Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 28/10/2014
A escolha do novo ministro tornou-se fundamental para
uma mudança nas relações entre o governo e a própria presidente da
República com os setores produtivos do país
Os mercados reagiram
negativamente à eleição da presidente Dilma Rousseff (PT), com a Bolsa
de São Paulo despencando, principalmente por causa da queda das ações da
Petrobras e de outras estatais. Estava escrito nas estrelas que isso
ocorreria. Dilma, no discurso da vitória, não sinalizou claramente o que
pretende na economia. E o ministro Guido Mantega, da Fazenda, não tem
muito o que fazer, a não ser arrumar as gavetas e, melancolicamente,
esperar o substituto. O problema é que ninguém sabe quem será esse cara.
Ontem,
a bolsa de apostas quanto ao futuro do cargo estava agitada. Havia
nomes para todos os gostos, desde o do presidente do Bradesco, Luiz
Carlos Trabuco, ao do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que
vinha sendo o porta-voz de Dilma durante a campanha nos temas
econômicos. Especulava-se também com os nomes do ex-presidente do Banco
Central (BC) Henrique Meirelles e do ex-ministro da Fazenda Antonio
Palocci, que seriam supostamente os favoritos do ex-presidente Lula.
Outros nomes cotados são os do ex-secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda Nelson Barbosa; do presidente do BNDES, Luciano
Coutinho; e do empresário Josué Gomes da Silva, da Coteminas.
Apesar
de muito radicalizada, a campanha eleitoral produziu alguns consensos
entre Dilma e a oposição: as conquistas sociais precisam ser mantidas, a
corrupção na administração pública deve ser contida, é preciso reduzir a
inflação e voltar a crescer, a educação precisa de um salto de
qualidade, urge um basta à violência, as questões ambientais, climáticas
e energéticas devem ser consideradas mais seriamente, vide o problema
da seca no Sudeste, principalmente em São Paulo. O problema é que os
recursos públicos para isso são limitados e as mágicas contábeis do
secretário do Tesouro, Arno Augustin, não resolvem isso.
Sendo
assim, a escolha do novo ministro da Fazenda tornou-se fundamental para
uma mudança nas relações entre o governo e a própria presidente da
República com os setores produtivos do país. Haveria dois caminhos a
seguir: o predomínio de uma política econômica centrada no “mais do
mesmo” — câmbio flutuante, meta de inflação e superavit fiscal — ou os
experimentos da “economia política”, com manutenção da rota
intervencionista no mercado adotada no primeiro mandato. A retórica da
campanha eleitoral foi uma afirmação da segunda opção, mas o resultado
apertado sugere ao governo ir mais devagar com o andor e trilhar a primeira.
O plebiscito
Um fator político pode ser complicador
para o governo no Congresso: a tese de um plebiscito para fazer a
reforma política. Há muitas restrições a esse tipo de solução entre os
constitucionalistas — a começar pelo vice-presidente, Michel Temer
(PMDB). O PT tentou várias vezes aprovar propostas como o voto em lista e
o financiamento público de campanha, mas não conseguiu convencer os
próprios aliados de que essa seria a melhor alternativa. A proposta do
plebiscito surgiu durante as manifestações de junho do ano passado, no
bojo de várias articulações do Palácio do Planalto com lideranças dos
jovens que participaram dos protestos. Eleitoralmente, foi uma
estratégia bem-sucedida, principalmente no segundo turno, quando esses
líderes declararam apoio à reeleição de Dilma.
Ocorre, porém, que
a representação desses setores no Congresso é irrisória, mesmo se
considerando a taxa de renovação de 39%. Dos 513 deputados federais, 290
são políticos reeleitos e 25 deputados estão voltando à Casa. Entre os
138 novos deputados, a maioria é formada por políticos tradicionais
(ex-prefeitos e ex-deputados estaduais), e alguns novatos são herdeiros
de velhos clãs políticos. Não será fácil para Dilma articular a base do
governo para fazer a reforma. E o tema do plebiscito não unifica os
partidos aliados.
Mesmo que a presidente Dilma não goste disso, o
país saiu das urnas dividido. A derrota de Aécio Neves (PSDB), em
termos de votação, é autoexplicativa: a votação imprevista em Minas
Gerais. O estado é um mosaico da realidade econômica e social do país. A
vitória de Dilma em Minas desequilibrou a balança. Mas,
independentemente disso, o político mineiro é agora um líder nacional,
ao lado de outros oposicionistas, como José Serra, Geraldo Alckmin e
Marina Silva. Durante o segundo turno, essas lideranças caminharam
juntas. Construíram uma agenda comum que pautará atuação da oposição, e
Dilma deveria levar isso em conta.
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