Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 01/07/2014
Aécio escolheu um paulista de São José do Rio Preto que obteve 11
milhões de votos no estado, ou seja, um nome capaz de fortalecer sua candidatura no maior colégio
eleitoral do país.
O candidato tucano Aécio Neves
finalmente escolheu o seu vice e, assim, completou a chapa do PSDB à
Presidência da República, uma coalizão formada ainda pelo DEM, pelo PTB e
pelo Solidariedade, além dos nanicos PTC, PTN, PMN e o PTdoB. Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP), companheiro de bancada no Senado, foi o nome
da preferência de Aécio, depois de uma semana e meia de muito suspense. A
opção reforça a estratégia de consolidar a unidade interna do PSDB e
obter a maior votação possível em São Paulo, cujo governador, Geraldo
Alckmin, também tucano, candidato à reeleição, abriu o palanque para o
candidato do PSB, Eduardo Campos. O estado tem 31 milhões de eleitores, o
dobro de Minas, com 15 milhões.
Diante das contingências eleitorais, Aécio fez uma escolha pragmática.
Havia a possibilidade de compor a chapa com um tucano nordestino, o
ex-senador Tasso Jereissati, mas, com ele, a melhor opção foi construir
um palanque no Ceará, terceiro estado em importância da região, com o
senador Eunício Oliveira (PMDB), que disputa o governo do estado contra o
candidato dos irmãos Cid (o governador) e Ciro Gomes, o petista Camilo
Santana. Tasso vai disputar o Senado.
A outra opção no Nordeste
seria o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), porém, o
fortalecimento da chapa no Rio Grande do Norte de nenhuma forma
compensaria seu enfraquecimento em São Paulo. Hoje, a força do DEM está
concentrada na Bahia, o terceiro colégio eleitoral do país, com 10
milhões de eleitores, mas as principais lideranças da legenda no estado
não poderiam ocupar a vice: o prefeito de Salvador, ACM Neto, está no
primeiro mandato, e o ex-governador Paulo Souto lidera a corrida ao
governo da Bahia, garantindo-lhe um palanque robusto no estado.
Para Aécio, Aloysio Nunes não é apenas um homem para ser
vice-presidente da República: “É um nome que, em qualquer eventualidade,
está absolutamente preparado para presidir o Brasil. A qualidade
intelectual dele é inegável. A postura política irretocável é respeitada
inclusive por adversários. Essas qualidades fizeram com que chegássemos
a essa decisão, que, politicamente, parece-me acertada e, do ponto de
vista pessoal, alegra-me muito”, disse.
Eis o xis da questão:
Aécio escolheu um paulista de São José do Rio Preto que obteve 11
milhões de votos no estado, ou seja, um nome capaz de substituir a outra
alternativa que se colocava para fortalecer a chapa no maior colégio
eleitoral do país, o ex-governador José Serra. Assim, contempla o grupo
serrista e ainda mantém uma ponte com o grupo do ex-prefeito Gilberto
Kassab. O presidente do PSD é aliado de Serra, mas decidiu apoiar Dilma
Rousseff e o candidato do PMDB ao Palácio dos Bandeirantes, o empresário
Paulo Skaf, porque não foi contemplado com a vice de Alckmin, de quem
sempre foi desafeto. O vice é o deputado Márcio França, do PSB.
O príncipe
Aloysio Nunes, 69 anos, começou a atuação
política aos 18, na Faculdade de Direito de São Paulo, como militante
do PCB. Aderiu, porém, à dissidência de Carlos Marighella e Joaquim
Câmara Ferreira, que formaram a Aliança Nacional Libertadora(ANL) e
lideraram a guerrilha urbana no país. Foi motorista de uma das ações
mais espetaculares do grupo: o assalto ao trem pagador da Estrada de
Ferro Santos-Jundiaí, que rendeu à guerrilha NCr$ 108 milhões (cerca de
US$ 21.600 à época), dinheiro suficiente para o pagamento de todos os
funcionários da ferrovia.
Enviado a Paris por Marighella, Aloysio filiou-se ao Partido Comunista
Francês e, depois, voltou ao PCB, que o enviou à escola de quadros do
PCUS em Moscou, para estudar O Capital, de Karl Marx, a bíblia marxista.
Após a anistia, em 1979, voltou ao Brasil e filiou-se ao PMDB. Iniciou
uma vitoriosa carreira política, que o levou ao rompimento com o PCB,
com ex-deputado federal Alberto Goldman, seu amigo. Foi deputado
estadual e vice-governador. Em 1992, disputou a prefeitura de São Paulo e
perdeu para Paulo Maluf. Cinco anos depois, deputado
federal, filiou-se ao PSDB. Foi ministro da Justiça e secretário-geral
da Presidência no governo de Fernando Henrique Cardoso. Eleito com
11.189.168 votos (30,42% dos válidos) em 2010, tornou-se o senador mais
votado do país.
Aloysio foi dos primeiros integrantes do grupo serrista a assumir a
candidatura de Aécio. Ao agradecer o convite para a vice, lembrou O
príncipe, obra seminal da teoria política: “O Maquiavel tem uma
reputação sulfurosa, mas dizia o seguinte: que o sucesso da política
depende de dois fatores: a fortuna e a virtú. A fortuna são as condições
objetivas, condições que, em grande medida, não dependem de nós. E as
condições objetivas que vivemos hoje apontam profundo desejo de mudança
do povo brasileiro. Essa é a realidade política marcante, que foi,
inclusive, fator de desagregação do bloco que governa o país há tanto
tempo. O Brasil quer mudar, quer um governo diferente, quer um novo
fôlego, um novo impulso, um novo curso para a nossa vida política. E o
Aécio conseguiu encarnar esse desejo. E aí entra a virtude”.
Um comentário:
Muito clarividente como sempre a sua análise amigo Azedo.
Abcs
Lino
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