Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 01/10/2014
Quatro
pontos percentuais dos "nanicos" poderão garantir o segundo turno, caso
Dilma continue roubando mais votos de Marina do que Aécio
Dois candidatos de esquerda são coadjuvantes da presidente Dilma
Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) na “desconstrução” da candidatura de
Marina Silva, embora não se beneficiem eleitoralmente como ambos da
desidratação da candidata do PSB: Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro
(PSol). Fragilizam o discurso de Marina ao fazer um contraponto às
tentativas da candidata socialista no sentido de ampliar os apoios
políticos ao seu projeto de poder e permanecer como “terceira via”
alternativa à polarização PT versus PSDB.
Histriônico, mas
autêntico, o candidato do PV faz uma campanha onde ostenta um visceral
compromisso com a verdade e com seus próprios pontos de vista sobre a
realidade, indiferente ao politicamente correto, o que atrai simpatias
nos debates, mas não lhe dá votos. Faz uma campanha alternativa, sem
perspectiva nenhuma de vitória, a ponto de passear de bicicleta, sem
identificação no capacete ou na camisa, pela Avenida Paulista no
domingo, pouco preocupado se estava sendo reconhecido ou não por seus
eventuais eleitores.
No debate da Record, domingo, fez o mais
duro ataque até agora ao programa Mais Médico, carro-chefe da campanha
de Dilma Rousseff, afirmando com todas as letras que os médicos cubanos
vivem num regime de “trabalho escravo”. Eduardo Jorge foi criticado por
Luciana Genro por ter sido secretário de José Serra (PSDB) e Gilberto
Kassab (PSD), mas revelou não estar nem aí para a velha divisão esquerda
versus direita e disse que não é nem capitalista, nem socialista, é
ecologista e apoia qualquer proposta a favor da sustentabilidade, venha
de onde vier. É mais ou menos isso que sua candidatura representa.
Provavelmente, seu partido continuará colaborando com quem ganhar as
eleições. Eduardo Jorge contribui para “descontruir” Marina sempre que
desnuda a aproximação da candidata do PSB com setores que
tradicionalmente criticam os ambientalistas.
Já Luciana Genro
(PSol) representa o pensamento da esquerda radical que faz oposição ao
PT e Dilma Rousseff por suas alianças conservadoras e programa
social-liberal. O PSol atraiu uma parcela da juventude que participou
das manifestações de junho do ano passado e poderia ter ido dar mais
vida à candidatura de Marina Silva. Isolou essa militância da grande
massa do eleitorado por causa de suas posições esquerdistas. Nos debate
eleitorais, sempre que pode, Luciana Genro ataca duramente a candidata
do PSB, descaracterizando-a como uma alternativa à esquerda. Com isso,
ajuda a empurrar a candidata do PSB para a posição na qual a presidente
Dilma Rousseff pretende mantê-la, ou seja, como candidata das elites
econômicas, principalmente dos banqueiros.
No último debate da
Record, Luciana Genro levantou a bola para a polêmica declaração
homofóbica do candidato do PRTB à Presidência, Levy Fidelix. Mas reagiu
de maneira tímida à resposta grosseira do adversário conservador. Agora,
corre atrás do prejuízo: com o deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ),
entrou com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cobrando
punição a Fidelix “por ter incitado o ódio e a violência contra a
população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais)”.
O
episódio, porém, criou um fato novo no debate eleitoral, resgatando a
discussão sobre as questões de gênero, que andava meio escanteada. Todos
os candidatos foram obrigados a se posicionar sobre o tema. Dilma
voltou a defender a criminalização da homofobia. Aécio criticou Fidelix.
“Quero expressar nosso repúdio absoluto àquela declaração. Como já
disse, qualquer tipo de discriminação é crime. Homofobia também”, disse o
tucano. Marina Silva (PSB) também rebateu as ofensivas, alegando que a
Rede Sustentabilidade estuda representar contra o candidato. “Posturas
como essa, ecoadas por pessoas públicas, somente reforçam o preconceito
que vitimiza milhões de pessoas no país”, defendeu.
Com pouco
tempo de televisão, sem recursos e isolados politicamente, Eduardo Jorge
e Luciana Genro têm 1% dos votos cada, assim como o Pastor Everaldo
(PSC), cujo discurso conservador busca não somente o voto evangélico,
mas também o eleitor à direita do espectro político. Os três vão cumprir
um papel importante no processo eleitoral, pois esses três pontos
percentuais poderão garantir a realização do segundo turno caso a
presidente Dilma Rousseff continue roubando mais votos de Marina Silva
do que Aécio Neves.
Ponto zero
Há ainda três
candidatos de ultraesquerda na disputa eleitoral, que não marcaram
pontos nas pesquisas: Mauro Iasi (PCB), Zé Maria (PSTU) e Rui Costa
Pimenta (PCO). Os três reivindicam a herança do comunismo. O mesmo
acontece com Eymael (PSDC), que se autodefine como um democrata-cristão.
Juntos, esses candidatos somam mais um ponto percentual. Contribuem,
pois, para a existência de segundo turno.
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