Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos
A presidente Dilma Rousseff emite sinais de que promoverá uma guinada à esquerda na condução de seu governo. Será uma decorrência natural da composição da própria equipe, na qual o predomínio do PT é indiscutível, como já está demonstrado pela insatisfação do PMDB — a grande força de centro — com a composição do ministério.
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Esses sinais vão desde o pito da presidente Dilma no general Elito Siqueira, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência — por ter rebatido declarações da secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário, sobre a instalação da Comissão da Verdade —, até a reunião convocada por Dilma ontem, com a participação de 11 ministros, para anunciar seu novo plano de erradicação da pobreza extrema. No encontro, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, que coordenará o plano, anunciou que os eixos do programa serão a inclusão produtiva e a universalização dos serviços, e não mais apenas a transferência de renda.
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Esse deslocamento à esquerda significa que o governo Dilma será pautado por um voluntarismo do tipo “ousar lutar, ousar vencer”? Não objetivamente. Há dois limites às ações de governo pautadas pelo viés ideológico de seus ministros: o primeiro é a economia, que exige cuidados extremos com os gastos públicos para evitar que a inflação fique fora de controle; o segundo, a correlação de forças políticas no Congresso, que impõe limites programáticos às ações dos ministros. O governo Dilma é uma coalizão de forças heterogêneas; se a esquerda jogar as demais para escanteio, cria uma crise.
Gestora
O modelo de gestão do novo plano de combate à pobreza será o mesmo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com transparência e metas claras. Será coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social, com a participação dos ministérios do Planejamento, da Fazenda e da Casa Civil. A secretária executiva Ana Fonseca , principal organizadora do Bolsa Família, volta ao ministério com força total. Havia saído quando o ex-ministro Patrus Ananias assumiu a pasta com um enfoque, digamos, mais paternalista.
Racha
A existência de duas correntes dentro do PMDB complica as negociações do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, com a legenda. Um grupo é coordenado pelo vice-presidente da República, Michel Temer, que conversa diretamente com a presidente Dilma Rousseff. Já a ala representada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), era mais alinhada ao ex-presidente Lula e perdeu interlocução com Dilma.
Comando
O ex-chefe da segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, general de divisão Gonçalves Dias (foto), tomou posse ontem como o novo comandante da 6ª Região Militar, em Salvador (BA). Conhecido como G Dias, o militar faz parte do reduzido círculo de pessoas que conviveu com Lula em todos os momentos de seu governo e se tornou amigo do ex-presidente da República. O governador Jaques Wagner (PT-BA) prestigiou a posse.
Janela
O senador eleito Eunício de Oliveira (PMDB-CE) ainda nem tomou posse, mas já está escalado para assumir a presidência da poderosa Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Governista de primeira hora, foi recebido de braços abertos pelo líder da bancada do PMDB, senador Renan Calheiros (AL). Como diria o ex-craque de futebol, o agora deputado federal Romário (PSB-RJ), acabou de entrar no ônibus e já vai sentar na janela.
Confusão
A Câmara já empossou 33 suplentes de deputados para um mandato tampão que vai até o fim do mês, com base no entendimento da Mesa Diretora de que a vaga pertence ao mais votado de cada coligação, e não ao partido do licenciado. Suplentes insatisfeitos ameaçam ir à Justiça brigar pela vaga pelo critério do mais votado do respectivo partido, com base em parecer do ministro Gilmar Mendes aprovado por 5 x 2 pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
De novo
Cerca de 30 pessoas morreram por causa das chuvas que causaram danos em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Estão desabrigadas mais de 37 mil pessoas
É pouco/ A medida anunciada pelo Banco Central para conter a desvalorização do dólar é positiva, mas insuficiente para a indústria recuperar a competitividade perdida com a valorização do real diante da moeda norte-americana, avalia o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade. Segundo ele, porém, o depósito compulsório para os bancos que apostam na valorização do real mostra que o Banco Central está atento à questão do câmbio.
A propósito/ A China, por meio de uma política cambial em que o yuan (moeda chinesa) se encontra amarrado à moeda norte-americana, está utilizando os dólares que entram naquele país para investir pesado na África e na América Latina. A Petrobras é a empresa brasileira que mais está sentindo o peso da concorrência.
Polêmico/ A presidente Dilma Rousseff já confirmou presença na cerimônia de abertura do ano Judiciário, em 1º de fevereiro, no Supremo Tribunal Federal (STF), como é de praxe. Com a retomada dos julgamentos da Corte, um dos principais temas na pauta dos ministros é o caso do pedido de extradição do italiano Cesare Battisti, cujo refúgio no Brasil foi concedido pelo presidente Lula.
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