Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 22/10/2014
O marketing dos programas governamentais está
funcionando mais do que as críticas feitas pela oposição, que caiu na
armadilha petista: o confronto de imagens pessoais
Como
aconteceu no primeiro turno das eleições, a reta final da campanha
eleitoral revela grande volatilidade no posicionamento dos eleitores.
Uma parcela da população identificada como a nova classe média,
principalmente nos grandes centros urbanos, estaria indecisa em relação
aos candidatos a presidente da República e isso se refletiria nas
pesquisas.
Mais oito pesquisas serão divulgadas nos próximos
quatro dias, sendo três do Datafolha, duas do Ibope e do Sensus e uma do
MDA. Ou seja, há sondagens para todos os gostos. A grande incógnita é
saber se teremos uma “montanha russa” até domingo ou a chamada “boca de
jacaré” se abrindo. De qualquer forma, há que se considerar que as
pesquisas não estão batendo, dentro da margem de erro, com os resultados
eleitorais verdadeiros. Foi o que ocorreu no primeiro turno.
Segundo
o Datafolha de segunda-feira, Dilma tinha 43% dos votos e passou para
46%; Aécio, caiu de 45% para 43%. Os votos brancos e nulos baixaram de
6% para 5%, e os indecisos continuam sendo 6%. Aécio venceria no Sudeste
(49% a 40%), no Sul (51% a 33%) e no Centro-Oeste (48% a 39%); Dilma,
no Nordeste (64% a 27%) e no Norte (55% a 39%). Nos votos válidos, Dilma
tem 52% e Aécio, 48%. É um empate técnico no limite máximo da margem de
erro, de dois pontos para mais ou para menos. Nas duas rodadas
anteriores, Aécio esteve à frente, com 51% a 49%.
Como explicar
esse resultado, uma vez que as três regiões onde Aécio é vencedor têm um
contingente eleitoral maior do que a controlada por Dilma Rousseff?
Muito simples: a vantagem de Aécio caiu no Sudeste, no Sul e no
Centro-Oeste, e a de Dilma aumentou no Norte e Nordeste. O que garante a
petista nessas regiões não é o Bolsa Família, é o apoio das velhas
oligarquias nas regiões mais atrasadas do país.
A desconstrução
O
último Datafolha mostrou mais uma vez que a estratégia de
“desconstrução” da imagem dos adversários adotada pelo marqueteiro do
PT, João Santana, pode funcionar contra Aécio Neves. Foi bem-sucedida no
primeiro turno, quando desidratou Marina Silva. O tucano vem resistindo
aos ataques, mas enfrenta um verdadeiro Sujismundo — aquele personagem
criado pelo publicitário Ruy Perotti durante o regime militar, na
campanha “Povo desenvolvido é povo limpo”, que pegou como apelido do
sujeito que gosta de imundície.
Houve de tudo na campanha
eleitoral, principalmente nas redes sociais, mas também nos comícios, em
alguns momentos protagonizados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Nos grotões e nas periferias do país, o PT espalha que Aécio
Neves acabará com o Bolsa Família; nas cidades, que vai arrochar os
salários dos trabalhadores. Nos bancos oficiais — que têm grande
capilaridade por todo o país —, que privatizará a Caixa Econômica
Federal (CEF) e o Banco do Brasil (BB). Na Petrobras, esse discurso não
cola mais por causa dos escândalos.
A campanha de
“desconstrução” foi tão suja que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
baixou novas normas em plena campanha e passou a punir com a perda do
tempo de televisão e rádio candidatos que usam o horário eleitoral para
fazer ataques aos adversários em vez de apresentar propostas. O ministro
Admar Gonzaga, em decisão tardia e salomônica, deu uma no cravo e outra
na ferradura: Dilma perdeu quatro minutos de suas inserções na tevê e
72 segundos no programa de rádio. Aécio foi penalizado com a perda de
dois minutos e meio de suas inserções televisivas.
Mas não foi
só isso o que mexeu com as tendências nas pesquisas. Melhorou a da
avaliação do governo, já que 42% julgam a gestão de Dilma Rousseff ótima
ou boa. Esse é o melhor patamar desde junho de 2013, mês dos grandes
protestos de rua. Ou seja, o marketing dos programas governamentais está
funcionando mais do que as críticas feitas pela oposição, que caiu na
armadilha petista: o confronto de imagens pessoais fez subir a rejeição
de Aécio.
Nas redes sociais, porém, petistas e tucanos se
digladiam sem regras definidas. O Facebook tem 96 milhões de usuários no
Brasil, dos quais 47% estão concentrados em São Paulo, em Minas Gerais e
no Rio de Janeiro. Aécio tem 3,02 milhões de fãs; Dilma, 1,6 milhão. O
Twitter tem 22 milhões de usuários no Brasil. Dilma tem 2,9 milhões de
seguidores; Aécio, 185,4 mil. Nesse ambiente virtual, vale tudo, desde
morder a orelha até enfiar o dedo no olho do adversário.
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