Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense; 29/10/2014
A proposta de plebiscito para a
 reforma política, que atende aos anseios de alguns setores organizados 
da sociedade, não encontrou ressonância no Senado e na Câmara, a começar
 pelo PMDB
 A proposta de plebiscito para a
 reforma política, que atende aos anseios de alguns setores organizados 
da sociedade, não encontrou ressonância no Senado e na Câmara, a começar
 pelo PMDB, que só aceita aprovar a reforma no Congresso e, depois, 
submetê-la a um referendo popular. Essa é a posição do presidente do 
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que é apoiada pelo presidente da 
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O diálogo da presidente Dilma 
Rousseff com a base começa, assim, com ruídos na comunicação.
Os 
comandos das duas Casas, porém, estão na iminência de mudar de mãos. 
Henrique Eduardo Alves, derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande 
do Norte, está se despedindo da Casa, da qual é decano. A liderança em 
ascensão é o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que ontem fez uma 
recepção para sua bancada e hoje inicia as articulações da candidatura a
 presidente da Câmara com os demais partidos. 
Tudo o que a 
presidente Dilma Rousseff não quer é vê-lo ditando a pauta da Casa. Não 
foi à toa que ontem chamou o vice-presidente Michel Temer para 
conversar, antes de sair em férias. O presidente do PMDB saiu do 
encontro defendendo o acordo do PT com o PMDB que garante o revezamento 
entre os dois partidos no controle do cargo. Nesse caso, na próxima 
legislatura, a presidência da Câmara caberia ao PT. Para Cunha, aceitar o
 acordo é mais ou menos como deixar o cavalo passar arreado.
A 
novidade maior, porém, parece vir do Senado. Renan Calheiros sinalizou 
que não pretende concorrer à reeleição. Seu substituto natural seria o 
líder da bancada do PMDB, Eunício de Oliveira, que acaba de ser 
derrotado na disputa pelo governo do Ceará e volta a Brasília cheio de 
mágoas em relação ao Palácio do Planalto, pois foi batido pelo 
candidato do PT, Camilo Santana, apoiado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, 
ambos do Pros. Dois ministros de Dilma deverão voltar ao Senado: 
Garibaldi Alves (RN), da Previdência, e Edison Lobão (MA), de Minas e 
Energia. O ex-presidente José Sarney, esteio governista, está encerrando
 a carreira parlamentar. 
O PT sempre teve gana de disputar o 
comando das duas Casas. Na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP) e Marco Maia 
(RS) não escondem o desejo de voltar ao cargo. O líder do governo, 
Henrique Fontana (RS), é outro interessado. Se houver acordo com o PMDB,
 a disputa será decidida na própria bancada petista: se não houver, 
Chinaglia é o nome de mais trânsito entre os pares. No Senado, é muito 
provável que o PT tente articular uma candidatura alternativa. Jorge 
Viana (AC) não esconde o desejo de comandar a Casa. Na base governista, o
 senador Ciro Nogueira (PP) também gosta de uma boa briga.
Quem 
ganha espaço nesse cenário é a oposição, que pode virar o fiel da 
balança nessas disputas, se o PMDB e o PT não chegarem a um acordo. 
Tradicionalmente, o PSDB costuma defender o princípio de que a maior 
bancada deve indicar o presidente da Câmara e do Senado, mas, se houver 
um “despelote” governista, a oportunidade não será desperdiçada. 
Agenda cabeluda
Dilma
 acalmou o mercado ao anunciar que pretende mudar a equipe econômica, 
mas permanece no ar uma agenda de campanha eleitoral que gera tensões 
políticas e ainda inquieta o mundo empresarial: além do plebiscito, há 
propostas de controle social da mídia, formação de conselhos populares 
para decidir sobre políticas públicas (que a Câmara derrubou ontem e agora vai ao Senado) e revisão da Lei da Anistia, entre
 outras. 
Durante a campanha, Dilma acusou a oposição de planejar
 um choque na economia, com alta de juros, cortes nos gastos públicos e 
outras medidas de caráter recessivo, que poderiam provocar desemprego. 
Agora, está diante da necessidade de reajustar o preço da gasolina, 
dividir os prejuízos do setor elétrico com os consumidores e aumentar 
ainda mais a taxa de juros para conter a inflação. Ou seja, fazer um 
pouco daquilo que disse que os adversários fariam. 

 
 
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