Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 08/10/2014
Aécio
se esforça para seduzir os aliados de Marina, que ainda discutem o que
fazer no segundo turno, com exceção do PPS, cuja executiva decidiu ontem
apoiar o tucano sem grandes exigências
O
candidato da Coligação Muda Brasil à Presidência da República, Aécio
Neves, reafirmou ontem seu compromisso com a proposta de um mandato de
cinco anos para todos os cargos públicos e fim da reeleição para
presidente, governador e prefeito. A proposta é uma das três exigências
da candidata do PSB, Marina Silva. As outras duas também não são nenhum
problema: a educação integral e o desenvolvimento sustentável. Isso
significa que o apoio da terceira colocada está quase garantido. Falta
combinar com o PSB e a Rede, que se reunirão hoje.
“Não estamos
falando do fim da reeleição para presidente da República apenas, em que a
decisão unilateral do candidato resolveria o problema. Estamos falando
de reeleição de governadores e de prefeitos. Precisa haver um
entendimento no Congresso Nacional em relação a isso”, explica Aécio.
Segundo o tucano, a atuação de Dilma na Presidência da República acabou
degradando o conceito de reeleição, graças à “mistura sem limites entre o
público, o privado e o partidário”.
Aécio se esforça para
seduzir os aliados de Marina, que ainda discutem o que fazer no segundo
turno, com exceção do PPS, cuja executiva decidiu ontem apoiar o tucano
sem fazer grandes exigências, apenas destacando o que há de comum entre a
legenda e o PSDB. O posicionamento da coligação — que, além de PSB e
PPS, inclui PHS, PPL, PRP e PSL — somente será anunciado amanhã. Segundo
Roberto Freire, o fato de o PPS apoiar Aécio antes da coligação é
normal. “Tem autonomia para decidir o que deve fazer da sua vida”,
disse.
Na cúpula do PSB, que deve se reunir hoje, instalou-se
uma disputa entre o atual presidente Roberto Amaral, que defende uma
posição de independência, e o deputado Beto Alguquerque, vice de Marina,
que apoia Aécio. Na Rede Solidariedade, o círculo mais próximo de
Marina também defende o apoio a Aécio, mas há lideranças que desejam a
independência. Um dos coordenadores de campanha da candidata do PSB,
Walter Feldman, antecipou que Marina não assumirá uma posição de
neutralidade. Pretende ser protagonista no segundo turno.
O PT
sentiu o golpe e o presidente da sigla, Rui Falcão, reiterou a
disposição da legenda de buscar uma reaproximação da ex-senadora acriana
com Dilma, o que é praticamente impossível a essa altura do campeonato,
por causa dos duros ataques dos petistas à candidata do PSB. O discurso
do dirigente partidário, porém, mira os eleitores de Marina.
Dilma e aliados
O
ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, deixou o cargo para
reforçar a campanha eleitoral petista. Uma de suas tarefas será fazer
interlocução com setores empresariais, nos quais Armínio Fraga,
responsável pelo programa econômico de Aécio, nada de braçada. A
presidente Dilma Rousseff comunicou a decisão num encontro com 35
senadores e governadores eleitos, presidentes de partidos da base, além
de atuais governadores e senadores. Apesar disso, a petista minimizou o
peso desses apoios na decisão de voto dos eleitores. “Fico feliz quando
me apoiam. Sei perfeitamente, pela experiência política, que ninguém é
dono de eleitor.”
O problema crucial de Dilma é a baixa votação
que obteve em São Paulo. “Achamos São Paulo um estado muito importante.
Eu pretendo dar toda atenção, olhar com muito cuidado, inclusive
propostas específicas para São Paulo, e abrir o debate, a discussão e a
comunicação em todos os setores de São Paulo.” A primeira medida quanto a
isso foi escalar o candidato petista derrotado Alexandre Padilha para
coordenar a campanha no estado.
A campanha de Dilma Rousseff
será reiniciada pelo Nordeste, com a ajuda do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, pois o comando da campanha teme um avanço do tucano na
região, principalmente depois que os governadores eleitos de Pernambuco,
Paulo Câmara (PSB), e do Maranhão, Flávio Dino (PcdoB), manifestaram a
intenção de apoiar Aécio.
Durante a reunião com os aliados,
Dilma voltou a elogiar os governos do PT, dizendo que com a expansão da
classe média foi possível modificar a pirâmide social do país, onde
havia mais pobres do que membros das demais classes sociais. “Isso que
transformou o Brasil de forma pacífica e silenciosa, a modificação na
distribuição de renda que levou a esse perfil diferenciado.” Dilma
defendeu que os próximos governos devem “melhorar a qualidade do emprego
para a classe média brasileira”, sem deixar de olhar para os pobres.
Essa é a principal aposta da estratégia governista.
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