Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 02/06/2014
De todas as variáveis negativas que
atrapalham a reeleição da presidente Dilma Rousseff, a baixa expansão da
economia é a mais importante, pois, de fato, tornou a eleição uma
disputa aberta
Vinte
anos após o Plano Real, cuja paternidade divide com o presidente Itamar
Franco, Fernando Henrique Cardoso volta à ribalta do processo
eleitoral, em plena Copa do Mundo e na largada da campanha. O
ex-presidente aproveita a efeméride para subir o tom das críticas à
presidente Dilma Rousseff, acusando-a de leniência com a inflação, e
busca resgatar seu legado na condução da economia. Como o PT agarra com
as duas mãos a comparação entre os governos de FHC e do ex-presidente
Luiz Inácio lula da Silva, o debate sobre a inflação ocupa cada vez mais
espaço na disputa eleitoral.
A presença de Pérsio Arida,
ex-presidente do Banco Central (BC) no segundo mandato de FHC, no centro
da campanha do candidato do PSDB à Presidência da República, senador
Aécio Neves, acirra a polêmica. Tanto FHC como o candidato tucano
advertem o risco de descontrole de preços num momento em que o próprio
BC admite que o dragão fugirá da gaiola nos próximos meses, com a
inflação ultrapassando o teto da meta de 6,5%. As previsões são de que
serão necessários dois anos para trazer a inflação de volta ao centro da
meta, de 4,5%, mantidos os parâmetros que hoje o governo adota para
gerir a economia.
Para FHC, o governo menospreza a busca pela redução da inflação,
limita-se a não ultrapassar o teto da meta inflacionária, mas, como há
muitos preços represados por decisão governamental, esse risco aumenta.
“Não creio que seja iminente nem que estejamos diante do que aconteceu
no passado, mas é preciso mudar a atitude leniente e estar sempre de
olho no que já está indexado”, adverte. Essa é a outra face da moeda da
estratégia adotada ainda no governo Lula para enfrentar a crise mundial:
mais crédito público e mais consumo. Como não foi dada a devida atenção
à produtividade e à atração de investimentos produtivos, a conta está
ficando alta. E todos os indicadores da economia, inclusive o superavit
fiscal, preocupam os analistas.
Em campanha para a reeleição, a presidente Dilma Rousseff rebate as
críticas meio na defensiva, mas atirando pra cima do governo de Fernando
Henrique Cardoso. Afirma que as críticas tucanas, traduzidas em ações
governamentais, resultariam em redução do salário real e aumento do
desemprego. Aproveita as oportunidades para ressaltar que o governo
Lula, cujos louros tenta capitalizar, enfrentou a crise com mais
empregos e transferência de renda e não com privatizações de empresas
públicas. Dilma foi eleita graças a essa política, com o Brasil
crescendo, em 2010, a uma taxa de 7,5% do PIB, ao contrário do que
acontece neste ano, em que ela disputa a reeleição, pois a previsão do
PIB para 2014, segundo o BC, não passará de 1,6%.
Efeito Copa
De todas as variáveis negativas que
atrapalham a reeleição da presidente Dilma Rousseff, a baixa expansão da
economia é a mais importante, pois, de fato, tornou a eleição uma
disputa aberta, na qual, porém, a política propriamente dita ganha mais
centralidade. Não é à toa que a candidata petista é obrigada a fazer
acordos humilhantes com pequenos partidos da base, como foi o caso da
substituição do ministro dos Transportes, para ganhar mais tempo de
propaganda na televisão. Enquanto isso, o principal candidato de
oposição, Aécio Neves, nada de braçada nas articulações dos palanques
regionais, minando as bases eleitorais da candidata governista em
grandes colégios eleitorais, como o Rio de Janeiro e o Ceará, onde, na
eleição passada, Dilma esteve absoluta.
O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, candidato do PSB, ao
lado da ex-senadora Marina Silva, também busca sair do confinamento
eleitoral, aproveitando-se do debate sobre a inflação. Dá uma no cravo e
outra na ferradura, ou seja, encampa tanto as críticas dos tucanos ao
atual governo, como a dos petistas ao governo de FHC. É pura política
também o esforço feito pelo Palácio do Planalto para capitalizar a Copa
do Mundo, evento esportivo e turístico internacional cujo sucesso é
indiscutível. Fala-se até que a presidente Dilma decidiu comparecer à
partida final no Maracanã, que vaia até minuto de silêncio, para
entregar o troféu ao vencedor, como reza o protocolo do evento.
Cada vez mais eletrizante, com disputas duríssimas, nas quais as
seleções favoritas — Brasil, Alemanha, Argentina, Bélgica, Colômbia,
Costa Rica, França e Holanda — prosseguem com dificuldades crescentes, a
Copa do Mundo apaixona o país, encantado com a invasão de torcedores
estrangeiros. Ninguém sabe, a rigor, qual será o impacto da Copa no
processo eleitoral, mas pesquisas para aferir o que está acontecendo já
foram para a rua. Assim como havia um cenário pessimista antes da Copa,
depois da euforia atual, teremos uma espécie de volta à calma,
reflexivo, quando será feito o devido balanço do que foi efêmero e do
que é permanente em tudo isso. É aí que entram gastos com estádios, as
obras dos aeroportos, os investimentos em mobilidade urbana e o tema da
violência cotidiana. Nessa hora, a inflação será uma espécie de tara da
balança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário