Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonado Santos
O que é o lulismo? Essa pergunta oprimiu o cérebro dos cientistas políticos e da oposição durante os oito anos de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, depois que o ex-metalúrgico deixou o poder, talvez seja a hora de compreender melhor o fenômeno político que concluiu a transição brasileira à democracia. Lula foi o único presidente que cumpriu seu mandato de origem, sem mudanças nas regras do jogo, desde a eleição de Tancredo Neves (1985), que morreu antes de tomar posse.
Ex-assessor de imprensa de Lula, em artigo famoso sobre seu antigo chefe, o jornalista e cientista político André Singer descreve o lulismo como a representação daquela parcela majoritária da população ´que não consegue construir desde baixo as suas próprias formas de organização` e que tem ´a expectativa de um Estado suficientemente forte para diminuir a desigualdade, mas sem ameaçar a ordem estabelecida`.
Segundo Singer, o apoio a Lula teria se deslocado das classes médias e de parcela da elite do país para as com menos poder aquisitivo e instrução após a crise do mensalão. A captura do povão pelo lulismo teria ocorrido em razão do conservadorismo popular (avesso aos radicalismos dos partidos de esquerda, dos sindicatos e também da oposição) e por causa dos programas de transferência de renda do governo federal, que beneficiaram 13 milhões de famílias E agora, como fica o lulismo com Lula fora poder?
Bonaparte
André Singer atribui ao governo Lula um certo viés bonapartista devido ao forte apoio empresarial com que também contou, além do apoio popular, mas o líder petista não se encaixa nas definições clássicas desse fenômeno. Muito utilizada por cientistas políticos, a expressão foi cunhada para designar os partidários de Napoleão Bonaparte, que assumiu o poder num golpe de estado em 1799, pondo fim à Revolução Francesa (1789), e depois se sagrou imperador (1804). Hoje o conceito serve para designar um regime político no qual o governante manobra entre as classes sociais e correntes políticas, graças ao forte apoio popular e militar, para exercer o poder de forma unipessoal. Alguns consideram o nosso antigo regime militar pós-1964 bonapartista.
Condomínio
O cientista político Luiz Werneck Vianna preferiu caracterizar o lulismo como um ´condomínio entre contrários`, no qual os setores subalternos da sociedade foram incorporados de forma passiva, a partir da cooptação das lideranças dos movimentos sociais e dos sindicatos , que teriam sido ´estatalizados` pelo governo Lula. Partidos de esquerda, de centro e até de direita compartilharam o poder com Lula, assim como corporações da alta burocracia e grandes empresários.
O mito
Dilma Rousseff herdou essa espécie de condomínio, mas isso não significa que o lulismo será abduzido pela nova presidente da República. A liderança política Lula é carismática, transcende a caneta presidencial. Deixou o poder, mas ainda frequenta diariamente a mídia, seja por que apareceu na janela de seu apartamento como um grande astro da música pop, seja porque foi à praia no Forte dos Andrades, uma antiga unidade militar que virou uma espécie de estação de veraneio do Exército. Lula está mais para uma espécie de herói noir do que para um líder populista tradicional como o ex-presidente Getúlio Vargas e o caudilho argentino Juan Domingos Perón.
Desconstrução
Como sujeito moderno, no sentido sociológico, Lula é um fenômeno que não se repetirá. Seu protagonismo surgiu no movimento operário da velha sociedade industrial, depois de trajetória que começou num pau-de-arara vindo do Nordeste para desembarcar numa montadora do ABC paulista. Sua ascensão política num mundo pós-moderno, globalizado, não seria possível se fosse um sujeito aprisionado pelas velhas ideologias. "Desconstruído" de ideias que já eram fora de época e de lugar, como aquele personagem de Raul Seixas, Lula surpreendeu todos os adversários pelo êxito com que exerceu o poder - até mesmo na hora de operar a própria sucessão. Seu carisma pode até ser volatilizado com o tempo. O papel na história, jamais.
De olho
Os técnicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já estão de olho na prestação de contas dos partidos referentes ao Fundo Partidário. O montante previsto para ser distribuído entre as legendas era de R$ 201 milhões, mas na reta final da aprovação do Orçamento de 2011, o Congresso aumentou o valor total para R$ 301 milhões
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