Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 23/12/2014
A
presidente da República adiou a formação do novo ministério para a
véspera da posse, mantém distância dos envolvidos no escândalo da
Petrobras e pretende segurar Graça Foste na Petrobras
No seu tradicional encontro
com os repórteres que cobrem o Palácio do Planalto, a presidente Dilma
Rousseff garantiu que está com a presidente da Petrobras, Maria das
Graças Foster, e não abre: ela ficará no cargo. Ou seja, corroborou a
declaração da amiga de que permaneceria à frente da estatal. Apesar de a
empresa atravessar a maior crise de sua história, mergulhada num mar de
“malfeitos”, para usar o jargão oficial e evitar uma outra expressão,
que lembra a crise que levou ao suicídio o presidente Getúlio Vargas.
Segundo
Dilma, a executiva não cometeu nenhum deslize e tem plenas condições de
enfrentar a crise da companhia. Mas suas declarações em relação à
Petrobras também devem ser interpretadas pelos aliados como uma espécie
de nem vem que não tem, quem manda aqui sou eu.
Com a caneta
cheia de tinta e popularidade maior do que a do dia da eleição, a
presidente da República adiou a formação do novo ministério para a
véspera da posse, mantém distância dos envolvidos no escândalo da
Petrobras e pretende segurar Graça Foster enquanto não surgir um fato
novo que a comprometa. Pode ser um grande equívoco, mas ninguém é capaz
de convencê-la do contrário. Nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
O fato é que Dilma decidiu não levar em conta muitos dos
conselhos do ex-presidente da República. A grande concessão foi feita ao
indicar Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e defenestrar o
ministro Guido Mantega, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, e a
ministra do Planejamento, Míriam Belchior, que empurraram com a barriga o
ajuste fiscal e gastaram o que foi preciso para manter os empregos e os
níveis de renda durante a campanha eleitoral. Dilma é a mãe da “nova
matriz econômica”, que fracassou.
Os partidos da base estão sendo
toureados, ninguém envolvido na Operação Lava-Jato fará parte da nova
equipe ministerial. Ontem, Dilma anunciou que consultará o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre o real envolvimento
de aliados cotados para a Esplanada no esquema de propina investigado
pela Operação Lava-Jato. A permanência de Graça Foster, porém, ainda
confunde os políticos da base.
O presidente da Câmara, Henrique
Eduado Alves (PMDB-RN), que perdeu a disputa pelo governo potiguar, está
convencido de que vai para o Ministério da Previdência. Confidencia aos
amigos que foi sondado para o posto depois de ter o nome vazado pela
primeira vez; por essa razão, argumenta, não estaria descartado. Na
mesma situação está o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), outro
integrante da lista atribuída ao ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto da Costa. Nenhum dos dois foi convidado
formalmente para o ministério até agora.
Há uma guerra de versões
quanto ao escândalo da Petrobras. A estratégia do PT é a mesma do
julgamento do mensalão: negar sua existência. Os caciques do PMDB e do
PP optaram pela mesma linha. A situação, porém, é muito diferente.
Marcos Valério, o operador do esquema, comeu o pão que o diabo amassou
na cadeia e assumiu a condição de grande vilão do esquema. Na Operação
Lava-Jato, já são 12 as delações premiadas, as mais importantes de Paulo
Roberto da Costa e do doleiro Alberto Youssef.
Saidão de Natal
Os
executivos presos temem condenações longas, como a da ex-presidente do
Banco Rural Katia Rabelo, que teve sua pena fixada em 16 anos e 8 meses
de prisão, mais multa de R$ 1,5 milhão, por formação de quadrilha,
gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Enquanto a
maioria dos políticos condenados no mensalão goza de prisão domiciliar
ou regime semiaberto, com direito a passar o Natal com a família, os
diretores de seis das maiores empreiteiras do país verão o ano-novo
chegar na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
Há esperança
de que o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo
Lewandowski, conceda-lhes um habeas corpus. Houve um “tour de force” dos
advogados neste recesso para tirá-los do xadrez. Alegam que eles estão
sofrendo torturas psicológicas para aceitar a delação premiada. Os
presidentes da OAS, José Aldemário Pinheiro, amigo do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, e da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, acusado de
ser o chefe do cartel de empreiteiras, seriam os mais pressionados.
As
famílias estão resignadas, foram convencidas de que é preciso aguentar o
tranco. Dois personagens, porém, andam com os nervos à flor da pele: o
ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor de
Serviços e Engenharia Renato Duque. O primeiro teme ser preso, o segundo não quer voltar pra cadeia. Ambos eram quadros do PT no comando
da Petrobras.
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