Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 17/12/2014
A reforma ministerial não deslancha; a situação
da economia é delicada, com o dólar em alta e um cenário internacional
complicado. O novo mandato corre o risco de começar
com cara de velho
A presidente
Dilma Rousseff será diplomada amanhã para mais um mandato de quatro
anos, ocasião que servirá de termômetro para medir seu prestígio,
principalmente entre as autoridades da República. A maior estrela
prevista para o encontro é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
seu padrinho político e artífice de sua reeleição, que já não esconde
dos interlocutores a preocupação com o imobilismo em que a presidente
reeleita se encontra.
Dilma está em dificuldades para
reestruturar o governo: a crise na Petrobras se agrava e ameaça
contaminar a Eletrobras; a reforma ministerial não deslancha; a situação
da economia é delicada, com o dólar em alta e um cenário internacional
complicado. O novo mandato de Dilma Rousseff corre o risco de começar
com cara de governo velho.
A única novidade até agora foi a
escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, com Nelson Barbosa
de contrapeso no Planejamento e a manutenção de Alexandre Tombini no
Banco Central. O novo ministro, porém, está sendo obrigado a conviver
com a equipe de Guido Mantega e não conseguiu limpar a área para iniciar
o exercício de 2015.
Levy pretendia acertar as contas públicas
neste fim de ano, para aliviar o Tesouro em 2015. Mantega discorda e
quer entregar um superavit de R$ 10 bilhões. Dilma Rousseff não tem
muito cacife para resolver essa disputa, a não ser que antecipe a posse
da nova equipe econômica.
No momento, porém, a maior dificuldade
da presidente da República é outra: trata-se de encontrar um nome para
substituir Graça Foster na presidência da Petrobras. Foram convidados o
atual presidente da Vale, Murilo Ferreira, e a presidente da TAM,
Claudia Sender. O primeiro, de 61 anos, é um velho conhecido do governo;
a segunda, aos 39 anos, integra o seleto grupo de 30 executivos mais
influentes do mundo com menos de 40 anos da revista Fortune.
Cara de velho
Enquanto
não anuncia o ministério, os nomes vão vazando. Ontem, no Congresso,
era dada como certa a ida da deputada Luciana Santos (PCdoB-PE) para o
Ministério da Cultura. Ex-prefeita de Olinda, é engenheira eletricista e
não tem grande trânsito no meio artístico do Rio de Janeiro e de São
Paulo. Mas conta com o apoio da deputada Jandira Feghaly (PCdoB-RJ), que
articulou a campanha de Dilma junto aos artistas do Rio de Janeiro.
Quem
não deve ter gostado dessa solução é o ex-ministro Juca Ferreira, um
dos responsáveis pela saída da senadora Marta Suplicy (PT) da pasta, que
sonhava com a volta ao cargo. E o ministro Aldo Rebelo (PCdoB), que
será defenestrado do Esporte porque ocupava o cargo na cota da legenda. A
pasta foi prometida ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB),
que indicou para o posto o recém-eleito deputado federal Pedro Paulo
(PMDB), seu braço direito na administração carioca. Ele também conta com
apoio do líder da bancada na Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A
propósito, Dilma resolveu operar numa faixa grande de risco ao permitir a
candidatura do petista Arlindo Chinaglia (PT-SP ) à Presidência da
Câmara, contra Eduardo Cunha. A candidatura foi oficializada ontem, com
apoio de quatro partidos. Ex-líder do governo e ex-presidente da Casa, o
parlamentar petista entra na disputa com apoio de 110 dos 513
deputados: 70 do PT, 19 do PDT, 11 do Pros e 10 do PCdoB.
A
montagem do governo pode fortalecer a candidatura do petista, embora os
ministérios a serem ocupados pelo PMDB favoreçam Cunha. Uma terceira
candidatura está se consolidando: a do líder do PSB, Júlio Delgado (MG).
Pode ser engrossada pelo lançamento do Bloco Esquerda Democrática, com
67 deputados, formado por PSB (34), SD (15), PPS (10) e PV (8), que
pretende atuar como uma federação para disputar as eleições municipais,
embora essa questão não esteja fechada. O bloco passou a ser a terceira
bancada da Câmara.
Tudo indica que a disputa pelo comando da
Câmara tende a estressar a coalizão de governo, dificultando a vida de
Dilma Rousseff, mesmo que Eduardo Cunha venha a ser derrotado. De
qualquer forma, pelo andar da carruagem, nem chamando Papai Noel teremos
um governo novo. O novo ministério terá a cara do velho
“presidencialismo de coalizão”.
O novo viés econômico, pautado
pela austeridade, que parecia ser a grande mudança a ser feita no
segundo mandato de Dilma Rousseff, será muito contingenciado pelo
mandato que se encerra: o Orçamento está engessado pelo grande número de
ministérios, programas e cargos comissionados; o fisiologismo da base
só tende a aumentar devido às eleições municipais; e a nova equipe
ministerial, tudo indica, será pouco solidária quanto ao ajuste nos
gastos públicos.
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