Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 16/06/2015
No Palácio do Planalto, o temor é que o veto seja
derrubado pelo Congresso, onde o senador Paulo Paim (PT-RS) articula um
movimento contra o fator previdenciário, envolvendo governistas como ele e a oposição.
Está disposto a deixar seu próprio partido pela causa
A presidente Dilma Rousseff não
dorme desde o Congresso do PT. Conseguiu conter as críticas públicas dos
correligionários ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas não evitou a
encruzilhada em que se encontra: seguir o rumo pretendido pela legenda
ou a direção que escolheu para combater a crise. O ajuste fiscal, sempre
ele, sinaliza na direção do combate à inflação e ao déficit público,
mas a militância petista reivindica o combate ao desemprego e a
manutenção dos direitos sociais e trabalhistas. A escolha foi adiada no
congresso, mas Dilma tem 24 horas para decidir o rumo a tomar. Ou
melhor, se veta ou não o fim do fator previdenciário, uma espécie de
fronteira entre o ajuste ou o desajuste, do ponto de vista da equipe
econômica.
O risco de sancionar a lei que permite aos brasileiros
se aposentarem com o valor integral do benefício pela chamada fórmula
85/95 (soma da idade e do tempo de contribuição para mulheres e homens,
respectivamente, uma velha reivindicação dos aposentados e do movimento
sindical), segundo os técnicos do Ministério da Previdência, é gerar um
gasto extra para a Previdência estimado em R$ 3,2 bilhões em 2060. A
fórmula aprovada pelo Congresso é uma excelente alternativa para os
trabalhadores que estão prestes a se aposentar, mas representaria um
desastre para s gerações futuras, segundo o ministro da Previdência,
Carlos Gabas.
No Palácio do Planalto, o temor é que o veto seja
derrubado pelo Congresso, onde o senador Paulo Paim (PT-RS) articula um
movimento contra o fator previdenciário, envolvendo governistas como ele e a oposição.
Está disposto a deixar seu próprio partido pela causa. Diante disso, o
cálculo é saber se Dilma ganha mais jogando para a arquibancada ou com a
derrota política. Domou os insatisfeitos com o ajuste no congresso do
PT, mas não conseguiu enquadrar os sindicalistas da CUT, que estão
perdendo suas bases sindicais para outras centrais e partidos de
esquerda radical, como o PSol e o PSTU.
O presidente nacional da
Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, por exemplo, faz
aberta oposição ao ajuste. Condicionou o apoio da central ao governo: “A
presidente precisa fazer duas coisas importantes para ter o apoio que
ela solicitou da área petista do movimento sindical. Vetar o PL 4330
(projeto de lei da terceirização) e sancionar o 85/95. Com estas duas
medidas, ela vai ter nosso apoio irrestrito”, disse. Vagner ainda sonha
com aumentos do salário real, mesmo numa situação em que os
trabalhadores estão acuados pelo desemprego. “Os trabalhadores não podem
dar apoio a uma política econômica em que eles não têm aumento de
salário”, afirmou.
Responsabilidade
Mas as
agruras de Dilma não param nisso. Amanhã, o Tribunal de Contas da União
(TCU) julgará as contas de 2014. Não há precedentes de rejeição de
contas de um presidente da República, porém, desta vez o risco existe
porque os ministros estão divididos quanto ao assunto. O “xis” da
questão é a legalidade das chamadas “pedaladas fiscais”, as manobras
feitas por Dilma durante o ano passado para burlar a Lei de
Responsabilidade Fiscal e vencer as eleições gastando mais do que o
governo arrecada. A decisão do presidente do TCU, Aroldo Cedraz, que só
vota para desempatar, pode pôr a presidente na berlinda, pois a
caracterização de crime de responsabilidade repõe na pauta do Congresso
uma palavra maldita: o impeachment.
As consequências do oba-oba
eleitoral do ano passado, porém, são generalizadas. Em 22 das 27
unidades da Federação, a despesa com funcionalismo já é maior do que
44,1% da receita líquida, um dos limites da Lei de Responsabilidade
Fiscal, em consequência da queda na arrecadação e do aumento na folha
salarial. Mato Grosso, Tocantins, Rio Grande do Norte e Alagoas
ultrapassaram, no fim de abril, o limite máximo de gastos com
funcionalismo estabelecido pela lei (49% da receita corrente líquida).
Mais 18 estados estão próximos desse teto. Ou seja, a maioria dos
governadores corre risco de inelegibilidade ou cassação por causa do
déficit nas contas públicas. Como isso dificilmente ocorrerá, o faz de
conta de Dilma no ano passado pode se generalizar neste ano,
estendendo-se não só aos estados como também às prefeituras.
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