Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 17/06/2014
Na primeira rodada
dos jogos, o alto nível do futebol praticado destoa da baixaria na
nossa política. No momento, o povo não está nem aí para os políticos
No
Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio, dizia Nelson Rodrigues; no
Itaquerão, em São Paulo, além de vaiar, a torcida xingou a presidente
Dilma Rousseff com palavras de baixo calão. A atitude extrapolou o que
seria “normal” numa partida de futebol, ainda mais porque o alvo era a
presidente da República. Havia muitos chefes de Estado na cerimônia, que
foi acompanhada ao vivo por torcedores do mundo inteiro. O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agarrou a vaia com as duas mãos —
se é que isso é possível, mesmo no sentido figurado — e interpretou o
episódio como declaração de guerra das “elites” que “não têm calos nas
mãos” contra o PT e os trabalhadores.
A convenção nacional do
PSDB, no sábado, pôs mais lenha na fogueira. O senador Aécio Neves e o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante o evento, subiram o tom
das críticas ao governo de Dilma Rousseff e ao PT. A resposta de Lula
no domingo, na convenção que homologou a candidatura ao governo de São
Paulo do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, foi um tom acima. O
petista saiu em defesa da presidente Dilma Rousseff e desceu o sarrafo
nos adversários, principalmente em Fernando Henrique, acusando-o de ter
comprado os votos do Congresso que aprovaram a reeleição. De quebra,
disse que os tucanos tramaram seu impeachment por ocasião do escândalo
do mensalão.
Fernando Henrique não deixou barato, ontem repeliu
as acusações: “Lamento que o ex-presidente Lula tenha levado a campanha
eleitoral para níveis tão baixos. Na convenção do PSDB não acusei
ninguém; disse que queria ver os corruptos longe de nós. Não era preciso
vestir a carapuça. A acusação de compra de votos na emenda da reeleição
não se sustenta: ninguém teve a coragem de levar essa falsidade à
Justiça”, escreveu em sua conta pessoal de uma rede social.
A
vaia tirou o PT do sério, embora Dilma mantenha-se afastada dos
estádios; a oposição tira casquinha e avalia que a torcida pela Seleção
Brasileira não se traduz em apoio ao governo. E lembra que o
ex-presidente Lula já usou de ofensas e palavrões para se referir a dois
presidentes da República: atingiu a honra de José Sarney, hoje um
aliado de primeira hora; e também ofendeu o presidente Itamar Franco, em
1993.
Confraternização
Imaginava-se que
a Copa do Mundo congelaria a disputa eleitoral, com a presidente Dilma
Rousseff mantendo distância regulamentar dos jogos e a oposição
mergulhada esperando o resultado final do Mundial — todos torcendo para o
mesmo lado. Não é o que está acontecendo. Além da tabela dos jogos,
existe um calendário eleitoral que movimenta os partidos políticos. As
chapas proporcionais e as coligações para as eleições de governador e
presidente da República precisam ser formadas até o fim do mês. A luta
pelo poder central e nos estados segue o seu curso natural, mesmo com o
torneio.
No Palácio do Planalto, há divergências quanto ao procedimento a ser adotado diante da situação. A estratégia de uma
presença discreta de Dilma na Copa foi por água abaixo depois do que
aconteceu no Itaquerão. Discute-se uma postura mais ofensiva, a partir
de uma avaliação de que a vitória do Brasil contra Croácia desencantou a
torcida brasileira. A ideia é fazer do limão uma limonada. Pesquisas
mostram desaprovação aos xingamentos da torcida e maciço apoio da
opinião pública aos jogadores da equipe canarinho. Além disso, as
cidades sedes da Copa — apesar dos protestos persistentes, mas residuais
— estão em festa com a presença de grande número de torcedores
estrangeiros, todos recebidos de braços abertos.
Na verdade, a
Copa é um sucesso como evento internacional, seja pela presença
expressiva de torcedores de todos os países, seja pelo engajamento da
torcida brasileira. Não houve caos nos aeroportos, os torcedores
conseguem chegar aos estádios com poucos incidentes. E há uma
confraternização geral, que se estende noite adentro. Na primeira rodada
dos jogos, o alto nível do futebol praticado destoa da baixaria na
nossa política. No momento, o povo não está nem aí para os políticos.
Está de olho na Seleção Brasileira. E nas equipes da Alemanha, da
Argentina, da França, da Holanda e da Itália, que também despontam como
candidatas ao título. É nelas que mora o perigo.
2 comentários:
Papo de esquina: Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa. Sapiência popular.
Papo de esquina: Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa. Sapiência popular.
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