Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 23/07/2015
Sem apoio político no Congresso, apesar
das declarações em contrário, Levy fracassou. Cresce a influência dos ministros Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante nos rumos da economia
O ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, jogou a toalha no ajuste fiscal. Anunciou ontem a revisão da meta
de poupança para pagar os juros da dívida — o superavit primário — para
R$ 8,747 bilhões em 2015, o equivalente a 0,15% do Produto Interno
Bruto, ante previsão anterior de R$ 66,3 bilhões, ou seja, 1,19% do PIB.
Para evitar a desmoralização da equipe econômica, o governo anunciou um
corte adicional de R$ 8,6 bilhões no Orçamento de 2015, para totalizar
um contingenciamento acumulado de R$ 79,4 bilhões.
“O governo
cortou na carne, por assim dizer”, afirmou o ministro da Fazenda,
Joaquim Levy. Será? A afirmação teria fundamento se o governo tivesse
reduzido o número de ministérios, secretarias, órgãos federais e cargos
comissionados que incham a máquina pública. O fracasso do ajuste se deu
porque a presidente Dilma Rousseff não conseguiu fazer o dever de casa e
o país mergulhou na recessão e no desemprego, enquanto a inflação
continua em alta.
Dilma Rousseff acabou prisioneira de um circulo
de ferro, no qual a crise econômica, a crise de governabilidade e a
crise ética se entrelaçam, e perdeu credibilidade porque mentiu sobre a
situação da economia durante a campanha eleitoral. Desde o lançamento do
ajuste fiscal, Levy enfrentou a oposição das bancadas do PT no
Congresso para aprovar o ajuste. Apesar do empenho do vice-presidente
Michel Temer, o PMDB também resolveu negar seu apoio efetivo às medidas
propostas pelo governo para conter gastos sociais e trabalhistas e
aumentar a arrecadação.
Sem apoio político no Congresso, apesar
das declarações em contrário, Levy fracassou. Diante da situação,
cresceu a influência dos ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e da
Casa Civil, Aloizio Mercadante, que se opunham à meta estabelecida por
Levy e passaram a defender as medidas de flexibilização anunciadas
ontem. A queda de arrecadação acabou por inviabilizar a meta.
A perda de receita prevista é de R$
46,7 bilhões, sendo R$ 14,7 bilhões na Previdência. Ontem, Levy
anunciou que enviará ao Congresso um novo projeto de lei de alteração da
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), reduzindo a meta de resultado
primário. O corte de gastos será de R$ 8,6 bilhões, concentrado no
Executivo, que terá redução de R$ 8,474 bilhões.
O recuo de Levy
terá impacto perante investidores, ainda mais porque a crise política se
agrava com o enfraquecimento da presidente Dilma Rousseff, cada vez
mais impopular, e o avanço da Operação Lava-Jato, que atinge políticos
importantes da base do governo. O programa de investimentos em
infraestrutura lançado pelo governo com objetivo de alavancar a economia
no segundo semestre, por ora, não passa de miragem. Dilma voltou a
tomar decisões erráticas na economia.
Tigre tropical
Enquanto
Levy corre atrás do próprio rabo, um ensaio dos economistas Mansueto de
Almeida, Marcos de Barros Lisboa e Samuel Pessoa, intitulado
Desequilíbrio econômico é estrutural e exige medidas mais duras (FSP,
19/07/2015), faz a cabeça de empresários, investidores e políticos de
oposição. Ao apontar o desajuste das contas públicas, os economistas
afirmam que o equilíbrio fiscal vem sendo mantido há 12 anos mediante
“aumentos contínuos da carga tributária, comprometendo o crescimento e a
geração de emprego”.
O gasto público nos últimos anos foi
agravado pela política econômica e a concessão de subsídios e
benefícios, “nem sempre transparentes no Orçamento, em muitos casos
obrigações futuras não registradas como dívidas”. As previsões são
sombrias: “A menos que uma agenda extensa de reformas seja iniciada, com
a reversão da trajetória de aumento do gasto público, o Brasil estará
condenado, na melhor das hipóteses, a uma longa estagnação”.
Almeida,
Lisboa e Pessoa criticam a alteração do marco regulatório do pré-sal; a
intervenção no setor elétrico; o controle do preço dos combustíveis e
seu impacto negativo sobre os setores sucroalcooleiro e de óleo e gás;
as regras de conteúdo nacional; a proteção do setor automotivo; e a
concessão de subsídios e proteções a empresas privadas, que teriam
agravado o quadro fiscal e prejudicado o crescimento da produtividade.
A
corrupção na Petrobras e outras estatais seria “um dos efeitos
colaterais da tentativa fracassada de tropicalizar o modelo de
desenvolvimento do leste asiático, sem a escolaridade, as elevadas taxas
de poupança, e, principalmente, os mecanismos de controle e qualidade
na implantação das políticas públicas”.
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