domingo, 20 de julho de 2014

A sorte está lançada

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 20/07/2014

Nova queda nas pesquisas e simulações que apontem a eventual derrota de Dilma Rousseff no segundo turno podem provocar uma crise séria na campanha da petista antes do início do horário eleitoral 

A contradição principal da candidatura da presidente Dilma Rousseff já não está no confronto entre sua coalizão de governo e a oposição, mas na disputa interna entre o grupo palaciano e as forças que lhe dão sustentação. Nesse contexto, a expectativa de poder gerada pela possibilidade de um novo mandato, em caso de risco de segundo turno, funciona como um fator de desagregação de sua base e não o contrário, como seria a lei natural.

É aí que a última pesquisa de opinião do instituto DataFolha, realizada nos dias 15 e 16 de julho, ou seja, na semana posterior ao final da Copa do Mundo, acende uma luz amarela no alto comando do PT. A sondagem mostra que a possibilidade de realização do segundo turno continua muito alta. Nesse cenário, Dilma estaria tecnicamente empatada com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e sua distância para o ex-governador Eduardo Campos (PSB-PE), num segunda hipótese, também cairia bastante.
 
O resultado é surpreendente diante do formidável êxito obtido pelo governo na Copa Mundo, quando reverteu as expectativas negativas em relação à realização dos jogos da Copa, devido principalmente à segurança oferecida aos torcedores, à conclusão dos estádios e ao bom funcionamento dos aeroportos, que foram reformados.

No cenário estimulado do primeiro turno, em relação à pesquisa anterior, Dilma Rousseff caiu de 38% das intenções para 36% — contra 35% de intenções de votos nos demais candidatos, somados. Isso representa um empate técnico entre a presidente da República, quase a certeza de segundo turno, apesar do alto percentual de voto em branco, nulo ou indeciso (27%).

 Em tese, Dilma ainda pode vencer no primeiro turno. A possibilidade de perder a disputa no segundo, porém, continua crescendo. A petista avança apenas entre 7 e 8 pontos (dependendo do cenário) em relação ao primeiro turno, enquanto Aécio e Eduardo capturam 20 e 30 pontos percentuais, respectivamente, o que é muito surpreendente.

De onde vem esse fenômeno? Muito provavelmente, do alto índice de rejeição que a presidente da República vem registrando: 35%, contra17% e 12% de Aécio Neves e Eduardo Campos, respectivamente. A avaliação do governo também é uma variável desfavorável.

 O percentual “ótimo/bom” do governo caiu 3 pontos percentuais, enquanto o índice “ruim/péssimo cresceu 3 pontos. O governo tem apenas 32% de aprovação, 38% de regular e 39% de ruim ou péssimo. Essa percepção por parte do eleitor puxa a candidata de Dilma para baixo. O desempenho do governo na prestação de serviços à população e os problemas na economia — baixo crescimento, queda na geração de empregos e inflação na faixa dos 6,5% — “desconstroem” a imagem de gestora da petista.

Alea jacta est

A estratégia do marqueteiro João Santana para reverter essa tendência baseia-se numa constante fuga para a frente. No ano passado, após as manifestações de protesto de junho, ele dizia que em dezembro tudo voltaria ao que havia antes. A mesma tese defendeu antes da Copa, apostando — com razão — no sucesso do torneio.

O esforço para resgatar a imagem de gestora de Dilma fracassou até agora. A esperança que resta — que não é desprovida de lógica — é aproveitar a vantagem estratégica em termos de tempo de televisão para reconstruir a imagem de sua administração. 


Dilma terá o maior tempo no horário eleitoral gratuito, que começa em 19 de agosto. Serão 11 minutos e 48 segundos contra 4 minutos e 31 segundos de Aécio e 1 minuto e 49 segundos para Eduardo. Nas inserções com 30 segundos de duração, ainda terá 123 inserções contra 50 e 22, respectivamente, de Aécio e Eduardo.

Dilma faz uma espécie de travessia do Rubicão. Esse rio separava a Gália de Roma, era o limite para aproximação das legiões que voltavam das batalhas. Quando o general Júlio Cesar, governador da Gália, resolveu atravessá-lo, disse: “Alea jact st!”, ou seja, a sorte está lançada. Contrariou o Senado, que mandara desmobilizar seus exércitos, e provocou uma guerra civil, mas destituiu o procônsul Pompeu e assumiu o poder.

Nova queda nas pesquisas e simulações que apontem a eventual derrota de Dilma Rousseff no segundo turno podem provocar uma crise séria na campanha da petista antes do início do horário eleitoral. Há muitos sinais de que uma parte da coalizão governista pretende cristianizá-la. Dilma aposta no tempo de tevê para reverter esse quadro.

Nas disputas regionais, os aliados do PMDB estão coligados com o PT em apenas oito estados (Alagoas, Minas Gerais, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Sergipe e Tocantins) e no Distrito Federal. No Espírito Santo, no Rio de Janeiro, no Acre, no Ceará e na Bahia, o PMDB está aliado ao PSDB; já no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e em Rondônia, os acordos são com o PSB.









Um comentário:

Ademir Pavao disse...

O sonoro grito vindo dos estadios diz tudo, a voz do povo e a voz de Deus. Dilma perdeu credibilidade perante aos brasileiros inclusive para alguns petistas. Devido as doacoes vindas de bolsas, especialmente para as classes menos favorecida, pode ser que ela ira para o segundo turno...com muita sorte, mas certamente nao passara do segundo.