quarta-feira, 29 de junho de 2011

Inferno astral

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), vive um inferno astral. Em todos os sentidos, inclusive familiar. Por muito pouco, deixou de ser um dos passageiros do helicóptero Esquilo de prefixo PR-OMO, que caiu em Porto Seguro (BA) e fez sete vítimas, entre as quais a namorada de seu filho. Os jovens namoravam havia oito anos. Supostamente, o aparelho pertencia ao amigo de Cabral e empresário Marcelo Mattoso de Almeida, que morreu no acidente.

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A tragédia tornou públicas as relações pessoais do governador fluminense com o empresário Fernando Cavendish, presidente da Delta Construções, um dos sócios da empresa First Class Group Administração e Participação Ltda., dona do Jacumã Ocean Resort. Esse também era o destino de Cabral, que aguardava o retorno do helicóptero que caiu para nele embarcar com o próprio filho.

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Essas relações pessoais com um empresário que tem grandes contratos com o governo fluminense, entre eles a reforma do Maracanã, avaliada em R$ 1 bilhão, serviram de senha para uma ofensiva da oposição contra Cabral. E catalisaram desgastes acumulados e interesses políticos antagônicos. Qualquer avaliação que se faça agora de seu governo deve partir do princípio de que nada será como antes. Nem com os aliados, quem dirá com os adversários.

Solidariedade

Acuado palas críticas da mídia e da oposição, na segunda-feira Cabral quase desistiu de participar da festa de aniversário do matutino carioca O Dia, do qual foi colunista durante muitos anos. A comemoração, porém, acabou se transformando num ato de solidariedade ao governador, a partir da manifestação espontânea do compositor Martinho da Vila (foto), que cantou um samba em louvação ao amigo. A presidente Dilma Rousseff, ao se pronunciar no encerramento do evento, abandonou o texto do discurso para manifestar solidariedade ao aliado. Destacou, principalmente, a mudança na relação entre o governo federal e a administração fluminense, num recado à oposição no estado.

Borrasca

O mar proceloso no qual Cabral agora navega começou com a greve dos bombeiros — crise administrada pelo governo fluminense da pior maneira. A dificuldade para enfrentar situações adversas se repete agora. O ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ), com aliados em diversos setores da administração, vasculha as entranhas dos contratos do governo e os registros de viagens de Cabral no Departamento de Aviação Civil para fazer o assunto render. O ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM) também está na ofensiva.

Esfriou//

Os deputados governistas já reclamam da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Na semana passada, ela havia sinalizado positivamente sobre a possibilidade de renovação do decreto que prorrogava o prazo dos restos a pagar. Ontem, Ideli jogou um balde de água fria nas pretensões dos parlamentares e avisou que o governo não pretende estipular nova data.

Entulho

A presidente Dilma Rousseff considera as emendas parlamentares de 2009 a 2010 um entulho orçamentário, como os demais restos a pagar que não estão entre as prioridades de seu governo. Prefere gastar com as obras em andamento e não com as que sequer foram licitadas. O decreto que prevê a liberação dessas emendas vence amanhã. Custo: R$ 1,8 bilhão

Pura física

O cancelamento dos restos a pagar pode gerar nova crise para o Palácio do Planalto com os deputados da base, que se articulam para dar o troco na votação da Medida Provisória n° 528, que reajusta em 4,5% a tabela de isenção do Imposto de Renda. Um parlamentar aliado ao Planalto evocou a Terceira Lei de Newton: "É o princípio da ação e reação".

Carona

Os partidos de oposição na Câmara ainda avaliam se pegarão carona e impulsionarão o movimento para dar o troco no governo por conta do cancelamento dos restos a pagar. A avaliação do líder do PSDB na Casa, deputado Duarte Nogueira, do PSDB-SP, é de que a decisão do Executivo atinge diretamente os municípios.

Ameaça/ Para tomar posse como senador no lugar de Marisa Serrano (PSDB-MS), que deixou a vaga para assumir uma cadeira no Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul, o suplente Antônio Russo teve que retornar ao PR. Russo era suplente e tinha deixado o partido, mas foi avisado de que perderia o mandato na Justiça se não voltasse à legenda.

Reincidência/ Ontem foi a quinta vez que o governo tentou emplacar o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para a Copa do Mundo e as Olimpíadas por meio de medidas provisórias no Congresso. Das outras vezes, o Planalto foi obrigado a retirar o RDC dos textos para que as MPs não perdessem a validade. Já relataram a proposta os deputados Edmilson Valentim (PCdoB-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Hugo Leal (PSC-RJ) e Daniel Almeida (PCdoB-RJ). O relator atual da MP é o deputado José Guimarães (PT-CE).

Obras/ A Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado, presidida pela senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), realiza hoje, às 14h, audiência pública para debater o RDC. O ministro do Esporte, Orlando Silva, confirmou presença.

Revista/ A Fundação Verde Herbert Daniel, órgão de formação política do PV, lança hoje, no Salão Nobre da Câmara, às15h, a revista Pensar Verde, veículo de debates do partido. Marina Silva não colaborou com artigo para a edição.

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