Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 15/04/2014
Dilma tentou construir uma marca própria
para o governo dela, mas não conseguiu: a “faxina” para fechar “os
ralos” da administração levou um chega pra lá do ex-presidente Lula
Os políticos — como quaisquer
seres humanos — se valem de signos para convencer a sociedade dos
próprios objetivos. São empregados para capturar o voto do eleitor nas
campanhas por meio da emoção, e não da razão. Cores, imagens, objetos,
palavras, sorrisos, tudo é válido – desde que transmita alguma
informação capaz de estabelecer sintonia entre o candidato e o povo, sem
ter que dar muitas explicações.
Por exemplo, na sucessão de Juscelino Kubitscheck, em 1960, Jânio
Quadros (UDN/PR/PL/PDC/PTN) usou uma vassoura como símbolo de campanha.
Ela representava o combate à corrupção. O adversário, o marechal
Henrique Teixeira Lott (PSD/PTB/PST/PSB/PRT), optou pelo óbvio: a
espada, que representaria a ordem. Jânio foi eleito com 48% dos votos,
contra 32% de Lott e 19%, de Adhemar de Barros (PSP), candidato cujo
slogan era “rouba, mas faz”.
A campanha eleitoral deste ano ocorre sob o signo da mudança, esse é o
desejo de dois terços do eleitorado, insatisfeitos com a situação do
país. A oposição tenta agarrar esse sentimento difuso na sociedade com
as duas mãos: “Muda, Brasil”, é o slogan do candidato a presidente da
República do PSDB, senador Aécio Neves. Eduardo Campos, do PSB, vai na
mesma linha: “Coragem para mudar”.
Até a presidente Dilma
Rousseff, que busca a reeleição, incorporou a palavra ao slogan de
campanha: “Para o Brasil seguir mudando”. O contorcionismo verbal foi a
fórmula encontrada para tentar capturar esse desejo da sociedade e
defender a continuidade do atual governo.
No começo do mandato, bem que Dilma tentou construir uma marca própria
para o governo dela, mas não conseguiu: a “faxina” para fechar “os
ralos” da administração levou um chega pra lá do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Resultado: a reeleição depende do legado deixado
pelo antecessor. Onde está a mudança? Signos precisam ser traduzidos por
símbolos.
A Copa das Copas
A reunião de
balanço da Copa do Mundo feita por Dilma Rousseff ontem, que reuniu 16
ministros, ilustra a dificuldade do governo para construir sua marca. A
capacidade gerencial de Dilma está sendo questionada pela oposição. O
povo se queixa da saúde, da educação, dos transportes, da energia, da
violência. A “Copa das Copas” seria uma resposta?
Alguém já disse que o sucesso é autoexplicativo. O Palácio do Planalto,
porém, gastou horas de seus ministros para demonstrar que foi muito
competente e tem capacidade de realização. Pelo menos 13 autoridades se
revezaram para contar o que fizeram na preparação e durante a realização
dos jogos.
Foi o troco nos “pessimistas” que fizeram previsões
alarmistas, dentro e fora do país, em relação aos jogos. Todo esforço
subliminar, entretanto, foi para descolar do governo o fracasso
vergonhoso da Seleção Brasileira, que levou uma goleada histórica da
Alemanha por 7 x 1 na semifinal e perdeu a disputa do terceiro lugar
para a Holanda por 3 x 0.
Para o governo, mais importante do que a taça perdida são os 12 novos
estádios e as reformas dos aeroportos, a segurança dos jogos e a
satisfação dos torcedores brasileiros e estrangeiros. A realização do
evento que mais mobilizou o governo Dilma foi uma demonstração da
capacidade do país. A autoestima do brasileiro foi alavancada pelo
torneio.
As pesquisas realmente mostraram, durante a Copa, que a
opinião pública havia virado em relação ao evento. A maioria dos que
antes criticavam, passou a aplaudir o governo. O Palácio do Planalto
aposta que esse sentimento não teria se alterado com as derrotas da
Seleção, embora Dilma tenha sido vaiada e xingada novamente, desta vez
no Maracanã. A falta de educação e o desrespeito da torcida presente ao
estádio não abalaram o governo, foram coisa da “elite branca”.
Quem assistiu pela televisão à cerimônia na qual Dilma fez a entrega da
Copa à seleção alemã não ouviu os apupos, porém, soube da vaia e
percebeu que a presidente da República não estava feliz. De cara feia,
em nenhum momento ela sorriu. Ou seja, o balanço oficial da Copa é uma
coisa; a imagem de Dilma no domingo, outra. É aí que entra o tal do
signo.
Um comentário:
Muito bom Azedo! Como sugestão talvez o melhor simbolo p Dilma e seu Governo fosse uma Carranca do São Francisco. já que nem a transposição conseguiram fazer.
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