Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 02/10/2014
A grande incógnita da disputa de primeiro
turno é quem vai para o segundo contra Dilma. Marina está numa
trajetória de queda, enquanto Aécio sobe
O grande maestro Tom Jobim dizia
que o Brasil não é para principiantes. A frase é famosa, já foi usada
por um candidato contra uma candidata, mas está valendo mais do que
nunca nessa reta final da campanha eleitoral, na qual a presidente Dilma
Rousseff (PT) tirou o salto alto e saiu de tamanco na mão pra cima dos
adversários. Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) que se cuidem no
debate de hoje à noite, na TV Globo, porque a turma do PT é da pesada. A
pancadaria será do pescoço pra cima.
Mesmo com o PT usando tudo o
que pode — até a estrutura dos Correios para distribuir material de
campanha com exclusividade e sem a devida chancela, o que seria
considerado crime eleitoral em qualquer país sério — às vésperas da
eleição, as pesquisas ainda apontam para a realização do segundo turno
na disputa pela Presidência. As chances de vitória de Dilma no primeiro
turno são remotas. Os petistas e seus aliados espalham, na reta de
chegada, que Dilma vai ganhar no primeiro turno. Tentam sufocar a
oposição com o clima de “já ganhou”.
A grande incógnita da
disputa de primeiro turno continua sendo quem vai para o segundo contra
Dilma. Marina está numa trajetória de queda, enquanto Aécio sobe. Há
cinco pontos apenas de diferença entre ambos. É uma disputa emocionante,
uma vez que as curvas das pesquisas Datafolha e Ibope mostram que podem
chegar empatados no domingo.
Nos melhores momentos da campanha,
Aécio chegou a 23%, tanto na pesquisa Sensus de abril quanto no Ibope
de agosto. Depois, foi volatilizado pela morte do candidato do PSB,
Eduardo Campos, que catapultou Marina. O tucano, porém, gradativamente
conseguiu se recuperar e já está quase de volta a esse patamar. A
distância da candidata do PSB para Aécio caiu de nove para cinco pontos
em quatro dias, Marina perdeu nove pontos neste mês, e o tucano ganhou
seis pontos.
Dilma tem 15 pontos percentuais de vantagem sobre
Marina. Bate duro na candidata do PSB, que caiu em algumas armadilhas
petistas, duas das quais estão custando muito caro: a de que é a
candidata dos banqueiros e a de que mentiu quanto à votação da CPMF. Sem
tempo de televisão para se defender ou atacar, Marina continuará
sangrando até o dia da eleição. É aí que Aécio cresce como candidato de
oposição. Parece que a migração de votos de Marina para Dilma chegou ao
limite. Resta saber se continuará caindo e se esses votos serão
capturados por Aécio.
O imponderável da eleição no primeiro turno
é o comportamento vacilante dos eleitores na última semana de campanha
eleitoral. Segundo o Ibope, um terço do eleitorado é contra o PT, mas
está dividido: 36% dos votos vão para Aécio, que está tecnicamente
empatado com Marina, que tem 40%. Nessa faixa, ainda há 15% de votos
brancos e nulos. Uma grande parcela de eleitores, porém, ainda pode
mudar de candidato. São 32% dos eleitores de Marina, 21% de Dilma e 20%
de Aécio. E há 15% de indecisos, que ainda não sabem em quem votar. Ou
seja, a reta de chegada será na areia movediça.
Conta outra
Essa
polêmica sobre a CPMF, o imposto do cheque, pode se voltar contra
Dilma, que tenta desmoralizar Marina. A candidata do PSB votou contra o
tributo quando era senadora petista, mas foi a favor do fundo criado
para beneficiar o Bolsa Família com os recursos arrecadados dos
correntistas, projeto do falecido senador Antônio Carlos Magalhães
(DEM). Vale destacar que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criou
a CPMF, quando era ministro da Fazenda de Itamar Franco; depois, o PSDB
de Aécio Neves votou pelo fim do tributo, no governo Lula.
O PT
culpa o fim do imposto pela crise na saúde, mas isso não é verdade,
porque a arrecadação federal continuou aumentando. Mesmo assim, a
governo sempre quis recriar a CPMF. Talvez Dilma Rousseff esteja
pensando nisso para tapar o rombo das contas públicas. Segundo o Banco
Central, o deficit primário de agosto chegou a R$ 14,5 bilhões. Dos R$
99 bilhões que deveria economizar, o governo só economizou R$ 10 bilhões
em oito meses.
Mais pesquisas
Não faltarão
pesquisas nessa reta final: hoje tem Datafolha, Sensus e Ibope; no
sábado, MDA, Ibope, Vox Populi, Datafolha e Sensus; e, do domingo, Ibope
(boca de urna).
Nenhum comentário:
Postar um comentário