Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 30/10/2014
Ninguém sabe exatamente o que o doleiro revelou, mas quem foi beneficiado pelo esquema da Petrobras tem
consciência de quanto recebeu e como o dinheiro chegou
O doleiro Alberto Youssef deixou ontem o
Hospital Santa Cruz, em Curitiba, após receber alta e retornou para a
sede da Polícia Federal. Fora hospitalizado após passar mal na
carceragem da PF em Curitiba, com forte queda de pressão, sendo
internado, na UTI coronariana, o que deu origem a uma onda de boatos à
véspera das eleições, de que teria sido envenenado. Na manhã de domingo,
nas redes sociais, chegou a circular que ele havia morrido.
Youssef
voltará à rotina de depoimentos ao juiz federal Sérgio Moro,
considerado uma das maiores autoridades do país em crimes de lavagem de
dinheiro por sua atuação no caso Banestado e, depois, como auxiliar da
ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber no julgamento do
mensalão. Preso desde março deste ano, o doleiro é acusado de chefiar um
esquema de desvio e lavagem de dinheiro, estimado em R$ 10 bilhões,
desvendado pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, mas entrou em
acordo com os procuradores do Ministério Público Federal (MPF) para
obter o benefício da delação premiada.
O doleiro se comprometeu a
dizer tudo o que sabe sobre o esquema de lavagem de dinheiro que
chefiava, em troca de reduções nas penas que podem lhe ser imputadas.
Segundo os bastidores da investigação, suas revelações são muito mais
contundentes do que as do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da
Costa, que já obteve o benefício da delação premiada. Toda a
contabilidade do esquema de desvio de recursos da Petrobras em poder da
Polícia Federal estaria sendo destrinchada pelo doleiro nos depoimentos
ao juiz federal.
Cerca de 80 políticos com mandato estariam
envolvidos no esquema de desvio de recursos, segundo as investigações da
Lava-Jato. Com as planilhas, estariam também os comprovantes das
transferências de recursos. A Polícia Federal, a Receita Federal e o
Banco Central(BC) estão colaborando com as investigações no rastreamento
dessas operações. As denúncias podem causar um strike no Congresso, com
dezenas de cassações, pois as denúncias seriam acompanhada de provas
documentais e não apenas dos testemunhos dos operadores do esquema.
Outros envolvidos, inclusive executivos, também já estão negociando a
delação premiada com o Ministério Público Federal.
Youssef
deveria ontem comparecer à CPI mista que investiga a Petrobras, mas o
depoimento foi suspenso por causa do estado de saúde. Se comparecesse,
manteria sigilo sobre os depoimentos dados em segredo de Justiça, para
não perder o benefício da delação premiada. Citar seu nome no Congresso é
como falar de corda em casa de enforcado. Ninguém sabe exatamente o que
ele revelou, mas quem foi beneficiado pelo esquema da Petrobras tem
consciência de quanto recebeu e como o dinheiro chegou, como uma espécie
de Raskólnikov, aquele personagem de Crime e Castigo, de Fiódor
Dostoiévski.
Não importa se o recurso foi usado para
financiamento de campanha ou em benefício da formação de patrimônio
pessoal, se o dinheiro for rastreado, a origem será o superfaturamento
ou o desvio de recursos de obras da Petrobras. Boa parte da tensão
existente na base governista tem a ver com o fantasma dessas
investigações, uma vez que a maioria dos envolvidos seriam ligados ao
PT, ao PMDB e ao PP. Há também uma grande expectativa em relação a novas
prisões pela Polícia Federal, uma vez que muitos envolvidos,
principalmente executivos das empresas flagradas no esquema, não têm
direito a foro especial.
No Palácio do Planalto, a presidente
Dilma Rousseff foi aconselhada a manter distância regulamentar em
relação ao Congresso por causa da Operação Lava-Jato. A proposta de
plebiscito para aprovar a reforma política e a busca de apoio junto de
entidades da sociedade civil fazem parte de uma estratégia para
aproveitar o desgaste do Congresso em razão de novas revelações sobre a
Operação Lava-Jato. A própria reforma da equipe de governo estaria em
compasso de espera devido a isso, pois há integrantes da atual equipe de
governo citados nos depoimentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário