Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 21/22/2014
Não
apenas os empresários e executivos envolvidos no escândalo estão
virando suco, as empresas também começam a derreter
A presidente Dilma Rousseff
resolveu tirar por menos a crise da Petrobras. Avalia que recuperou a
popularidade perdida às vésperas das eleições e que teria, hoje, em vez
de três milhões, entre seis e sete milhões de votos de vantagem em
relação à oposição. Esse seria o contingente eleitoral que havia migrado
para o candidato de oposição Aécio Neves (PSDB), no segundo turno, em
razão do envolvimento do PT no escândalo.
Além disso, Dilma
acredita que fatura mais do que perde com as investigações da Operação
Lava-Jato e que não precisa de pressa para definir a participação da
base em seu governo, o que inclui não só o PMDB e o PP, mas também o PT —
os três partidos que mais sangram com o escândalo. Por essa razão,
também mandou a amiga Graça Foster dizer que permaneceria à frente da
Petrobras, enquanto ela, Dilma, assim bem entendesse. E não encontra um
substituto adequado para segurar o rabo de foguete.
A pesquisa do
Ibope sobre a imagem do governo divulgada na semana passada — 40% de
“bom e ótimo”, 32% de “regular” e 27% de “ruim ou péssimo” — fundamenta a
crença presidencial. Essa leitura pode ser fruto das avaliações do
marqueteiro João Santana ou do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, quiça de ambos, mas não importa. Dilma acredita e tem
sustentado essa tese nas conversas políticas e, também, nas atitudes que
vem tomando.
A soberba, porém, pode ter graves consequências.
Entre a imagem do governo e o futuro imediato do país, há muito mais do
que as pesquisas mostram. Dilma apostou em um modelo macroeconômico no
qual o papel decisivo é a intervenção do Estado na atividade econômica.
Seu vértice é formado pela Petrobras, por seus fornecedores e os
principais bancos públicos e privados do pais. É aí que mora o perigo.
O cluster
A
crise da Petrobras pode derivar para o colapso do modelo de capitalismo
de Estado que adotou, cuja sustentabilidade depende da manutenção dos
níveis de emprego, renda e consumo da população, além de um cenário
externo favorável, o que não é o caso da conjuntura mundial. A Petrobras
é responsável por aproximadamente 10% do PIB do país, considerando-se
não somente a produção, mas também os investimentos e as obras. Sua
dívida de US$ 110 bilhões compromete um terço das nossas reservas cambiais.
Ao contrário de outros setores da economia, que o governo
não têm como controlar diretamente, a estatal cumpriu o papel de âncora
da política de investimentos e da política industrial, ao longo do
governo Lula e no primeiro mandato de Dilma Rousseff, além de ajudar a
segurar a inflação subsidiando os combustíveis. O cluster que se formou
em torno da estatal, porém, acabou se transformando em um cartório
empresarial corrupto e corruptor, que agora implodiu.
Devido ao
modus operandi revelado pela Operação Lava-Jato, estão à beira do
precipício seis das maiores construtoras do país; outras duas também
podem ser arrastadas para ele, além de dezenas de empresas fornecedoras
da estatal. Alguns dos principais empresários e executivos do setor
estão presos, outros processados, os negócios estão parados e as
empresas começam a rescindir contratos e promover demissões em massa.
Não
apenas os empresários e executivos envolvidos no escândalo estão
virando suco, as empresas também começam a derreter. Estão sendo
rebaixadas pelas agências de risco e fundos de investimento, o que
coloca em xeque a saúde financeira. Os bancos também começam a cair na
real: até março vencem cerca de R$ 4 bilhões em empréstimos para as
empreiteiras. O crédito para as operações do setor da construção pesada
pode simplesmente desaparecer. A própria Petrobras, se não publicar o
balanço até o fim do mês, terá de antecipar a liquidação de títulos que
emitiu.
É ingenuidade acreditar que a Petrobras sairá ilesa desse
processo, assim como os responsáveis pela gestão da empresa ao longo
dos últimos anos. A narrativa oficial de que tudo está sendo apurado
pelo Palácio do Planalto e que a empresa não está em risco, como vimos,
não se sustenta nos fatos. Além disso, alguns dos principais
responsáveis pela articulação da base do governo no Congresso estão
entre as três dezenas de políticos envolvidos no escândalo. Eis mais um
capítulo da crise.
Dilma Rousseff joga com o enfraquecimento dos
aliados para dar as cartas nas alianças de seu governo. É um jogo de
risco, pois mira o eleitorado da oposição mesmo sabendo que não terá o
apoio dos representantes eleitos. De imediato, não tem o que temer
quanto aos aliados em apuros, pois estão de joelhos e muitos deles
certamente acabarão com o pescoço na guilhotina. Mas há de se considerar
que a bonança acabou. Todos os analistas apostam que o ajuste fiscal de
R$ 100 bilhões e a alta dos juros previstos vão jogar o país na
recessão em 2015. É aí que a popularidade da presidente da República pode ser volatilizada.
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