Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 11/06/2011
A
presidente Dilma Rousseff conseguiu sair do canto do ringue, mas a
tensão entre o PMDB e o PT aumentou, em vez de diminuir, por causa do
ajuste fiscal
O
Palácio do Planalto evitou uma derrota acachapante ontem ao adiar a
votação da medida provisória que acaba com as desonerações tributárias
sobre a folha de pagamentos.
O acordo entre o líder do governo, José
Guimarães (PT-CE), e o líder do PMDB, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), foi
providencial, pois um resultado adverso sinalizaria, simultaneamente, a
fragilidade do dispositivo parlamentar montado pelo vice-presidente
Michel Temer e a dificuldade de o governo levar adiante o ajuste fiscal.
Picciani
defende que os setores de transportes, comunicação, tecnologia da
informação e produtores de alimentos para a cesta básica mantenham os
privilégios tributários. O governo, porém, não quer abrir nenhuma
exceção.Trocando em miúdos, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy,
quer que as empresas que pagam alíquota de 1% de contribuição
previdenciária sobre a receita bruta ao Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS) passem a arcar com 2,5% e os setores que hoje estão na
alíquota de 2% passem a contribuir com 4,5%.
Espera arrecadar R$ 12,5
bilhões com a medida, compensando assim os gastos que não conseguiu
cortar no Orçamento da União. Assim como o PT resistiu ao ajuste na área
social, o PMDB também refuga o apoio na área tributária. Está em
sintonia com o forte lobby empresarial capitaneado pelo presidente da
Fiesp, Paulo Skaf, que foi candidato ao governo de São Paulo pela
legenda.
O líder do governo, José Guimarães, não esconde o desejo
de que Levy recue e aceite as exceções. Segundo ele, a Fazenda deveria
ceder e concordar que o projeto crie exceções e mantenha o benefício
para algumas áreas: “Às vezes, se perde um anel do mindinho para não
perder os dedos”, disse. Além das exceções, o PMDB deseja que a nova
legislação tributária somente entre em vigor em dezembro, enquanto o
governo pretende começar a cobrança em 90 dias para cobrir o rombo no
caixa. A negociação dessas desonerações é um capítulo à parte do
lusco-fusco da crise.
Lento e gradual
A
presidente Dilma Rousseff conseguiu sair do canto do ringue ao delegar
ao vice-presidente Michel Temer a coordenação política do governo. Mas a
tensão entre o PMDB e o PT aumentou, em vez de diminuir, por causa do
ajuste fiscal, o que gera instabilidade política. O estresse maior ainda
está por vir na votação do Orçamento da União de 2016. Para Levy, o
Orçamento é o principal instrumento de execução do ajuste fiscal, com
uma meta de superavit primário de 1,5%, já antecipada no ano passado. O
PT e o PMDB, porém, consideram essa meta inalcançável.
No Senado,
os políticos governistas querem reduzir a meta de superavit para algo
em torno de 1%, o que será um péssimo sinal para o mercado. O PSDB, que
vem se posicionando contra o governo mesmo em questões de mérito que
coincidem com suas posições históricas — como foi o caso do fator
previdenciário —, negocia um acordo com o PMDB para atenuar a situação
de insolvência de governos estaduais e prefeituras.
Também quer impedir o
governo federal de criar programas e repasses de encargos a estados e
municípios — incluídos os pisos salariais de funcionários públicos —,
sem os recursos correspondentes; obrigar o governo federal a reinvestir
na área de saneamento básico toda a receita de tributos recolhidos nesse
setor; e punir gestores federais responsáveis pelos atrasos nas
transferências de recursos do SUS e de fundos de compensação de isenções
fiscais concedidas às exportações.
Esse lusco-fusco na aprovação
do ajuste pode ser uma grande armadilha para o próprio governo. Um
velho princípio da política, enunciado por Nicolau Maquiavel, diz que o
mal deve ser feito de uma só vez. Economistas ortodoxos são unânimes em
avaliar que quanto mais duro for o choque fiscal aplicado à economia
mais rápida será sua recuperação, o que é uma velha receita liberal.
O
ajuste fiscal em curso está sendo lento, gradual e o mais suave
possível, o que fará com que a recuperação seja mais lenta. A prova
disso é que a inflação continua em alta, embora os efeitos da recessão
já se façam sentir na redução da atividade industrial e no desemprego, o
que provocará nova elevação da taxa de juros. É um jogo que a oposição
topou fazer porque aposta no desgaste do governo a longo prazo. O PT
também porque imagina que isso salvará sua base social tradicional,
embora o governo Dilma continue com altas taxas de desaprovação até o
fim do mandato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário