Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 07/07/2015
O povo assiste “bestificado” à alta da inflação, ao
desemprego e ao escândalo da Petrobras. Mas há uma grande manifestação
“Fora, Dilma!” convocada pelas redes sociais
A presidente Dilma Rousseff convocou
ontem uma reunião de líderes e presidentes de partidos da base aliada
para uma demonstração de que não existe uma crise política, muito menos a
sua iminente deposição por uma conspiração envolvendo líderes da base
aliada e da oposição, como foi amplamente especulado no fim de semana.
Pela manhã, reuniu a coordenação de governo e escalou o vice-presidente
Michel Temer para dar uma inédita entrevista coletiva no Palácio do
Planalto, cuja principal afirmação foi a seguinte: “Não temos crise
política, porque significaria o fato de o governo não ter apoio do
Congresso Nacional. (…) Vocês veem que temos tido apoio do Congresso”,
disse. “Brincadeira!”, diria o falecido Bussunda.
Segundo Temer,
tanto a Câmara quanto o Senado aprovaram as medidas provisórias que
compõem o ajuste fiscal, proposto pelo Executivo para reduzir gastos e
reequilibrar as contas da União. “Eu faço distinção do interior da
palavra crise, que é usada muito genericamente, quando tem crise
econômica, crise política. O que não se quer é crise institucional”,
disse o vice-presidente.
Nada disso impediu que, nos bastidores do
Congresso, circulasse a estória de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva estaria se preparando para assumir a Casa Civil e Temer, a
pasta da Justiça, no lugar do petista José Eduardo Cardozo. Boatos são
cada vez mais frequentes em Brasília.
Políticos do primeiro time
costumam ser ardilosos, estrategistas, dissimulados e frios. Michel
Temer encabeça a lista de caciques do PMDB com esse perfil. Não costuma
cair com o barulho das balas, nem dá ponto sem nó. Hoje, é o principal
fiador do que ainda resta de governabilidade para Dilma Rousseff.
Não
foi muito diferente o comportamento de outros vices que assumiram a
Presidência, como Café Filho (PSP), após o suicídio de Getúlio Vargas,
em 24 de agosto de 1954, e Itamar Franco, com a renúncia de Fernando
Collor de Mello, em 2 de outubro de 1992, antes de o Congresso aprovar
seu impeachment. Em ambos os casos, houve muito povo na rua.
Duas táticas
Por
enquanto, apesar das manifestações de junho de 2013 e de 15 de março
deste ano, o povo assiste “bestificado” à alta da inflação, ao
desemprego e ao escândalo da Petrobras. Mas há uma grande manifestação
“Fora, Dilma!” convocada pelas redes sociais para 16 de agosto, que pode
ser engrossada pelos partidos de oposição. E existe, de fato, uma ampla
articulação política para que o vice Michel Temer assuma o poder, no
lugar de Dilma Rousseff, que já conta com a simpatia de setores
importantes do empresariado e do Congresso.
Os líderes do PMDB
tentam convencer Temer de que não há outra alternativa, porque a petista
não teria mais condições políticas de liderar o país. Argumentam que a
presidente chegou a um ponto sem retorno em termos de desaprovação
popular e perda de credibilidade. O impeachment de Dilma pelo Congresso
dependeria da rejeição de suas contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da
União (TCU) e de uma condenação das “pedaladas fiscais” no atual
mandato, o que configuraria crime de responsabilidade.
A oposição
ganhou força porque o PT se opõe cada vez mais ao ajuste do ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, e o PMDB resolveu mitigar as medidas do arrocho
fiscal. Com isso, a situação da economia se agravou. Além disso, as
investigações da Lava-Jato atingiram o Palácio do Planalto, abalando
ainda mais a imagem da presidente da República. Não há, porém,
unanimidade quanto ao impeachment.
O PSDB aposta na impugnação da
eleição de Dilma Rousseff por abuso de poder econômico e financiamento
ilegal de campanha, uma vez que as contas de campanha de Dilma Rousseff
ainda não foram aprovadas e serão julgadas brevemente, em meio às
denúncias de que teria recebido dinheiro sujo da corrupção na Petrobras.
Nesse caso, novas eleições teriam que ser convocadas, no prazo de 60
dias, com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), assumindo o
governo provisoriamente.
Essa proposta é criticada por setores do
establishment, que temem as incertezas de uma eleição disputada a toque
de caixa por Aécio Neves (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
Marina Silva (Rede). Preferem que Temer assuma e forme um governo de
salvação nacional, sem os petistas, para enfrentar a crise e conduzir o
país até as eleições presidenciais de 2018.
Diante dessas
articulações, a presidente Dilma Rousseff resolveu reforçar a
articulação política com os ministros Gilberto Kassab (Cidades), do PSD;
Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), do PCdoB; e Jaques Wagner (Defesa),
do PT; além do líder do governo no Senado, o senador Delcídio Amaral
(PT). Só falta mesmo convocar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que também ficaria blindado em relação ao juiz federal Sérgio Moro, de
Curitiba, o ferrabrás da Operação Lava-Jato.
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