Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 10/06/2015
Corre o risco de perder a Prefeitura
de São Bernardo do Campo, cidade que vive um dos seus piores momentos,
pois o ajuste fiscal atingiu em cheio a indústria automobilística, e
teme a não reeleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, cuja
administração continua com muita rejeição
O PT vai para seu quinto congresso
desarvorado, mais até do que no encontro posterior às eleições de 1994,
quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era o favorito
disparado para a sucessão de Itamar Franco e acabou perdendo para
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), porque permaneceu na oposição e
apostou no fracasso do Plano Real.
Qual é a diferença entre uma situação
e outra? Àquela época, o PT era contra tudo e contra todos, prometia
renovar a política, moralizar a vida pública e mudar o país; hoje, o PT
está no poder, mas jogou o país na recessão, a inflação e o desemprego
estão de volta, a política parece tomar um rumo conservador e o partido
está se afogando no pântano, em meio a escândalos de corrupção.
A
cúpula petista se digladia. O atual presidente Rui Falcão nem tem o
mesmo carisma do ex-governador Tarso Genro, que lidera a oposição e
propõe uma guinada à esquerda ao partido. Quem segura as pontas é o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que opera uma manobra no mínimo
ambígua em relação à presidente Dilma Rousseff. De um lado estimula a
CUT, o MST e outros movimentos atrelados à legenda no sentido de
combaterem o ajuste fiscal proposto por Joaquim Levy; de outro, tenta
evitar que o PT retire o apoio parlamentar à aprovação do pacote
recessivo pelo Congresso.
Sob pressão, o ponto de encontro entre
as alas petistas é a apresentação de propostas que resgatem a velha
narrativa “pobres contra ricos”, “trabalhador contra o patrão” e
“patriotas contra entreguistas”. Vêm aí resoluções a favor da recriação
da CPMF, do imposto sobre herança e grandes fortunas e de uma nova
matriz tributária, menos regressiva. Lula mitiga as críticas mais duras
ao ajuste fiscal e ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com a aprovação
de uma “agenda de desenvolvimento” que resgate a esperança. Não quer
que o PT chegue ao sábado, dia do encerramento do congresso, como uma
força descolada do governo e em aberta oposição à presidente Dilma
Rousseff.
Nau à deriva
Os estrategistas do
Palácio do Planalto avaliam que a presidente Dilma não recuperará sua
popularidade antes das eleições de 2016. A expectativa é de desastre
eleitoral no pleito municipal. Em reunião com o ex-presidente Lula, em
Brasília, há duas semanas, Dilma ouviu do marqueteiro João Santana que
sua popularidade não sairá da lona antes disso.
É nesse cenário que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva opera uma linha de resistência
para a legenda em São Paulo. O PT corre o risco de perder a Prefeitura
de São Bernardo do Campo, cidade que vive um dos seus piores momentos,
pois o ajuste fiscal atingiu em cheio a indústria automobilística, e
teme a não reeleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, cuja
administração continua com muita rejeição.
O prefeito Luiz
Marinho (PT), com popularidade em baixa por conta da falta de execução
de obras e cortes no serviço de merenda escolar, ainda administra uma
luta fratricida entre seu poderoso secretário de Serviços Urbanos,
Tarcísio Secoli, e o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, para ser o
candidato petista à sucessão municipal. O ministro da Saúde, Arthur
Chioro, corre por fora, mas é o deputado federal Alex Manente (PPS), por
pura ironia, quem lidera as pesquisas de opinião na disputa municipal,
chegando a 39,3% das intenções de votos contra os petistas.
Para
salvar Haddad, Lula quer que a presidente Dilma Rousseff libere R$ 8
bilhões em verbas federais para obras na capital paulista, na contramão
do corte de R$ 69 bilhões no Orçamento da União anunciado pelo governo. A
maior dor de cabeça do petista é a senadora Marta Suplicy, que deixou a
legenda e se movimenta com desenvoltura como candidata: na periferia da
capital, deixou um legado reconhecido pela população pobre,
principalmente na educação; na classe média, é aplaudida pelo rompimento
com o PT.
A estratégia de Lula é isolar a petista e manter a aliança do
PMDB, do PDT e do PSB com Haddad, que tem o apoio de Gabriel Chalita,
Luís Antônio Medeiros e Luiza Erundina, respectivamente. São Paulo é uma
espécie de laboratório eleitoral para Lula, que mira a própria volta ao
poder em 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário