Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 29/06/2014
O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e a ex-senadora do Acre Marina Silva buscam votos no chamado Sul
Maravilha com um discurso que propõe um novo padrão de desenvolvimento,
mais sustentável e menos desigual
Com a confirmação,
ontem, em Brasília, da chapa Eduardo Campos e Marina Silva, da coligação
“Unidos pelo Brasil”, aliança entre PSB, PPS, PPL, PRP e PHS, a
vantagem estratégica da presidente Dilma Rousseff nas regiões Norte e
Nordeste do país está em xeque. Tanto os dois mandatos do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, como o da atual presidente da República,
candidata à reeleição, que permanece em primeiro lugar nas pesquisas,
podem ser atribuídos ao apoio eleitoral maciço obtido nas duas regiões
nas eleições de 20002, 2006 e 2010. O PT perdeu as eleições nas regiões
meridionais do país.
O ex-governador de Pernambuco e a ex-seringueira do Acre, juntos, são
porta-vozes dos estados da região e buscam votos no chamado Sul
Maravilha com um discurso que propõe um novo padrão de desenvolvimento,
mais sustentável e menos desigual. Levarão as eleições, inevitavelmente,
ao segundo turno, mesmo que não consigam romper a polarização hoje
existente entre o PT e o PSDB, cujo candidato a presidente, senador
Aécio Neves, é o segundo das pesquisas. Ontem, na convenção conjunta de
sua coligação, Eduardo Campos subiu o tom contra o governo Dilma
Rousseff. Criticou as relações da presidente da República com os
partidos de sua base e ironizou os boatos espalhados pelos adversários
de que quereria acabar com o Bolsa Família.
“Vamos acabar com a política rasteira do medo, da difamação, de que
no nosso governo vamos acabar com Bolsa Família. Vamos acabar é com a
corrupção, com o fisiologismo. Nosso governo vai manter estabilidade da
moeda, o Prouni, o Minha Casa, Minha Vida”, disse Campos. Foi duro
também em relação à política econômica de Dilma, que pretende mudar:
“Vamos inverter a equação. Vamos retomar o crescimento sustentável da
economia. Vamos botar a inflação para baixo e o crescimento para cima.
Vamos fazer isso retomando a confiança do Brasil no Brasil e a confiança
do mundo no Brasil”, declarou.
Apesar das contradições entre os pragmáticos do PSB e os “sonháticos” da
Rede nos estados, Campos conseguiu manter ao seu lado Marina, cuja Rede
criou muitas dificuldades para o PSB realizar alianças robustas nos
estados. Conviver com esses conflitos foi a condição para chegar à
convenção com a chapa preservada, apesar das dificuldades eleitorais
registradas nas pesquisas. A ex-senadora do Acre, que é conhecida por
sua militância em defesa do meio ambiente, defende uma política capaz de
aliar o aumento da capacidade de produção com a proteção ambiental.
“Temos o compromisso com a mudança do modelo de desenvolvimento
predatório para o modelo sustentável de desenvolvimento”, enfatizou na
convenção.
Dirigentes e militantes do PSB têm mais simpatias pelo discurso da
Rede do que se imaginava, o que acabou reforçando o rompimento de
algumas alianças pragmáticas, como aconteceu em Minas, onde o PSB lançou
a candidatura do ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado e rompeu o
acordo feito com o tucano Aécio Neves no estado para apoiar Pimenta da
Veiga.
Defensor de tradicionais teses desenvolvimentistas,
Campos assimilou o discurso ambientalista de Marina, acredita que a
aliança com ela pode compensar, em termos de votos, as limitações da
estratégia adotada em alguns estados do Sudeste, onde compartilha o
palanque com os adversários por falta de condições para uma candidatura
própria. No Rio de Janeiro, apoia a candidatura do petista Lindbergh
Farias; já em São Paulo, o PSB indicou o vice do tucano Geraldo Alckmin.
Tempo de tevê
A maior dificuldade da dupla
Eduardo e Marina não será, porém, a fraqueza de suas alianças e de seus
palanques, mas o pouco tempo de televisão. A propaganda para presidente
da República é dividida em dois blocos diários de 25 minutos cada na
tevê e no rádio, três vezes por semana. Um terço desse tempo, ou seja,
oito minutos e 20 segundos, é partilhado igualmente entre todos os
candidatos. O restante é dividido de acordo com o peso, na Câmara dos
Deputados, dos partidos que compõem as coligações. Campos é o que conta
com a menor fatia: possui uma base de 33 deputados e cerca de um minuto e
meio de TV. O pré-candidato socialista contabiliza o tempo do PPS, de
Roberto Freire, e de nanicos como o PSL, o PRP e o PHS. Com o tempo
destinado igualmente aos candidatos, terá pouco mais de dois minutos de
propaganda na tevê e no rádio.
Até agora, PMDB, PCdoB, PROS, PTB, PP, PSD, PR, PRB e PDT, além do PT,
somam 357 dos 513 deputados federais. Com isso, a presidente Dilma pode
ter o tempo de TV quase três vezes maior do que o Aécio Neves,
praticamente seis vezes maior do que o de Campos. Ou seja, terá entre 12
e 13 minutos em rede nacional de rádio e TV, cerca de 45% no tempo
total de propaganda eleitoral. O pré-candidato do PSDB à presidência,
com o apoio do DEM, do Solidariedade, de Paulinho da Força, e do PTB,
tem 99 parlamentares em sua base, o que dá pouco mais de seis minutos de
propaganda.
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