Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 09/07/2015
A
presidente da República estaria dando sinais de esgotamento nervoso, devido ao
stress da carga de trabalho e à irritabilidade provocada pelo regime de
emagrecimento ao qual vem se submetendo
A avaliação dos políticos governistas às
declarações da presidente Dilma Rousseff sobre o impeachment, assunto da
coluna de ontem, também não foi nada boa para o Palácio do Planalto.
Segundo os aliados, gerou especulações de que a presidente da República
não tem uma estratégia para enfrentar as articulações da oposição contra
sua permanência no governo, provocou mais incertezas do que segurança
nos agentes econômicos e transformou uma tese dos bastidores da política
num assunto de conversa de botequins e padarias: a possibilidade de que
venha a ser afastada do cargo pela Justiça ou pelo Congresso.
Entre
ministros e assessores palacianos, indagava-se o por que de a
presidente da República não preparar sua entrevista. Dilma tratou do
assunto de forma muito restrita, sem consultar seu estado-maior. O
resultado foi uma espécie de desabafo, legítimo diante das acusações de
que sua campanha à reeleição teria recebido dinheiro desviado da
Petrobras.
Mas a situação em que se encontra — grande desaprovação
popular, economia ladeira abaixo e falta de governabilidade — exigia
mais do que isso. Ao não fazer uma análise lúcida da situação política
nem apresentar alternativas animadoras para a economia, Dilma, mais uma
vez, não conseguiu construir um raciocínio lógico, com começo, meio e
fim, sobre o momento que o país vive. A presidente da República já se
expressou melhor em público e, também, nas entrevistas exclusivas.
Na
linguagem popular, Dilma não estaria juntando lé com cré. Para alguns, a
presidente da República dá sinais de esgotamento nervoso, devido ao
stress da carga de trabalho e à irritabilidade provocada pelo regime de
emagrecimento ao qual vem se submetendo. Suspeita-se de que esteja sob
efeito de remédios. Medicamentos para emagrecer estão entre os mais
usados do mundo. A maioria das pessoas não consegue emagrecer por conta
própria — são “emagrecidas”.
Irritabilidade, estresse, insônia,
memória fraca, dificuldade de concentração, ansiedade, palpitações e
suores frios são sintomas que podem surgir em momentos de grande
estresse e durar vários dias. Alguns desses sintomas, porém, são traços
do comportamento da presidente da República já conhecidos de seus
colaboradores — a irritação, por exemplo —, mas a dificuldade de
concentração e concatenação de ideias vem sendo recorrente nas
entrevistas, embora Dilma, com suas pedaladas, também tenha aparentado
certo alheamento em relação à crise.
Ao contrário do que ocorreu
na viagem aos Estados Unidos, na qual as denúncias da Operação Lava-Jato
entraram na pauta como intrometidas, no encontro com o presidente
Vladimir Putin, ontem, em Ufa, a mil quilômetros de Moscou, o único
incidente foi um atraso de cinco minutos de Dilma, nos quais o anfitrião
ficou esperando a colega brasileira em público. A fala de Dilma, porém,
foi comedida e não tratou de política; apenas da economia.
Líderes
das duas únicas economias do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul) que não crescerão neste ano, Dilma e Putin
precisam ampliar o comércio bilateral. E esse foi o único tema da
conversa presenciada por jornalistas. “Temos grande interesse em ampliar
nosso investimento recíproco”, disse Dilma, que pretende atrair
empresas russas de portos e ferrovias para o programa de investimentos
em infraestrutura lançado no mês passado.
Nova derrota
Com
Dilma no exterior e Michel Temer no exercício da Presidência, o governo
sofreu nova derrota política ontem, desta vez no Senado, que aprovou a
medida provisória que mantém as atuais regras de reajuste do salário
mínimo para o período de 2016 a 2019. O reajuste é calculado pela soma
da variação da inflação (INPC) e do Produto Interno Bruto (PIB).
Governistas tentaram aprovar uma emenda que faria com que o texto
voltasse à Câmara, mas a mudança foi rejeitada. Não poderá haver
mudanças no mérito. A novidade no texto aprovado no Congresso em relação
ao original feito pelo Executivo é a extensão dos reajustes aos
benefícios de valor superior a um salário mínimo pagos pela Previdência
Social (aposentadorias e pensões). Essa mudança foi feita na Câmara,
depois de a comissão mista que analisou o texto ter rejeitado várias
emendas com esse objetivo. O governo é contra esse reajuste.
O
senador Paulo Paim (PT-RS) questionou se era justo deixar de ter uma
política para reajustar os benefícios de quem ganha acima de um salário
mínimo. “Se não houver uma política salarial que garanta que o benefício
do aposentado cresça, no mínimo, o correspondente ao salário mínimo,
com certeza, ligeirinho, ligeirinho, todos os aposentados do regime
geral ganharão somente um salário mínimo, não importando se pagaram
sobre 10, cinco, oito ou três”, argumentou. Votou com a oposição.
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