Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 29/07/2014
Aliança do
Atlântico, próxima de Washington, apresentar resultados mais
compensadores para os seus integrantes do que o Mercosul. O Brasil quer recuperar o protagonismo perdido
A
presidente Dilma Rousseff se encontrará hoje em Caracas com seus colegas
da Argentina, Cristina Kirchner; do Uruguai, José Mujica; do Paraguai,
Horacio Cartes; e da Venezuela, Nicolás Maduro, anfitrião do encontro,
para uma cartada decisiva para a política brasileira de comércio
exterior: a proposta de antecipar a “tarifa zero” entre os países do
Pacífico sul-americano.
A intenção do governo é reduzir as alíquotas comerciais nas
transações entre Mercosul e Colômbia, Chile e Peru já no fim deste ano. O
México, o quarto membro da Aliança do Pacífico, ficaria de fora
inicialmente. Pela ideia original, o acordo entraria em vigor só em
2019. Nos últimos anos, o comércio do Brasil com a Colômbia aumentou
300%, com o Peru, 389%, e com o Chile, 200%. O acordo seria um bom
negócio para o Brasil.
Com isso, o Palácio do Planalto também quer zerar o jogo em relação às
críticas que vem sofrendo por causa do impasse nas negociações com os
vizinhos do Mercosul em detrimento de um acordo com a União Europeia
(UE). Quem paga o pato pela demora são as empresas brasileiras, à beira
da recessão.
Na semana passada, o presidente da UE, o português
Durão Barroso, em visita ao Brasil, disse que estamos perdendo uma
grande oportunidade ao não assinar um acordo comercial com a Europa, a
exemplo do que fizeram os países da Aliança com o Pacífico.
O Palácio do Planalto não digeriu a crítica e vazou que o acordo não foi
assinado a pedido de Angela Merkel, chefe de governo e chanceler alemã,
que é quem realmente manda nas decisões econômicas da União Europeia.
Em fim de mandato, Durão teria falado demais.
Há, porém, nos
meios políticos, empresariais e diplomáticos, muitas restrições aos
rumos da política externa brasileira, que estaria sendo ditada pelo
assessor especial Marco Aurélio Garcia, a partir de uma lógica que
apostava no declínio da hegemonia norte-americana, na estagnação
europeia e na emergência dos chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul) em razão da crise mundial.
Para esse setores, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo seria uma espécie
de rainha da Inglaterra, embora seja mais afinado com a presidente
Dilma Rousseff do que o antecessor Antônio Patriota, atual representante
permanente do Brasil na ONU. Quem formula a política externa não seria o
corpo diplomático do Itamaraty, mas o histórico dirigente petista.
Protagonismo
Figueiredo
está incomodado com essas críticas e com o fato de a Aliança do
Atlântico, próxima de Washington, apresentar resultados mais
compensadores para os integrantes do que o Mercosul. Com a "tarifa zero",
acredita, o Brasil recuperaria o protagonismo perdido.
A "tarifa zero" criaria um mercado diferenciado para os produtos da zona
em relação aos chineses, que são os grandes concorrentes da indústria
regional, principalmente a brasileira. O Mercosul representa 72% do
território, 70% da população, 80% do PIB, 58% dos investimentos
estrangeiros diretos e 65% do comércio exterior da América do Sul.
Um
dos complicadores da reunião é a grave situação econômica da Argentina,
que ameaça decretar uma nova moratória por causa dos chamados fundos
abutres. Se isso ocorrer, tanto a proposta de "tarifa zero" como o acordo
comercial com a União Europeia subirão no telhado.
O governo da Argentina negocia em Nova York com credores, depois de
perder uma ação na Justiça no valor de US$ 1,3 bilhão para os referidos
fundos, que participaram de dois planos de renegociação da dívida
argentina após a moratória de 2001.
Faixa de Gaza
Também
está na pauta dos chefes de Estado a questão da Faixa de Gaza, objeto
de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, ontem, determinando um
cessar-fogo imediato, cujos termos são contestados tanto por Israel
como pelo Hamas. É provável a aprovação de uma dura condenação à Israel.
A propósito, Dilma Rousseff reiterou ontem as críticas ao governo de
Israel por causa dos “ataques desproporcionais” ao Hamas, na Faixa de
Gaza, mas esclareceu que chamou o embaixador em Tel-Aviv do Brasil para
ter mais informações sobre a crise do Oriente Médio e que ele voltará ao
posto em breve. Ou seja, o Brasil vai preservar as relações
diplomáticas com o governo do conservador líder do Likud, Benjamin “Bibi
Netanyahu.
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