Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense: 05/12/2014
No Congresso nacional, há uma angústia generalizada em relação à revelação oficial
dos nomes dos políticos envolvidos na Operação Lava-Jato. Especula-se
que seriam os “enrolados” de sempre, com algumas surpresas
O escândalo da Petrobras parece
mesmo uma bola de neve, que rola montanha abaixo e não para de crescer.
As novidades de ontem foram a decisão da Controladoria Geral da União
(CGU) de abrir os processos de responsabilização contra oito
empreiteiras envolvidas na operação Lava-Jato, da Polícia Federal; e a
denúncia do executivo Augusto Mendonça Neto, da empresa Toyo Setal, de
que parte do pagamento de propina ao ex-diretor de Serviços da Petrobras
Renato Duque era direcionada ao PT como doação oficial ao partido.
Enquanto
isso, na CPI Mista do Congresso, aumenta a pressão da oposição para que
as investigações sobre o caso avancem, ainda mais depois do depoimento
do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa. Sem
citar pessoas específicas, por causa da delação premiada, o executivo
disse que revelou à Justiça Federal os nomes dos políticos envolvidos no
escândalo, que seriam parlamentares, ministros e governadores.
Mesmo
assim, a base do governo no Congresso tudo faz para esvaziar a CPMI,
que agora é presidida pelo senador Gim Argelo (PTB-DF). Seu antecessor,
senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), com apoio do Palácio do Planalto, foi
contemplado com uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). Vamos por
partes:
Dever de casa
A decisão da CGU de
abrir os processos foi tomada em razão dos documentos e informações da
Operação Lava-Jato compartilhadas pelo juiz federal Sérgio Moro, do
Paraná, que investiga o caso. Órgão responsável por assistir a
Presidência da República em assuntos relativos à defesa do patrimônio
público e ao incremento da transparência da gestão, a CGU está sob forte
pressão para evitar que as empreiteiras Camargo Correa, Engevix, Galvão
Engenharia, Iesa, Mendes Junior, OAS, Queiroz Galvão e UTC-Constran,
envolvidas no escândalo, sejam declaradas inidôneas.
Caso isso
ocorra, estarão proibidas de celebrar novos contratos com a União. No
Palácio do Planalto, a eventual punição das empresas é considerada um
“desastre nacional”, pois todas as grandes obras de infraestrutura em
execução no país estão sob responsabilidade dessas empresas e seriam
paralisadas. Busca-se uma saída jurídica para preservar as empresas e
punir os executivos, mas isso pode se tornar impossível caso haja provas
robustas de que seus proprietários estariam comprometidos com a farta
distribuição de propina.
O ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto Costa declarou à Justiça que há um cartel de
grandes empreiteiras em obras da estatal, o que é crime. Na CPI Mista,
para surpresa geral, disse também que as irregularidades investigadas
pela PF acontecem no país inteiro. Ontem, em nota, a CGU esclareceu que
abriu os processos com base principalmente em provas documentais, como
e-mails, notas fiscais, transferências bancárias e registros de
interceptações telefônicas.
Ventilador ligado
O
executivo Augusto Mendonça Neto, da empresa Toyo Setal, uma das
fornecedoras da estatal, disse em depoimento dado em outubro à Polícia
Federal, com base em acordo de delação premiada, que parte do pagamento
de propina ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque era
direcionada ao PT como doação oficial ao partido. O vazamento dessa
informação ocorreu no mesmo dia em que o ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Teori Zavascki, relator do caso na Corte, relaxou a prisão
do executivo.
A Secretaria de Finanças do PT sustenta que o
dirigente petista nunca tratou de contribuições financeiras do partido,
“ou de qualquer outro assunto”, com os envolvidos no esquema investigado
pela Polícia Federal. De acordo com Mendonça Neto, a Toyo Setal firmou
contrato de prestação de serviços com cinco empresas de fachada para
repassar dinheiro em espécie ou remeter os valores ao exterior.
De
acordo com ele, no caso da Refinaria do Paraná (Repar), foi firmado um
contrato de prestação de serviços com uma das empresas de Camargo, no
valor de R$ 33 milhões. Desse total, R$ 20 milhões foram transferidos ao
exterior, em uma conta indicada por Duque, denominada “Marinello”. No
caso da Refinaria de Paulínia (Replan), Mendonça Neto afirmou que pagou
“comissões” tanto para Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento
da estatal, quanto para Duque.
O executivo afirmou que o
percentual partia de cerca de 2% do valor total dos contratos, mas,
segundo Mendonça Neto, era negociado posteriormente, como no caso do
Repar, cujo valor da comissão chegou a quase R$ 60 milhões. No Congresso
Nacional, há uma angústia generalizada em relação à revelação oficial
dos nomes dos políticos envolvidos na Operação Lava-Jato. Especula-se
que seriam os “enrolados” de sempre, com algumas surpresas.
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