Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 08/07/2014
A Copa do Mundo parece ressuscitar o velho Partido dos Brasileiros. Há
uma briga de foice no escuro pelo poder, mas todo mundo torce pela
Seleção e considera o evento um sucesso
A campanha presidencial começou
muito chocha, quase como um acontecimento marginal, fora do tempo e de
lugar, embora seja o que há de mais importante para o futuro imediato
dos brasileiros. A ressaca do jogo de sexta-feira contra Colômbia, no
qual Neymar fraturou uma vértebra ao levar uma joelhada nas costas do
colombiano Zúñiga e ficou fora da Copa, ainda não acabou. O domingo e a
segunda foram dias de grande expectativa para saber quem vai entrar no
seu lugar na Seleção de Felipão.
Os candidatos bem que tentaram
pôr seus times em campo, mas não deu. A presidente Dilma Rousseff (PT)
começou a campanha com um vídeo nas redes sociais e despachos no Palácio
do Planalto; o senador Aécio Neves (PSDB) foi à caça dos votos de São
Paulo; e Eduardo Campos (PSB) saiu atrás dos eleitores de Marina Silva
em Brasília e Entorno. O que fazer depois da Copa? Há dois cenários
possíveis. Mas o povo estava se lixando para isso, não põe o carro à
frente dos bois, só quer saber do jogo de logo mais, contra a Alemanha,
que pode nos garantir um lugar na final da Copa do Mundo.
É difícil tratar da política num dia como hoje, no qual todos os olhos
estão voltados para um campo de futebol, mais precisamente o Mineirão,
em Belo Horizonte. Será uma festa cívica, como os mineiros gostam de
fazer, pois afinal foram eles que fizeram a Inconfidência e produziram o
maior herói nacional, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes. Também engrossaram o Partido dos Brasileiros, que lutou nas
Cortes de Lisboa e no Brasil contra a volta do príncipe regente D. Pedro
a Portugal e, depois, pela Independência.
Até então havia
baianos e paulistas, que não se bicavam desde a Guerra dos Emboabas;
pernambucanos e gaúchos, republicanos e separatistas, depois fizeram a
Confederação do Equador e a Revolução Farroupilha, respectivamente. E os
portugueses, que eram a “elite branca” do Maranhão, do Pará, da Bahia e
da Corte, o Rio de Janeiro. Os escravos não contavam, não tinham
direito a nada. Na verdade, o brasileiro foi uma invenção dos mineiros
contra o Estado colonial português. A nossa Nação formou-se bem mais
tarde.
A Copa do Mundo parece ressuscitar o velho Partido dos Brasileiros. Há
uma briga de foice no escuro pelo poder, mas todo mundo torce pela
Seleção e considera o evento um sucesso. Aquele clima de pessimismo e a
falta de consenso que havia na abertura dos jogos, quando a presidente
Dilma Rousseff chegou a ser vaiada e xingada na Arena Corinthians, em
Itaquera, na Zona Leste da capital paulista, desapareceram. Sumiram nos
braços de Julio César, contra o Chile, e no pé de David Luiz, contra a
Colômbia.
Somente uns gatos pingados ainda protestam nas
imediações dos estádios contra a realização dos jogos. Parecem
masoquistas que não conseguem dormir sem apanhar da PM. Todos os
problemas nacionais foram varridos para debaixo do tapete, o país entrou
em ritmo de carnaval. Dá até vontade de cantar a Aquarela Brasileira,
aquele samba do Silas de Oliveira: “Vejam essa maravilha de cenário/ É
um episódio relicário/Que o artista, num sonho genial/Escolheu para este
carnaval”.
Os críticos do governo estão acuados: os aeroportos deram conta do
recado, os torcedores conseguem chegar tranquilamente aos estádios e a
violência urbana foi relativamente contida pelo dispositivo de
segurança. A presidente Dilma Rousseff subiu nas pesquisas, a vaia caiu
em desgraça, a oposição calou-se nos estádios. Notícia ruim mesmo só a
contusão de Neymar e a punição ao capitão da Seleção, Thiago Silva,
suspenso por um jogo.
Nem a queda de um viaduto em construção em
Belo Horizonte ou o espetacular assalto de ontem ao centro de
distribuição da Samsung, de onde levaram 40 mil tablets e notebooks,
tiram o foco do torcedor. A prisão de um funcionário da Fifa
supostamente envolvido com uma máfia internacional de cambistas tem
muito mais relevância. O Palácio do Planalto comemora a desconstrução do
padrão de exigências da entidade, que azucrinou nossas autoridades e
gerou a onda de notícias negativas na mídia internacional que antecedera
os jogos.
Bom, voltando ao assunto que intitula a coluna, o que acontecerá com a
política brasileira depois da Copa? Depende do jogo de hoje. Sou mais um
torcedor brasileiro: o Brasil deve ganhar e ir para a final, no
Maracanã, contra a Argentina ou Holanda. Prefiro uma disputa contra os
holandeses. Os argentinos estão invadindo o Rio de Janeiro. Se passarem
pela Holanda, vão querer fazer a mesma coisa que os uruguaios na Copa de
1950. Não gosto de pensar no risco de perder para “los hermanos” no
Maracanã. Seria outra humilhação dolorosa. Nunca mais quereríamos ser a
sede da Copa.
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