Correio Braziliense - 12/10/2014
A candidata petista tenta ganhar tempo ao falar em “tentativa de golpe” e “vazamento de informações” em vez de agir “doa a quem doer” e passar a limpo os malfeitos da Petrobras
Enquanto o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, cobra explicações da presidente Dilma Rousseff sobre os escândalos envolvendo a Petrobras, a candidata petista reforça o discurso de que as denúncias estão sendo apuradas por seu governo, “doa a quem doer”. Na verdade, bateu um desespero no estado-maior petista, que se fechou em copas. O presidente do PT, Rui Falcão, defende o tesoureiro da legenda, que corre o risco de virar um novo Delúbio Soares, o ex-tesoureiro petista condenado no mensalão.
O comportamento dos acusados na Operação Lava-Jato, porém, foge à lógica de atuação de envolvidos em escândalos como esse, por causa da chamada “delação premiada”, na qual os réus colaboram com a Justiça para receber penas mais leves. Desprezaram o esquema clássico de defesa adotado pelos advogados criminalistas, que se baseia no chamado “Dilema do Prisioneiro”, um problema clássico da Teoria dos Jogos.
O que fazer?
Originalmente formulado por Merrill Flood e Melvin Dresher em 1950, o problema foi aperfeiçoado por Albert W. Tucker, que adicionou o tempo da sentença de prisão ao problema original e deu-lhe o nome pelo qual ficou famoso. Há várias versões, mas o esquema clássico funciona assim: dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia, que não tem provas suficientes para os condenar. Então, separa-os em salas diferentes e oferece a ambos o mesmo acordo:
1- Se um dos prisioneiros confessar (trair o outro) e o outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos.
2- Se ambos ficarem em silêncio (protegerem um ao outro), a polícia só pode condená-los a 1 ano cada um.
3- Se ambos confessarem (traírem o comparsa), cada um leva 5 anos de cadeia.
Cada prisioneiro faz a decisão sem saber a escolha do outro — eles não podem conversar. Como o prisioneiro vai reagir? Os prisioneiros não podem combinar a decisão (estão em salas isoladas e sem comunicação) e devem escolher simultaneamente. Cada jogador quer ficar preso o menor tempo possível, ou seja, maximizar seu resultado individual. Qual a melhor decisão? Considerando os incentivos oferecidos, a mais racional é trair.
Trair é uma solução de equilíbrio, já que cada um pegará 5 anos de pena. Se o prisioneiro A mudar unilateralmente para colaborar, sai perdendo (15 anos); o mesmo ocorrendo com o prisioneiro B. A melhor solução no “Dilema dos Prisioneiros”, porém, é ficar em silêncio: cada um cumpriria apenas um ano de prisão. Ou seja, a escolha da melhor solução individual conduz à traição mútua, enquanto que o silêncio, isto é, a solução coletiva, proporcionaria melhores resultados. Foi a estratégia adotada pelos réus do “mensalão”.
No “Dilema dos Prisioneiros”, os incentivos e a racionalidade induzem a um resultado pior porque as pessoas não podem conversar e combinar as ações. Se fizessem acordo prévio, tudo se resolveria, certo? Errado. Isso não é necessariamente verdade. Se um suspeito quer ficar em silêncio, ninguém garante que o seu parceiro fará o mesmo? É o que está acontecendo na Operação Lava-Jato. Daí o dilema posto para a presidente Dilma Rousseff em plena campanha eleitoral.
Qual será a reação dos aliados do PT, do PP e do PMDB que forem jogados ao mar por causa das denúncias do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef? Vão seguir a estratégia do “Dilema do Prisioneiro” ou aderir à “delação premiada”? Aparentemente, a candidata petista tenta ganhar tempo ao falar em “tentativa de golpe” e “vazamento de informações” em vez de agir “doa a quem doer” e passar a limpo os malfeitos da Petrobras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário