Com Leonardo Santos
Há uma crise de consenso em relação à política externa brasileira, que se agravou após o episódio do acordo nuclear com o Irã. Os diplomatas descontentes com a política externa atribuem tal fato ao discurso de ruptura do ´nunca antes neste país` aplicado à nossa diplomacia, à autossuficiência do grupo do chanceler Celso Amorim, à ´diplomacia paralela` do PT e ao ´excesso de protagonismo` do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A sucessão de Celso Amorim na Chancelaria será o sinal para gregos e baianos dos rumos do Itamaraty pós-Lula. O Brasil, queira ou não a oposição, adquiriu grande prestígio internacional durante o atual governo. Isso se deve ao peso crescente da economia nacional, à atual política externa e ao protagonismo internacional do presidente Lula. A ampliação da influência do Brasil no G-20, que se reunirá no fim da semana em Seul (Coréia do Sul), é uma demonstração desse avanço.
Essa projeção, porém, esbarrou nas limitações do Brasil como país em desenvolvimento e em alguns desacertos da política externa. Isso ficou evidente em dois episódios: o fracasso da Rodada de Doha, aposta brasileira para repactuar suas relações comerciais com os Estados Unidos e a Comunidade Europeia (em vez dos acordos bilaterais); e a aproximação com o Irã, que esvaziou as pretensões brasileiras de conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Onipresente
O diplomata Antonio Patriota, ex-embaixador do Brasil em Washington e secretário-geral do Itamaraty, é apontado como o preferido de Dilma Rousseff para o cargo de ministro das Relações Exteriores no lugar de Celso Amorim. Seria uma troca menos traumática por já pertencer à cúpula do Itamaraty, e teria a vantagem de melhorar as relações com os Estados Unidos. Mas as especulações são tantas que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e até o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci surgem como candidatos à Chancelaria.
Missão
O Brasil formalizou sua candidatura à diretoria-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) sem indicar um nome. A inédita decisão de não apresentar um candidato se deve ao fato de que o presidente Lula ainda não decidiu se irá concorrer ao cargo ou se vai deixar a candidatura para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Fome
Lula quer desempenhar um papel na política mundial após encerrar o mandato, porém não pode correr o risco de perder uma eleição na ONU. Precisaria do apoio norte-americano para ser candidato a diretor-geral da FAO sem maiores riscos. O cargo não é o de maior visibilidade da ONU, mas a simples presença de Lula no comando do esforço internacional contra a fome, principalmente na África, daria maior projeção ao posto.
Tietes
Ao participar de mais uma formatura de diplomatas brasileiros, a última de seu governo, na última sexta-feira, o presidente Lula testou seu prestígio entre os jovens diplomatas. Encerradas as formalidades, os itamaratecas deixaram a etiqueta de lado e partiram para cima de Lula para serem fotografados ao lado do presidente da República, que gostou do assédio da elite.
Guardião
O jornalista Andrei Meirelles, da revista Época, um dos mais premiados do país, foi avisado por um integrante do Ministério Público Federal de que se tornou alvo de monitoramento telefônico pela Polícia Federal. O grampo, segundo o procurador, teria sido autorizado pela Justiça com o objetivo de identificar uma fonte.
Oposição
O ex-presidenciável José Serra (foto) continua em ritmo de campanha. Sexta-feira em Biarritz, no sul da França, durante seminário sobre as relações entre América Latina e União Europeia (UE), acusou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de desindustrializar o país e fazer ´populismo` em matéria econômica. Serra criticou ´a fraqueza` dos investimentos do governo e a elevada carga tributária`.
A Casa Civil
Com Leonardo Santos
Há controvérsias sobre o que pesou mais na campanha eleitoral para levar ao segundo turno a disputa pela Presidência da República. O senso comum é de que o voto religioso a favor de Marina Silva (PV) foi decisivo. Na campanha petista, internamente, a equação é mais complexa. Mesmo que a questão do aborto tenha tirado votos de Dilma, sua vitória estaria assegurada se não houvesse o escândalo envolvendo Erenice Guerra, a ex-ministra da Casa Civil defenestrada por causa das denúncias de nepotismo e de tráfico de influência.
Braço direito de Dilma na era Lula, Erenice ocupou o cargo politicamente mais importante do governo. Mais até do que os ministérios da Defesa, da Fazenda e da Justiça. Tão importante que seu primeiro ocupante, o ex-deputado petista José Dirceu, foi carbonizado pela oposição no exercício da função e teve o mandato cassado por causa do escândalo do “mensalão”. Sua substituta, Dilma Rousseff, depois de pôr ordem na Casa, se tornou a ministra mais poderosa de Lula e, candidata à sucessão, foi eleita presidente da República.
As especulações sobre o futuro ministro da Casa Civil do governo Dilma partem do modelo construído ao longo do segundo mandato do presidente Lula. A maioria converge para o nome do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, que coordenou a campanha de Dilma. Ele tem perfil político para exercer o cargo e seria o nome de preferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O poder da pasta, porém, depende também das características do ministro. Talvez, Dilma tenha opinião diferente sobre o modelo de Casa Civil adotado por Lula.
O curinga
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, depois de Antônio Palocci, é o nome mais cotado para o cargo de ministro da Casa Civil. A continuidade administrativa entre os dois governos o favorece. Conhece como ninguém o Orçamento da União e os lobbies que atuam no Congresso. Acompanha a execução dos projetos do governo Lula, a começar pelas obras da segunda etapa do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), e conhece as demandas administrativas dos demais ministérios. Hábil e bem relacionado, Paulo Bernardo consegue dizer não sem romper com os interlocutores.
A amiga
Outro nome lembrado para a Casa Civil é o de Maria das Graças Foster, diretora de Gás e Energia da Petrobras. Trabalhou com Dilma no Ministério de Minas e Energia e, por indicação dela, presidiu a BR Distribuidora. Tem o mesmo estilo “durona” da presidente eleita. “Trabalho por resultados e nada mais”, costuma dizer quando o assunto é política. Sua indicação seria a opção de Dilma para blindar a Casa Civil de qualquer ingerência partidária ou ambição política pessoal.
Bancada
O empresário Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, financiou a campanha eleitoral de apenas três senadores: Delcídio Amaral (PT-MS), contemplado com R$ 500 mil; Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), a quem Eike doou R$ 200 mil; e Cristovam Buarque (PT-DF), que recebeu doação de R$ 100 mil.
Do contra
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) anunciou ontem que é “completamente contra” a recriação da CPMF, que seria repaginada como Contribuição Social da Saúde (CSS), com alíquota de 0,1%. O presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, disse que a ideia está na “contramão de tudo aquilo que o próprio governo do presidente Lula e a presidente eleita, Dilma Rousseff, têm falado sobre a redução da carga tributária”.
Flechada
No Parque Nacional do Xingu, a maioria dos índios votou em José Serra (PSDB) para presidente da República. Motivo: o descaso da Norte Energia/Eletrobras com o cumprimento das exigências prévias de mitigação de danos no projeto da Hidrelétrica de Belo Monte. Os índios avaliam que o governo está cedendo à pressão do consórcio para agilizar o início da construção sem cumprir as exigências apontadas pelo Ibama.
Solista
Candidato derrotado ao Senado, o deputado José Carlos Aleluia (DEM) não jogou a toalha e já se prepara para disputar a prefeitura de Salvador (BA). Se depender de seu ponto de vista, o DEM deve lançar candidatos próprios em todas as capitais do país e buscar um caminho independente do PSDB. “Os tucanos são de esquerda, nós somos um partido de centro. Continuar a reboque do PSDB nos levará à extinção”, argumenta.
Diplomatas
A Turma Zilda Arns é a maior da história do Instituto Rio Branco. Formou 115 diplomatas.
Educação/O deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) contestou as declarações da presidente eleita, Dilma Rousseff, de que a educação nacional está bem encaminhada e há muitos recursos para o setor. O tucano destacou que o país tem um contingente de mais de 3 milhões de crianças e jovens fora da escola. Cobrou uma reforma no ensino público, pois 70% da atual mão de obra nacional não têm a qualificação adequada.
Abstenção/Nas vésperas das eleições, o presidente Lula aproveitou a agenda em São Paulo para visitar o vice, José Alencar, que deixou de votar porque estava internado no Hospital
Sírio-Libanês. Alencar demonstrou insatisfação com a equipe médica que o havia proibido de votar. O presidente Lula, que se deparou com outros dois pacientes com as mesmas reclamações, tratou de ligar para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Ricardo Lewandowski, questionando: “Se presidiário vota, por que não pode ter votação no hospital?”
Obs: Coluna Brasília/DF publicada em 6 de novembro no Correio Braziliense
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