Nas Entrelinhas:Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 30/07/2014
A radicalização também é uma tentação para a presidente da República,
porque empolga os petistas que se sentem acuados por causa do escândalo
do mensalão. O PT vibra quando Dilma parte para cima dos adversários
A maior celeuma na cúpula da
campanha da presidente Dilma Rousseff é sobre como enfrentar a rejeição
de 35% dos eleitores, que seria a origem da grande transferência de
votos para os adversários na eventualidade de um segundo turno. Todas as
pesquisas qualitativas feitas pelo marqueteiro João Santana apontam que
a principal causa dessa rejeição — pasmem —, não seriam nem o PT nem a
avaliação negativa do desempenho do governo, mas a antipatia da
presidente da República.
Isso não significa que o “ódio ao PT”, como gosta de dizer o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a chamada estagflação (baixo
crescimento com alta da inflação) não estejam entre os grandes problemas
que ameaçam inviabilizar a reeleição de Dilma. A questão é que Dilma
precisa reduzir a rejeição para debater essas questões. E, diante da
situação atual, será muito difícil encarar esse debate sem atacar os
adversários, o que pode cristalizar e até aumentar a rejeição da
presidente da República.
A aposta do marqueteiro de Dilma para sair da armadilha é aproveitar os
quase 12 minutos de tempo de televisão à disposição da campanha para
reconstruir a imagem da “Dilminha, paz e amor” que pautou a campanha de
2010. Naquela ocasião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em
pleno exercício do cargo, é que atuou como algoz da oposição. Esse ponto
de vista, porém, não é o mesmo de outros integrantes do estado-maior da
campanha, inclusive o presidente do PT, Rui Falcão.
Disputa política
O episódio envolvendo o Palácio do
Planalto e o ex-ministro Franklin Martins logo após a derrota de 7 x 1
do Brasil para a Alemanha ilustra o que seria o centro das divergências
na campanha, mas foi apenas uma amostra grátis. Na ocasião, foi
publicada uma nota no site Muda Mais que criticava duramente a CBF.
Como a Copa do Mundo não havia acabado, houve uma orientação da cozinha
palaciana para que a nota fosse retirada do ar. Franklin não aceitou a
diretiva. Para pôr fim ao conflito, por decisão de Dilma Rousseff, o
site foi formalmente desvinculado da campanha no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). Mesmo assim, foi preciso a intervenção do ex-presidente Lula para
pôr um ponto final no assunto.
Há mais coisas entre o céu e a terra do que o avião presidencial — o
confortável Aerolula. Esse embate é a ponta de um iceberg no comando da
campanha de Dilma Rousseff, no qual estão em choque uma abordagem mais
sociológica da eleição, na qual o marketing eleitoral é orientado pelas
pesquisas qualitativas, e uma concepção política pautada pela lógica da
radicalização da disputa política, cuja melhor tradução são os ataques
do ex-presidente Lula à “elite branca”.
Dilma fica dividida em relação à polêmica. O temperamento dela coincide
com a estratégia de centrar a campanha eleitoral na suposta disputa
entre dois projetos de país, confrontando os anos de governo tucano com
os da gestão petista. Isso, porém, não resolve o problema da rejeição,
que chegou ao limite, principalmente no Sudeste e no Sul do país. Caso
não consiga reduzi-la, na avaliação do marqueteiro, a reeleição estará
perdida.
A radicalização também é uma tentação para a presidente da República,
porque empolga os petistas que se sentem acuados por causa do escândalo
do mensalão. O PT vibra quando Dilma parte para cima dos adversários,
como fez no segundo turno de 2010, nas vésperas da Copa e nesta semana,
ao reagir às críticas do mercado financeiro — especialmente ao banco
Santander —, por causa da condução da economia.
A imagem de “faxineira e gestora” que Dilma tentou emplacar no primeiro
ano de governo foi desconstruída pelos fatos, principalmente por causa
das alianças que fez para garantir o tempo de televisão e o desempenho à
frente da economia, com intervenções diretas que não deram muito certo.
Diante disso, a estratégia de Santana é operar em duas esferas
eleitorais: uma é a classe média, que está quase perdida, com uma
campanha soft, prometendo mudanças de rota na gestão do país. Outra é o
povão, que se descolou da presidente da República e do PT, para o qual a
tática será explorar o medo da população de baixa renda, com o discurso
de que programas de grande apelo, como o Bolsa Família, estão em risco
em caso de vitória da oposição.
Em ambos os casos, não é uma estratégia nova e pode dar errado. A oposição já está vacinada com a apelação.
Um comentário:
Excelente avaliacao, como sempre, prudente, conciso e realista aos fatos relacionados a campanha presidencial, parabens Azedo, comentarios apartidarios tornam-se indispensaveis leituras, principalmente para mim que estou aqui na Florida, USA.
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