foi o recente encontro entre Dilma,
Cardozo, Jaques Wagner e Ricardo Lewandowski, na cidade do Porto, em
Portugal, na escala da comitiva presidencial para a Rússia, que
assombrou os políticos.
Pode-se dizer que Cardozo riu por último,
ontem, na CPI da Petrobras, para a qual foi convocado por petistas e
integrantes da oposição, num acordo para evitar os depoimentos dos
ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Comunicação Social,
Edinho Araújo, ambos citados na delação premiada do presidente da UTC,
Ricardo Pessoa.
O empreiteiro é apontado como coordenador do cartel de empreiteiras
envolvidas no escândalo da Petrobras. O acordo incluiu a não convocação
do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o “faz-tudo” do
ex-presidente petista. O ministro da Justiça tirou de letra a sabatina
na comissão.
Cardozo foi muito cobrado pela oposição quando do
encontro no Porto, mas explicou que estava num congresso jurídico em
Lisboa quando Lewandovski pediu uma reunião com Dilma para discutir o
reajuste dos servidores da Justiça. Resolveram aproveitar a escala do
avião presidencial no Porto.
No Congresso, ninguém acredita que a
conversa tenha sido apenas sobre isso. A turma do PT — que acusa o juiz
federal Sérgio Moro, procuradores e policiais federais de
arbitrariedades na Lava-Jato — bateu na tecla das supostas escutas
ilegais na cela do doleiro Alberto Youssef. Cardoso disse que o assunto é
investigado, mas está sob sigilo.
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