Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 16/12/2014
Dilma Rousseff parece baratinada diante das dificuldades da
economia e do formidável escândalo da Petrobras, que é um poço sem
fundo
Está feia a coisa
(…) Nossos astrólogos políticos e analistas econômicos de plantão são
unânimes em prever que 2015 será um ano tenebroso, muito pior do que
2014. “Mas dá para piorar?”, podem contestar os otimistas. “Sempre dá”,
responderão os urubólogos — disparou em seu balaio da internet o
jornalista Ricardo Kotsho, uma espécie de alterego do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, de quem é amigo e foi secretário de Comunicação
no primeiro mandato.
Para o petista, a duas semanas da posse de
Dilma Rousseff, o baixo astral tomou conta do governo: “O clima no país
nesta passagem de ano está mais para fim de feira do que para posse
festiva”. E está mesmo, a começar pelo estado de abandono em que se
encontra Brasília, com as áreas verdes tomadas pelo matagal, as ruas
esburacadas e mal-iluminadas. Mergulhado na amargura da derrota, o
governador Agnelo Queiroz (PT) parece querer se vingar da população que
lhe recusou a reeleição. Quem vier pra posse, terá de fingir que não
viu.
Dilma Rousseff parece baratinada diante das dificuldades da
economia e do formidável escândalo da Petrobras, que é um poço sem
fundo. O imobilismo da presidente reeleita é tamanho que seus reflexos
já começam a aparecer em nível internacional. Por exemplo, no ranking de
mulheres líderes da Financial Times, a ex-senadora Marina Silva, a
candidata que ficou em terceiro lugar nas eleições passadas, aparece
entre as mulheres mais influentes no mundo em 2014, no lugar da
presidente reeleita.
A ficha ainda não caiu. A
presidente da Petrobras, Graça Foster, não é demitida nem pede demissão.
Nove entre 10 analistas de qualquer coisa — economia, política,
relações internacionais, gestão de empresas — avaliam que qualquer
solução para a crise da estatal passa pela nomeação de uma nova
diretoria, de preferência encabeçada por um executivo experiente em
lidar com situações de crise e por uma mudança de postura em relação à
apuração dos fatos. Até hoje, o balanço da empresa não foi publicado
porque não se sabe o tamanho do rombo.
Esplanada
As
indefinições em relação à Esplanada dos Ministérios também criam um
ambiente negativo, mesmo em áreas consideradas de Estado, que deveriam
ficar ao largo dessas turbulências. O Itamaraty nunca esteve tão
desprestigiado. É pule de 10 na bolsa das apostas que o ministro Luiz
Alberto Figueiredo será defenestrado do cargo; fala-se na Embaixada de
Washington como prêmio de consolação. O assessor especial Marco Aurélio
Garcia, o verdadeiro ideólogo da atual política externa, está cotado
para o cargo. Chega de intermediários? Não, o ex-presidente Lula defende
a escolha de um “caixeiro viajante” para a missão. Um dublê de lobista,
a essa altura do campeonato, jogará o astral da Casa de Rio Branco
ainda mais pra baixo.
Na Defesa, ninguém sabe se o ministro Celso
Amorim continuará no cargo. Entretanto, a grande preocupação é outra: a
longa permanência dos atuais comandantes da Marinha, Exército e
Aeronáutica nos respectivos cargos. A substituição deles é uma aspiração
dos respectivos alto-comandos, cujos oficiais-generais não querem
passar à reserva sem chegar ao topo da carreira. Há duas possibilidades:
a presidente Dilma seguir o almanaque e nomear os mais antigos ou os
atuais comandantes indicarem os nomes de suas preferências. Quanto ao
relatório da Comissão da Verdade, o silêncio diz muita coisa.
A
montagem da nova equipe do governo é meio esquizofrênica. Ontem,
militantes do MST invadiram a sede da Confederação Nacional da
Agricultura e Pecuária (CNA), presidida pela senadora Kátia Abreu
(PMDB-TO), indicada para ocupar a pasta da Agricultura. Uma ala do PT e
aliados à esquerda, que foram fundamentais para a vitória de Dilma no
segundo turno, fazem tudo o que podem para inviabilizar a nova ministra.
Dilma Rousseff dá uma mãozinha ao tentar emplacá-la na cota do PMDB, em
vez de assumir que a futura ministra foi uma escolha pessoal. E se o
PMDB não topar? Pode ser que Dilma desista.
É que a negociação
com o PMDB não é uma equação simples, uma vez que o partido tem três
pólos de poder: o vice-presidente Michel Temer; o presidente do Senado,
Renan Calheiros (AL); e o líder da bancada na Câmara, deputado Eduardo
Cunha (RJ). O quarto era o ex-presidente José Sarney, que pendurou as
chuteiras. Temer quer emplacar dois ministros: Moreira Franco, nas
Cidades; e Eliseu Padilha, na Aviação Civil. Renan administra dois
pretendentes, o líder do governo, Eduardo Braga (AM), e o líder da
bancada no Senado, Eunício Oliveira (CE), ambos derrotados em outubro e
ressentidos com o PT. Eduardo Cunha só quer o apoio de Dilma para
presidir a Câmara. O resto será consequência.
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