Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 07/12/2014
Nada garante que o
enfraquecimento do PT, do PMDB e do PP, partidos mais citados nas
denúncias da Lava-Jato, venha a beneficiar a formação do novo governo
Quando o
novo quer nascer e o velho ainda não morreu, estamos diante de uma
situação potencialmente de crise e os seus sintomas mórbidos e
patológicos aparecem. É mais ou menos o que está acontecendo nesta
transição do primeiro para o segundo mandato da presidente Dilma
Rousseff, no qual o cavalo de pau na condução da economia está em
contradição com a continuidade nas relações políticas do
“presidencialismo de coalizão”.
Além da força de inércia das
patologias de natureza administrativas, nos deparamos com os sintomas
mórbidos das falcatruas na Petrobras e outras estatais, que estão sendo
reveladas pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal. A única surpresa
em relação ao novo governo, até agora, foi a indicação de Joaquim Levy
para o Ministério da Fazenda. Mesmo aí, porém, há sintomas de que o
velho não morreu e o novo ainda está por nascer.
O Palácio do
Planalto moveu mundos e fundos, na base do tradicional “é dando que se
recebe”, para aprovar mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal. Agora,
vai gastar tudo o que pode para aliviar as despesas com “restos a
pagar” em 2015, como servem de exemplo os R$ 30 bilhões transferidos
pelo Tesouro ao BNDES por medida provisória. É grande o rombo dos
empréstimos camaradas, uma parte dos quais foi parar nos caixas de
campanha eleitoral — como no caso da JBS, que doou mais dinheiro do que
as empreiteiras enroladas na Operação Lava-Jato.
O peso do
passado no novo governo não é trivial. Represadas, as tarifas de ônibus,
de energia elétrica e outros preços administrados terão de ser
aumentados. O desmonte do que foi chamado de “nova matriz econômica” não
será nada fácil. O Banco Central já sinalizou que manterá a inflação
raspando o teto da meta, chegando mesmo aos 7% no primeiro semestre. Foi
um banho de água fria no mercado, pois mostra que o presidente do BC,
Alexandre Tombini, está mais afinado com a velha orientação da
presidente Dilma Rousseff. Mira no emprego e na renda e não a meta de
4,5% de inflação, como caberia ao BC.
O novo ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, anunciou um superavit fiscal de 1,5% para 2015, mas a
proposta de Orçamento da União já reduziu essa meta para 1,2%. A Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015 prevê um crescimento do PIB de
apenas 0,8% no ano que vem. Ou seja, teremos um ano de crescimento baixo
e inflação alta, provavelmente com menos empregos e perdas salariais,
apesar da retórica oficial.
O pano de fundo dessas dificuldades é
uma visão atávica de que os gastos públicos serão a alavanca para o
crescimento da economia, muito mais do que os investimentos privados, o
que significará, talvez, até aumentar a carga tributária. Além disso, da
mesma forma como culpa a crise mundial pelas dificuldades econômicas
que enfrenta, o Palácio do Planalto acredita num ambiente externo mais
favorável em 2015. Na verdade, sem agouro, a curto prazo a situação será
outra: a recuperação dos Estados Unidos terá forte impacto no câmbio, a
moderação do crescimento da China joga pra baixo os preços das
commodities e o cenário de agravamento da crise europeia prejudica ainda
mais nossas exportações, sobretudo de manufaturados. E ainda tem a
redução do preço do petróleo, que prejudica a exploração do pré-sal.
A velha política
Dilma
venceu as eleições com um discurso eleitoral que mascarou os problemas e
muito prometeu, mas agora está diante da realidade nua e crua. O país
regrediu em muitos aspectos, não apenas do ponto de vista do equilíbrio
fiscal. Agravaram-se os problemas ambientais e energéticos, as políticas
públicas de saúde, educação, transportes e segurança deixam a desejar. A
nossa indústria está sucateada. E a infraestrutura não entrou em
colapso por causa da baixa atividade econômica. Não sabemos se a nova
equipe ministerial estará à altura desses desafios.
Dilma
Rousseff é prisioneira da velha política. Nesta semana, por exemplo,
sofrerá fortes pressões dos partidos aliados para a formação de seu
ministério. Ao contrário do presidente Lula, que conseguiu formar uma
equipe melhor no segundo mandato, nada garante que agora acontecerá o
mesmo, embora a nova equipe econômica tenha sido recebida de forma
positiva pelo mercado e por alguns setores da oposição.
O toma lá
dá cá parece impor a sua lógica à formação da nova equipe ministerial. O
PMDB não abre mão de seis ministérios; o PP e o PR também querem
lugares privilegiados pelo orçamento e pela capilaridade. O PT mira
posições-chaves no governo e já mandou recado de que pretende controlar
as verbas de publicidade do governo.
E tem a metástase da
Operação Lava-Jato. A estratégia de Dilma Rousseff é fazer do limão uma
limonada. Estariam envolvidos no escândalo cerca de 40 políticos, entre
deputados, senadores, ministros e governadores. Nada garante que o
enfraquecimento do PT, do PMDB e do PP, partidos mais citados nas
denúncias da Lava-Jato, venha a beneficiar a formação do novo governo.
Eis aí mais um sintoma mórbido.
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