No fim do mês, depois de sucessivos adiamentos, a Comissão Gerencial do Projeto F-X2 deverá concluir os trabalhos de avaliação das propostas enviadas pelas empresas Rafale, Boeing e Saab para a venda dos caças à Força Aérea Brasileira (FAB). O ministro da Defesa, Nelson Jobim, teme que os brigadeiros descartem o modelo francês como primeira opção de compra, deixando o presidente Lula numa saia justa para explicar o motivo da preferência por um avião francês. Como se sabe, ele anunciou a compra dos caças franceses durante a visita do presidente francês, Nicolas Sarkozy, ao Brasil.
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que chegou a pensar em pedir demissão quando Lula anunciou a tendência pelo Rafale, nega preferências pessoais na disputa. Porém, os engenheiros da FAB querem participar não apenas da construção, mas também do desenvolvimento da concorrência FX-2. A transferência de tecnologia passou a ser palavra-chave na negociação para a compra dos aviões, uma exigência bastante enfatizada por Jobim e Lula.
Ao falar sobre o assunto, Eric Trappier, presidente da Rafale Internacional, prometeu entregar os aviões em três anos e transferir tecnologia para mais de uma dezena de companhias brasileiras parceiras da Rafale — um consórcio integrado também pelas empresas Snecma (fabricante das turbinas) e Thales (equipamentos eletrônicos, radares e sistemas de defesa). Inicialmente, seriam produzidos no Brasil as asas dos caças (Embraer), os componentes eletrônicos do radar de última geração e as peças de manutenção dos motores, além de outros componentes a serem introduzidos no avião em razão das adaptações exigidas pela FAB, como mudanças no cockpit.
Em termos geopolíticos, o acordo com a França só teria paralelo com o acordo nuclear da década de 1970 com a Alemanha. À época, o presidente Ernesto Geisel rompeu com o tratado de cooperação militar com os Estados Unidos, a fim de construir a usina nuclear de Angra dos Reis (RJ). Os franceses não gostam da comparação, pois não querem problemas com o governo de Barack Obama, e argumentam que os caças Rafale operam no Afeganistão, em apoio às forças da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
O fato é que o pacote militar negociado com a França reduzirá a dependência tecnológica em relação aos EUA e transformará os franceses em parceiros estratégicos para o desenvolvimento de uma nova indústria de Defesa brasileira. Nesse contexto, os franceses estão dispostos a transferir tecnologia para a construção do cargueiro militar KC 390 da Embraer e serem os primeiros a adquirir o novo avião brasileiro, além de desenvolver um avião não-tripulado de observação. (LCA)
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