domingo, 22 de junho de 2014

Dilma, a candidata

 Nas Entrelinhas; Luiz Carlos Azedo
 Correio Braziliense: 22/06/2014
  
Os dirigentes petistas e a própria Dilma foram duros contra a oposição e sinalizaram uma resposta ideológica na campanha aos desafios enfrentados pelo governo
 
A convenção nacional do PT confirmou ontem a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, num evento marcado pela radicalização do discurso político da legenda e da própria candidata contra os adversários. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva endossou a candidatura, mas deixou no ar, porém, a existência de divergências entre ambos. Em seus discurso, Dilma fez um apelo à militância petista: "Eu preciso, sim, de mais quatro anos para poder completar uma obra à altura dos sonhos do Brasil. Para fazer isso, eu preciso do apoio dos brasileiros, especialmente desta grande militância. Precisamos ir às ruas, contar o que fizemos e o que podemos fazer."

Dilma fez discurso de incompreendida: "Quero falar sobre as grande mudanças que vamos enfrentar. Aliás, não paramos de enfrentar desde o dia em que tomei posse. Se no início a esperança venceu o medo, nesta eleição a verdade deve vencer a mentira e a desinformação", disse. Na verdade, a petista ainda precisa provar aos eleitores que seu governo é uma continuidade dos dois mandatos de Lula, diante dos atuais índices de rejeição à candidata (43%, segundo o Ibope) e da queda na avaliação do governo (31% de ótimo e bom; 34% de regular; e 33% de ruim/pésimo), mesmo com o sucesso da Copa. Ela procurou responder ao sentimento de 45% da população de que o atual governo é pior do que o do ex-presidente Lula (em março, esse percentual era de 42%).

Não se rende
Não foi uma convenção festiva, na linha do "paz e amor" que levou Lula ao poder. Os dirigentes petistas e a própria Dilma foram duros contra a oposição e sinalizaram uma resposta ideológica na campanha aos desafios enfrentados pelo governo na economia, aos desgastes de imagem na opinião pública e à defecção de aliados da base governista. Depois de citar as contingências que enfrentou em decorrência da crise mundial, Dilma anunciou que não pretende mudar o rumo de sua política econômica.

"Não fui eleita para para trair a confiança do meu povo, para arrochar os salários do trabalhador. Essa não é a minha receita, não fui eleita para vender o patrimônio público como fizeram no passado, para mendigar dinheiro para o FMI porque não preciso colocar de novo o país de joelhos como fizeram. Fui eleita, sim, para governar de pé e com a cabeça erguida", disse Dilma. Também procurou capitalizar os desgastes do Congresso e dos políticos na sua proposta de reforma política. Na essência, é o projeto do PT para institucionalizar a sua própria hegemonia no Executivo, mesmo em minoria no Congresso.

"A transformação social promovida pelos nossos governos criou as bases para uma grande transformação democrática e política no Brasil. Nossa missão é dar vida a essa transformação, sem interromper a marcha da transformação social em curso. Eu não vejo nenhum caminho para a reforma política que não passe pela participação popular e que não desague num grande plebiscito", afirmou a presidente. O discurso do "ódio das elites" contra o PT também foi lembrado, numa referências aos xingamentos que sofreu na abertura da Copa do Mundo na Arena Corinthians, em São Paulo.

Volta, Lula!
Lula minimizou as divergências com Dilma, que nos bastidores da base governista e do próprio PT alimentaram o movimento "Volta, Lula!". "A gente vai provar que é possível uma presidenta e um ex-presidente terminarem seu mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois, numa demonstração de que é plenamente possível o criador e a criatura viverem juntos em harmonia. Quando houver divergência entre a Dilma e eu, a divergência termina porque a Dilma sempre estará certa e eu estarei errado", afirmou o ex-presidente. Em encontros com empresários, políticos aliados e dirigentes petistas porém, Lula tem criticado a forma como Dilma conduz a economia e se relaciona com os meios empresariais e políticos. Recentemente, reuniu a cúpula da campanha sem a presença de Dilma para criticá-la.

Com a convenção, o PT só pode trocar de candidato se Dilma desistir da disputa formalmente, mas isso não enterrou de vez as esperanças da turma do "Volta, Lula!". Em termos eleitorais, o prazo para isso é 19 de agosto, quando começa o horário eleitoral; em termos legais, 15 de setembro. Por causa da queda nas pesquisas, Dilma vem perdendo apoio político. Ontem, o PTB rompeu com o governo e anunciou sua adesão ao candidato do PSDB, Aécio Neves. Por essa razão, não deixa de ser surpreendente a estrondosa vaia dos militantes presentes à convenção ao presidente do PSD, Gilberto Kassab, embora o ex-prefeito de São Paulo, até agora, tenha resistido ao assédio do candidato tucano para que indique o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para a vaga de vice na chapa do PSDB.

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