Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 07/10/2014
O eixo da disputa eleitoral pode ser o moderno contra o atrasado, a social-democracia contra o populismo, a sociedade contra o Estado, a democracia contra o autoritarismo
Ontem, estrategistas das duas campanhas se reuniram com os candidatos para fazer um balanço do resultado das urnas e decidir o que fazer. Uma análise prospectiva leva à conclusão óbvia: o resultado das urnas foi melhor para Aécio do que se esperava. Dilma trabalhou na reta final para ganhar a eleição no primeiro turno, mas não atingiu o objetivo porque aconteceu o que parecia impossível: perdeu votos para o tucano. Para quem estava perdendo em Minas Gerais e enfrentou dificuldades para consolidar sua candidatura em São Paulo, Aécio Neves saiu no lucro. E que lucro!
Em São Paulo, estado no qual o tucano Geraldo Alckmin foi eleito com folga no primeiro turno (57,31% do total de votos) e José Serra teve uma votação consagradora para o Senado (58,49%), Aécio Neves teve 43, 7% dos votos; Dilma, 26,1%; e Marina 23,9%. Dificilmente os votos de Marina migrarão para a petista, sobretudo por causa dos duros ataques que sofreu durante a campanha. A captura desses votos por Aécio pode decidir a eleição a seu favor, caso consiga também reverter a situação eleitoral em Minas Gerais e abrir a porteira do Nordeste, com o apoio do clã Arraes em Pernambuco. Essa é a grande encruzilhada da eleição.
Dilma venceu em 15 estados, três a menos do que na eleição do ano passado, com destaque para o Piauí, Maranhão e Ceará, onde obteve mais de 70% dos votos. Aécio venceu em nove estados, sendo São Paulo, com 44% dos votos, o determinante para sua ida ao segundo turno. A maior vantagem de Dilma foi na Bahia, com 3 milhões de votos a mais do que Aécio. Em termos político, sua vitória mais expressiva foi a eleição de Fernando Pimentel (PT) em Minas Gerais, terra de Aécio Neves, mas eleitoralmente essa vantagem é muito relativa, por causa da votação apertada em relação ao tucano (43% a 39%), que pode reverter o resultado porque foi para o segundo turno. A mesma situação se repete do Rio Grande do Sul, onde Dilma venceu também por estreita margem: 43% a 41%, com Marina recebendo 12% dos votos.
Dois Brasis
Mais uma vez o resultado das urnas mostra um país dividido: o governo tem sua principal base de sustentação nos estados do Norte e Nordeste, com exceção de Roraima e Rondônia, onde Aécio venceu, Acre e Pernambuco, territórios de Marina. Aécio foi vitorioso no Centro-Oeste, com exceção de Tocantins; no Sudeste, graça a São Paulo e Espírito Santo; e no Sul, com exceção do Rio Grande do Sul. Grosso modo, do ponto de vista das alianças, Dilma sustenta a reeleição na composição com as oligarquias dos estados de menor dinamismo econômico, enquanto Aécio alavanca sua candidatura na classe média dos estados economicamente mais desenvolvidos.
A política de transferência de renda para as populações mais pobres, que é feita pelas prefeituras municipais, cimenta essa aliança petista com forte base popular. Logo após a apuração dos votos, a presidente Dilma Rousseff ensaiou o discurso do segundo turno, com duros ataques ao governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e a reedição da estratégia do medo (do desemprego, do arrocho salarial, da perda dos direitos trabalhistas e a reversão dos programas sociais do governo). Essa é a velha cartilha petista contra o PSDB, a polarização ideológica direita versus esquerda e dos pobres contra os ricos, que costuma ser a marca registrada da retórica eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Um olhar atento para o mapa eleitoral do país mostra, porém, que o eixo da disputa eleitoral pode ser o moderno contra o atrasado, a social-democracia contra o populismo, a sociedade contra o Estado, a democracia contra o autoritarismo, a Federação contra a centralização, que tende a ser a lógica do discurso de Aécio contra Dilma. Aquele que estiver em mais sintonia com os sentimentos do eleitor levará a melhor.
Um comentário:
Tocantins é na região norte, também não me conformo !!
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