terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Biruta de aeroporto

Por Luiz Carlos Azedo
luizazedo.df@dabr.com.br
Com Norma Moura


Pesquisas eleitorais são como biruta de aeroporto. Servem para os marqueteiros e analistas políticos avaliarem o cenário eleitoral e servem também para orientar o pouso ou a decolagem de quem quer transitar em segurança de um governo para o outro. Por isso, quase sempre, determinam a direção e o ritmo do realinhamento das forças políticas que normalmente ocorre nas eleições. Quando divulgadas, são lidas e interpretadas de diferentes maneiras, não importam os números, de acordo com a conveniência de cada um.

Por exemplo, no caso da pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem, uma margem de erro para mais ou para menos de 3% coloca a ministra Dilma Rousseff (PT), com 27,8%, em empate técnico com o líder da disputa, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que tem 33,2%. Liquida o favoritismo absoluto do candidato tucano e joga uma pá de cal nas pretensões de Ciro Gomes (PSB), com 11,9%. Marina Silva (PV), com 6,8%, se consolida como candidata exótica.

Margem

Porém, considerando a margem de erro no sentido inverso, Serra pode subir para 36,2%; ou Dilma cair para 24,8%; ou Ciro alcançar 14,9%; ou Marina (foto) cair para 3,8%, alterando todo o cenário. Se essa possibilidade existe estatisticamente, como devemos proceder? Como no caso de um exame de Aids que deu positivo com margem de erro de 1/1000. A chance de ser um falso positivo leva o suposto portador do vírus HIV a fazer um novo exame. A repetição confirmará ou não o diagnóstico. É o que acontece com as pesquisas de opinião, com margem de erro muito maior. As últimas mostram que Serra oscila ao manter a liderança (novembro/31,8%, janeiro/33,2%), enquanto Dilma, inequivocamente, consolida-se como sua principal adversária (novembro/21,7%, janeiro/27,8%). Ciro está cada vez mais em segundo plano (novembro/17,5%, janeiro/11,9%). E Marina cresce (novembro/5,9%, janeiro/6,8%).


Expectativa

Qual é o efeito biruta de aeroporto? A maior expectativa de poder em torno de Dilma Rousseff, o que facilita o esforço de Lula no sentido de coesionar a base do governo em torno da candidata petista. Por isso, Dilma comemora, mesmo sabendo que Serra , como na pesquisa anterior, ganharia no primeiro turno com Ciro fora da disputa. O tucano teria 40,7% dos votos, mais do que a soma dos votos de Dilma (28,5%) e Marina (9,5%).


Fricção

Na cozinha da ministra Dilma, assessores avaliam que Ciro cumpriu o papel de neutralizar a expectativa de poder que o favoritismo de Serra havia gerado. Agora, é preciso esperar até março e torcer para que ele desista da disputa. Companheiro de viagem, Ciro é a maior fricção na estratégia de transferência de votos de Lula para Dilma, pois não poderia ser atacado. Nesse caso, o fenômeno de transferência de votos de Ciro para Serra poderia se repetir no segundo turno.

Transferência

A oposição e analistas independentes não concordam com esta interpretação, mas a avaliação do Palácio do Planalto é de que a eleição está polarizada e marcha para se tornar um plebiscito sobre o governo Lula. Sem Ciro na disputa, Dilma acabaria beneficiada pelo peso da aprovação do atual governo (71,4%) e do apoio popular ao presidente Lula (81,7%).

Sombra

O problema da biruta de aeroporto é que ela aponta o rumo do vento, mas não elimina a sombra do futuro. Atores importantes no processo, como Ciro Gomes e o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), dentre outros, se movimentam não apenas em função de 2010. Eles têm estratégias próprias, que miram o pós-Lula, com Serra ou Dilma no poder. Por exemplo, se Dilma ganhar as eleições, será candidata à reeleição ou apoiará a volta de Lula. Se perder, Serra vai querer governar por oito anos. Aparentemente não faz diferença, mas tanto Ciro como Aécio viverão contingências diferentes em qualquer dos dois governos. Por isso, são parceiros de uma estratégia do tipo “viva e deixe viver”.

Corredor

A Força Sindical calcula que cerca de mil sindicalistas estarão em Brasília hoje para recepcionar os deputados. Cem deles darão as boas vindas aos parlamentares ainda no aeroporto. E a ofensiva continua com 100 banners no caminho até o Congresso, onde os militantes ficarão em vigília pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais

Perigo/ O Ministério Público Federal no Maranhão investiga o que levou a Secretaria de Saúde a deixar faltar medicamentos de alto custo nos postos do estado, mesmo tendo recebido os repasses do governo federal. Entre 2007 e 2009, o imunossupressor sirolimus sumiu das prateleiras dos postos três vezes. O remédio — que não é vendido em drogarias — é vital para os transplantados.

Hamlet/ Mesmo tendo sido sondado como alternativa para a sucessão do governador José Roberto Arruda (sem partido), o ex-secretário do Trabalho do GDF deputado Bispo Rodovalho (PP-DF) vai deixar a vida pública. Foi decisão dos bispos da Igreja Sara Nossa Terra.

Azebudsman/ O leitor Paulo Cesar Batista contesta a nota intitulada Refluxo, publicada sábado passado, na qual comparamos o Fórum Social Mundial, realizado semana passada, em Porto Alegre, com os anteriores. Argumenta que participaram 30 mil ativistas porque este ano o evento foi descentralizado. É, pode ser.

Imperdível/ Invictus, de Clint Eastwood, com Morgan Freeman no papel do ex-presidente sulafricano Nelson Mandela, é uma lição de marketing político e esportivo por uma causa justa.

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